Mulher indígena e nordestina, Sônia Guajajara é do povo Tentehar, que habita a Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Sônia parte de uma trajetória de luta ambiental e de resistência indígena para ocupar, junto à uma aliança de movimentos apoiadores, espaço na política institucional. De acordo com Guajajara, a aliança entre os dois partidos, junto a diversos outros movimentos, é o que tem efetivado um programa representativo, democrático e com compromisso com a diversidade.
Tribuna – A história do povo indígena é uma história de luta e resistência. Quais foram suas batalhas até chegar à pré-candidatura da vice-Presidência?
Sônia Guajajara – Quando nasci minha terra já era demarcada e então não conhecia muito essa luta. Mas teve um determinado momento da minha vida que eu entendi que tinham outras lutas que eram ainda muito aquém das nossas. E isso foi o que me motivou a entrar na luta, em um movimento mais organizado. E quando você entra num movimento, você encontra várias outras situações (violência contra os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais) e isso me levou a ser militante pelos direitos sociais.
O que representa a aliança em torno da chapa PSOL e PCB? Quais propostas estão sendo construídas?
A nossa proposta enquanto pré-candidatos e interlocutores dessa aliança é mais do que pedir votos. Nossa intenção é convidar as pessoas para a reflexão da conjuntura política atual, da nossa instabilidade. É pensar a realidade brasileira, a desigualdade do nosso país e de que forma, juntos, a gente pode estar construindo um programa que pense o Brasil para além do processo eleitoral. Temos como prioridades o enfrentamento do atual modelo de desenvolvimento, do avanço do agronegócio e o resgate e o fortalecimento da democracia.
A segurança pública é uma questão complexa. Quais projetos defendem para a área?
No nosso GT temático de Segurança Pública, por exemplo, nós temos os policiais progressistas, representantes da Polícia Civil, que querem, também, reforçar essa ideia da desmilitarização da polícia. Pensamos na Segurança Pública baseada em outras condições. Quando se fala em violência, não se pode considerar somente um assassinato, uma prisão. Tem que se pensar em um Brasil todo, com falta de emprego, de moradia e tudo o que gera a violência.
Boulos, à frente do MTST, luta pelo direito à moradia, e você, enquanto liderança indígena, encampa a luta pela demarcação das terras indígenas. Como articular dentro de um programa político possíveis soluções para essas demandas?
A redistribuição de terras, a Reforma Agrária, precisa ser feita, isso é urgente. Para todos os povos que dependem diretamente da terra. Para isso, é preciso um governo que não faça aliança com o agronegócio. E isso não é só um programa de governo, é uma necessidade civilizatória. É preciso pensar um projeto de país para as próximas gerações. Nossa principal meta é assumir o poder para distribuir esse poder com o povo. Uma das principais prioridades é trazer mecanismos como os plebiscitos e referendos. E o que estamos apresentando como primeira meta de governo é fazer um referendo revogatório para todas as medidas impopulares do atual governo.
Democracia e representatividade
Para Sônia Guajajara, episódios recentes como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi um recado para as mulheres que lutam e defendem as bandeiras de justiça, igualdade e combate à violência. Ela afirma que não se pode ser conivente com a institucionalização da violência. A candidata afirma que tal fato encorajou outras mulheres, negras, indígenas e periféricas a ocuparem um espaço de luta política.
Dentro do programa político, segundo Guajajara, o PSOL tem apresentado alternativas para contribuir para uma possível reforma política que apresente um projeto democrático e diverso. O partido tem trabalhado com candidaturas coletivas e que pensam um mandato coletivo. Para Sônia, é uma experiência que não pode ser desconsiderada.