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Capes suspende 14 bolsas de pós-graduação da UFJF

UFJF-Geral
Além de 14 bolsas de mestrado e doutorado, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa tema a perda de 38 cotas de doutorado-sanduíche (Foto: Fernando Priamo)
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Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foi mais uma a integrar a política de contingenciamento do Governo Jair Bolsonaro (PSL). A suspensão de bolsas de programas de pós-graduação atingiu 4.798 cotas a nível nacional, conforme anunciado, na quinta-feira (9), em coletiva de imprensa pelo presidente da Capes, Anderson Correia. Beneficiária de convênio, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem 14 bolsas bloqueadas; os programas de pós-graduação em Ciências Biológicas, Educação, Geografia, História, Saúde e Serviço Social foram prejudicados.

Conforme a Capes, pós-graduandos já cadastrados nos sistemas de concessão de bolsas não terão os auxílios cortados; o contingenciamento foi de bolsas consideradas ociosas. “Em maio, o sistema permaneceu fechado para reajuste da concessão de bolsas – recolhimento de bolsas que estavam à disposição das instituições, mas que não estavam sendo utilizadas no mês de abril de 2019 (bolsas ociosas, ou não utilizadas)”, pontua, em nota, a fundação. Das 4.798 cotas suspensas, 1.224 retornarão aos programas de pós-graduação “ainda nesta semana”, segundo Correia. Entretanto, tais cotas pertencem a programas avaliados como de excelência – cujos conceitos são seis ou sete, os mais elevados. A reversão do contingenciamento das demais dependerá “de melhoria da economia do país”.

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Bem como o corte orçamentário imposto às instituições federais de ensino, o congelamento de bolsas de programas de pós-graduação surpreendeu tanto universidades públicas quanto mestrandos e doutorandos. “Estamos extremamente preocupados com o processo como um todo. Não sabemos até que ponto o corte de bolsas será suficiente para a Capes ajustar o seu orçamento. Achamos que outros cortes podem surgir. Isso nos causa muita insegurança. O sistema de pós-graduação no Brasil é bem organizado, constantemente avaliado e com um nível de produtividade altíssimo”, diz a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFJF, Mônica Ribeiro de Oliveira.

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Flávia Calé da Silva, presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), aponta o colapso dos programas de pós-graduação e, consequentemente, da ciência brasileira. “O impacto direto é a paralisação das pesquisas. A maior parte da produção científica nacional se dá na pós-graduação. Se não há pós-graduandos vinculados à produção dessas pesquisas, não há produção científica. O impacto é imenso; a gente não consegue calcular. É uma grande tragédia.” O somatório correspondente a todas as bolsas contingenciadas não foi informado à Tribuna pela Capes. Mestrandos recebem, mensalmente, R$ 1.500 e, doutorandos, R$ 2.200.

Outras medidas
Além do contingenciamento de bolsas, a Capes, “em busca de economia racional de recursos, melhoria do sistema de pós-graduação e parceria com o setor empresarial”, reduzirá, gradativamente, a concessão de novas bolsas para todos os cursos cuja nota de avaliação, durante dez anos, for três — conceito mínimo de permanência no sistema de pós-graduação da Capes —, e suspenderá também novas bolsas do programa Idioma Sem Fronteiras.

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‘É um momento desconfortável e desanimador’

Das 14 cotas de programas de pós-graduação da UFJF bloqueadas, 11 são do Programa de Demanda Social — concessão de bolsas nos níveis de mestrado e doutorado —, e três do Programa Nacional de Pós-Doutorado — financiamento de estágios pós-doutorais em programas de pós-graduação recomendados pela Capes. Entretanto, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa está insegura a respeito da concessão de bolsas do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior. Na modalidade, os pesquisadores recebem auxílios de mensalidade, instalação e seguro saúde de, respectivamente 1.300, 1.300 e 90 — valores fixos para moedas como dólar, euro e libra.

“Em muitos anos de universidade, nunca passei por um momento como este”, diz a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Mônica Ribeiro de Oliveira (Foto: Alice Coêlho/UFJF)

“O nosso impacto não é muito significativo, porque temos um setor de bolsas muito organizado”, afirma Mônica Ribeiro de Oliveira. “Digo que não é tão significativo em relação às outras instituições, com perdas muito maiores. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), por exemplo, perdeu 25 bolsas. Em um quadro de perdas tão tremendo como esse, a nossa perda existe, mas, ainda bem, não tão alta assim. (…) Estamos inseguros. Há outros programas em época de implementação, como a bolsa para o doutorado-sanduíche, isto é, para os doutorandos irem para o exterior. Estamos em fase de processo seletivo nas universidades; estaríamos no momento de abertura do sistema para colocá-los. Mas o sistema está fechado.”

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A UFJF tem, semestralmente, no mínimo, 19 cotas de doutorado-sanduíche para conceder aos estudantes. Caso as bolsas sejam, de fato, também congeladas, a instituição estima prejuízo a cerca de 40 alunos. “É um momento muito desconfortável e desanimador para todos nós. Em muitos anos de universidade, nunca passei por um momento como este”, relata a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa. A coordenação do Programa de Pós-Graduação em Geografia suspendeu o edital de concessão de bolsas para pós-doutorado.

De acordo com Monica, a perda de bolsas seria maior não fosse a organização da concessão de bolsas dos programas de pós-graduação. “Quando a Capes libera a bolsa para ser implementada pelos programas, o processo é muito dinâmico. Por exemplo, o aluno é bolsista. Ao fim do ciclo, faz a defesa de sua dissertação ou sua tese, e, posteriormente, um ou dois dias depois, essa bolsa é repassada para outro aluno. Aqui dentro, o processo é feito com muita rapidez para que nenhuma cota fique ociosa.”

A presidência de Anderson Correia à frente da Capes foi criticada pela pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa. Conforme Mônica, na iminência de cortes em gestões anteriores, inclusive do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ambas foram pró-ativas. “À época, os presidentes de Capes e CNPq se organizaram, foram às mídias, pressionaram o Governo para a manutenção do orçamento. Tivemos um comportamento das agências muito mais pró-ativo em defesa dos compromissos das agências. Percebemos que a gestão atual da Capes simplesmente repassou os cortes para as universidades, já prejudicadas com o bloqueio orçamentário do MEC; para os alunos e para a produção científica brasileira, especialmente. É uma mudança grave no comportamento do fomento público.”

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‘Pós-graduação em colapso’

“Assim como o corte orçamentário das instituições federais de ensino, o corte de bolsas foi completamente inesperado, já que, com muita luta no passado, havíamos conseguido segurar os orçamentos da Capes nas leis Orçamentária Anual. Na nossa opinião, é uma situação que deixa em colapso a pós-graduação brasileira”, ratifica a presidente da ANPG, Flávia Calé da Silva. O entendimento de ociosidade pela Capes levou dúvidas à ANPG. A associação notificou a fundação em razão do conceito.

“Dizem que vão cortar bolsas ociosas, mas sabemos que as bolsas são deficitárias. Menos de 50% dos pós-graduandos brasileiros têm bolsas.” Questionada sobre a mobilização dos pós-graduandos, Flávia confirmou a participação da entidade, nesta quarta-feira (15), na greve nacional da educação, “como forma de defesa aos ataques à educação”, em conjunto com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Eleita presidente da ANPG em julho de 2018, Flávia Calé da Silva, mestranda de História Econômica pela Universidde de São Paulo (USP), recebeu com surpresa a suspensão de bolsas pela Capes (Foto: ANPG/Divulgação)

Para Flávia, as bolsas deveriam ser encaradas pelo Governo federal como salários dos pesquisadores. “A pesquisa realizada na pós-graduação é um trabalho. E é muito desvalorizada, inclusive. As bolsas estão no sexto ano sem reajuste. (…) A bolsa tem um valor muito pequeno em relação ao que deveria ter e ao papel que deveria cumprir, não só de subsistência do pós-graduando, mas de remuneração de um trabalho fundamental para o Brasil.”

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Ao encontro da presidente da ANPG, Mônica reafirmou o caráter remuneratório das bolsas, ao destacar, inclusive, a exclusividade exigida pelos programas de pós-graduação. “As bolsas concedidas pela Capes são para a docência. Em alguns casos, o aluno até pode dar alguma carga horária em sala de aula. Mas, do contrário, é dedicação exclusiva. Em sua grande maioria, não permitem o exercício de atividade remunerada. Muitos alunos dependem desses recursos para o financiamento da sua sobrevivência básica, não só da sua pesquisa. O impacto é material e simbólico.”

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