Alvaro Dias: campanha anti-PT para chegar ao Planalto
Aos 73 anos, no quarto mandato pelo Paraná e sem risco de ficar fora do Congresso em caso de derrota, o senador Alvaro Fernandes Dias é o primeiro candidato a presidente da República lançado pelo Podemos – que, até 2016, se chamava Partido Trabalhista Nacional. “Estou na fase definitiva da minha trajetória política e quase sempre fui oposição”, afirmou ele, ao confirmar sua candidatura no ano passado, no ato de sua filiação.
O anseio pelo Palácio do Planalto, porém, veio bem antes disso. Durante a campanha de 2014, uma das propagandas do senador já sugeria voos mais altos. “Não sei por que um homem daquele (Dias) não foi e não está sendo presidente da República”, dizia um homem que aparecia na imagem sendo entrevistado pela equipe do senador. Então filiado ao PSDB, Dias se reelegeu para o Senado com 77% dos votos válidos no Estado (4,1 milhões), proporcionalmente, o melhor desempenho no País. Agora, na corrida ao Palácio do Planalto, ele aparece nas pesquisas com 1% a 2% das intenções de voto.
Moro
Com dificuldade de se apresentar como uma novidade após 42 anos exercendo mandatos no Executivo e Legislativo, o presidenciável do Podemos tentou se posicionar como alternativa de centro e pregou a “refundação da República” – redução do tamanho do Estado e eliminação de privilégios. Também se apresentou como adversário do PT, abraçou a narrativa contra a corrupção e explorou a imagem do juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato, a quem convidou pela TV para ser ministro da Justiça, caso vencesse a eleição.
Na busca para se viabilizar como candidato ao Palácio do Planalto, Dias tentou alianças com outros partidos, mas foi preterido pelas siglas médias do Centrão – DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade -, que fecharam apoio ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB). Tardiamente, o senador conquistou o apoio do PSC, que retirou a candidatura do ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro, atualmente candidato a vice-presidente na chapa de Dias. Por acordos regionais, coligou-se ao PTC e também ao PRP.
Paulista de Quatá, Dias é professor de História, licenciado pela Universidade Estadual de Londrina. Na cidade, iniciou a vida pública como vereador, depois foi deputado estadual e federal. Popularizou-se no rádio, de onde guarda a forma pomposa de falar e a voz grave. Vaidoso, o senador tem cabelos implantados e tingidos. Costuma se vestir com roupas de tom escuro. É sócio de empresa do ramo imobiliário, de onde vem a maior parcela de seu patrimônio declarado à Justiça eleitoral, de R$ 2,9 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ciro Gomes: um ‘tatu em cima do toco’ da terceira via
“Se você vir um tatu em cima do toco, é porque alguém botou ” A imagem foi usada, com sucesso, durante toda a campanha de Ciro Gomes (PDT). Sempre que ele repetia a frase, concluindo que tatu não sobe em toco, e, portanto, alguém o havia colocado lá, a plateia ria em sinal de aprovação. A metáfora tinha como objetivo explicar que os principais problemas do País não surgiram do acaso e, na maioria das vezes, haviam sido criados de forma intencional para atender determinados interesses.
Nesta eleição, assim como na anedota do tatu, Ciro também foi “colocado” em uma posição na qual provavelmente não chegaria sem a força irresistível das circunstâncias. Ciro não se transformou naquele que prometeu “acabar com a polarização odienta” ou no político que se declara “nem petista nem antipetista” por acaso. Ele também foi colocado lá, no “toco” da terceira via.
Para entender o caminho sinuoso que levou a candidatura de Ciro a se transformar em uma opção considerada moderada em um eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) é preciso retroceder até o conturbado mês de setembro de 2015. Na ocasião, foi entregue à Câmara o pedido de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff que mais tarde viria a ser aceito. No mesmo mês, Ciro trocava de partido pela sétima vez, deixando o PROS e filiando-se ao PDT.
Mesmo para um aliado, a fritura do governo petista parecia iminente. Sair de uma legenda pouco expressiva e abraçar um partido com história no campo da esquerda foi o primeiro movimento de quem estava olhando para frente, para 2018. Ciro posicionava-se, então, como uma alternativa ao PT, mas, principalmente, como uma opção de candidato para o próprio PT – que poderia vir a apoiá-lo caso seus quadros saíssem enfraquecidos da Operação Lava Jato.
Ainda em 2016, Ciro declarou que não seria candidato caso o ex-presidente Lula decidisse disputar um terceiro mandato. Apenas em abril de 2017, afirmou ser candidato, independentemente da decisão do petista.
“Quando digo que não gostaria de ser candidato se o Lula também for, não é uma homenagem propriamente a ele, embora acredite que PT e PDT possam seguir juntos, apesar de nossas diferenças. Mas, se ele for candidato, ‘passionaliza’ e polariza de tal forma o ambiente que os eleitores terão dificuldade de encontrar meu discurso, centrado em temas que considero sérios, distantes da polarização simplória que ele representa”, disse na ocasião. Com algum distanciamento histórico é possível até dizer que, embora sem Lula na disputa, a fala de Ciro foi premonitória.
Exatamente um ano depois, Lula foi preso. E Ciro não demorou em se posicionar contra, engrossando o coro de quem considera a prisão do ex-presidente injusta. Imediatamente, Ciro e Carlos Lupi, presidente do PDT, solicitaram uma visita ao ex-presidente na cadeia – pedido que nunca foi aceito.
Ainda com a perspectiva de ser apoiado por Lula, Ciro iniciou a pré-campanha com um discurso mais à esquerda, prometendo revogar a reforma trabalhista e recomprar áreas do pré-sal. A hipótese de uma dobradinha com o próprio PT chegou a animar – ele considerou a chapa Ciro-Haddad uma espécie de “dream team”. Mas, da cadeia, Lula vetou os acenos petistas a Ciro. E fez mais do que isso: começou a articular o isolamento da candidatura dele.
Dificuldades
Sem o PT, Ciro fez dois movimentos: aproximou-se do Centrão (PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade) e do PSB. Às vésperas da convenção nacional do PDT, no entanto, o Centrão fechou com Geraldo Alckmin (PSDB). E uma costura entre as cúpulas do PT e do PSB, também orquestrada por Lula, consolidou a posição de “neutralidade” dos pessebistas, o que asfixiou a campanha de Ciro.
As dificuldades acentuaram uma característica conhecida do candidato: o temperamento explosivo. Só nesta campanha, ele declarou que colocaria o Judiciário de volta “na caixinha”, chamou o vereador Fernando Holiday (DEM) de “capitão do mato” e xingou de “fdp” uma procuradora que propôs uma ação contra ele.
As circunstâncias eleitorais, no entanto, reposicionaram Ciro na disputa – o colocando no “toco da terceira via”. Com a consolidação de um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad e, principalmente, com as pesquisas mostrando que Ciro vence Bolsonaro no segundo turno, ele encontrou um novo papel, uma nova voz.
Se as urnas confirmarem as pesquisas, Ciro será dono do capital eleitoral mais relevante no segundo turno. E embora tenha dito não ser mais “permitido a ele andar com o PT”, a tendência é de que declare apoio a Haddad. Aos 60 anos, ele já disse que essa será sua última candidatura à Presidência – o que não significa que estaria fora do jogo político ou de um eventual ministério petista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O plano B que precisa se descolar de Lula
A confirmação de que Fernando Haddad seria o “plano B” do PT na disputa presidencial chegou pelo WhatsApp. Era sábado à tarde, 4 de agosto, dia da Convenção Nacional. A cúpula petista se reunia na sede da legenda, em São Paulo, para escolher o candidato a vice e virtual substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
Um grupo ainda se opunha ao nome de Haddad quando apitou o celular da presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Na tela surgiu a foto de uma carta escrita a mão na qual Lula indicava Haddad. Gleisi a leu em voz alta, o ex-prefeito foi aclamado, fez um discurso em tom de agradecimento, e a direção petista voltou para a Casa de Portugal, na Liberdade, onde centenas de delegados participavam da convenção alheios à decisão.
A escolha só seria divulgada às 23h55 de domingo, 5 minutos antes do fim do prazo determinado pelo Superior Tribunal Eleitoral, mas naquele sábado Haddad já não escondia a felicidade pela escolha. “É quase um milagre termos conseguido segurar esse processo até agora”, deixou escapar, às gargalhadas, enquanto tomava café de coador em copo de vidro no Topless, bar que serve pratos feitos na rua do diretório.
Até a chegada da carta, Haddad teve de superar resistências e fazer concessões para minimizar a desconfiança de setores do PT – o ex-prefeito não costumava ter uma participação ativa no partido. Orientado por Lula, se juntou à cúpula petista na Corrente Construindo um Novo Brasil, a maior do PT; ampliou seu grupo interno ao se aproximar do ex-presidente da sigla Rui Falcão, do tesoureiro do partido, Emídio de Souza, e do deputado Vicente Cândido, e recuou das críticas que fazia à presidente cassada Dilma Rousseff.
Sem apoio no partido e ainda alvo de críticas internas por ter perdido a eleição para prefeito no primeiro turno, em 2016, Haddad foi empoderado por Lula como coordenador do programa de governo petista.
Convencido da necessidade de uma ampla frente de partidos de esquerda para o que chamava de “inexorável confronto com a direta e a extrema direita”, Haddad usou o “cargo” conferido por Lula para se aproximar de lideranças do PSB, do PCdoB e, principalmente, de Ciro Gomes, do PDT. A aproximação enfureceu o PT e mais uma vez Lula foi obrigado a entrar em campo para salvar seu pupilo.
Companheiros dizem que ele sempre teve a Presidência na perspectiva, mas a percepção de que poderia efetivamente ser candidato só veio no dia da prisão de Lula, 7 de abril. A maioria das pessoas se lembra do fato de Lula não ter feito nenhum gesto explícito em favor do ex-prefeito naquele dia, mas alguns não esquecem que o ex-presidente, discretamente, puxou Haddad pela mão para a frente do palanque enquanto outros se acotovelavam por um lugar de destaque na missa/comício de despedida. Naquele momento o preferido do PT e de Lula era o ex-ministro Jaques Wagner, que declinou de todas as investidas, a última delas no sábado da Convenção.
Só então o ex-presidente escreveu a carta enviada pelo WhatsApp. Até a oficialização, em 11 de setembro, Haddad passaria mais de um mês numa espécie de purgatório político. De sua cela em Curitiba, Lula, líder absoluto em todas pesquisas mas enquadrado na Lei da Ficha Limpa, traçou uma estratégia na qual Haddad seria “sua voz e suas pernas”, portador da “ideia” na qual o líder petista diz ter se transformado enquanto cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A estratégia de retardar ao máximo a troca do bastão se mostrou suficiente para colocar Haddad no segundo lugar nas pesquisas, até agora. Mas o desconforto do candidato fica cada dia mais evidente para integrantes da campanha. Seus auxiliares reclamam que o PT nunca deixou de lado a desconfiança e que todas decisões têm de passar pelos homens de Lula como Sérgio Gabrielli e Luiz Dulci.
O programa de governo feito sob medida para Lula vem sendo questionado publicamente e deve ser flexibilizado. “Por ser uma construção coletiva, isso é normal. Nem sempre o que ele está defendendo é o que ele diria. O programa é a cabeça do Lula, não a dele”, disse Cândido.
Aos poucos, Haddad vai ter de sair de baixo das asas de Lula para ser ele próprio. O perfil mais conciliador do que a média petista é visto como um ponto positivo para atrair possíveis alianças de segundo turno. Haddad tem feito acenos ao mercado e já falou em executar uma reforma da Previdência com faixas de idade mínima para aposentadoria e modulou a proposta de convocação de uma Constituinte, agora substituída pela ideia de reformas pontuais.
O ritmo e a amplitude dessas concessões vão depender das alianças e da dinâmica de um eventual segundo turno, mas a ligação com Lula vai continuar, em maior ou menor grau, até o fim da disputa. Indagado sobre quando Haddad vai enfim sair da sombra de Lula, um ex-colaborador seu na Prefeitura foi categórico: “Quando estiver no governo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Geraldo Alckmin: sempre fiel ao estilo de ‘jogar parado’
No dia 31 de outubro do ano passado, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) participava da entrega de uma obra em Ribeirão Corrente, no interior de São Paulo, quando um deputado aliado trouxe um bolo para celebrar a conquista de uma meta que começou a ser perseguida logo após a sua posse, em 2015. O tucano até assoprou velinhas por ter visitado a 645.ª cidade do Estado e finalmente tirado do seu mapa o último espaço em branco O governador, enfim, tinha ido a todos os municípios paulistas.
Naquela altura, Alckmin já se apresentava como pré-candidato à Presidência, mas ainda não se movimentava como tal. O senador Aécio Neves (PSDB), seu principal adversário interno, estava fora do páreo após denúncias de corrupção. Mesmo assim, ainda pairavam dúvidas sobre o nome do governador paulista. O próprio Alckmin da festinha em Ribeirão Corrente resistia a nacionalizar o seu discurso e deixar São Paulo mais à margem da pré-campanha
A movimentação do então prefeito da capital, João Doria, afilhado político que rodava o Brasil em seu jatinho como se estivesse em pré-campanha ao Planalto – apesar de sempre prometer fidelidade ao “mentor” -, também não ajudou.
Mesmo pressionado, Alckmin seguiu fiel ao seu estilo de “jogar parado”. Desde a reeleição no primeiro turno em 2014, a candidatura ao Planalto era considerada um passo natural, mas nenhum planejamento nessa direção foi tomado até que ele entregasse o cargo de governador, em abril deste ano. Em parte porque a expectativa original era que seu nome fosse lançado em 2016, na convenção nacional do PSDB – já que Aécio estava no segundo mandato à frente da sigla e, teoricamente, não poderia se reeleger.
“Houve um processo protelatório da escolha do candidato do PSDB à Presidência. O natural era que o Geraldo tivesse sido escolhido em 2016, mas Aécio prorrogou o próprio mandato à frente do partido. Isso prejudicou o processo”, conta o engenheiro e ex-secretário de Energia de São Paulo, João Carlos Meirelles, um dos mais próximos conselheiros de Alckmin.
O movimento de Aécio fez com que a candidatura de Alckmin só se tornasse realidade um ano depois, em dezembro de 2017, quando ele assumiu o comando do partido, em meio a uma disputa fratricida entre Aécio e o senador Tasso Jereissati (CE). O comando não significou sossego. Seu discurso era visto como pacífico demais para um ambiente político cada vez mais hostil. Naquela época, aliados já faziam uma cobrança que perdurou por toda a campanha: adotar um estilo mais agressivo para enfrentar uma eleição pulverizada e marcada pela radicalização.
Centrão
Foi só em 20 de julho, quando os partidos do Centrão anunciaram o apoio a Alckmin, que a candidatura do tucano finalmente passou a projetar expectativa de poder no mundo político. Ele estava em quarto lugar nas pesquisas no cenário sem Lula, com 9% das intenções de voto, mas teria o maior tempo de TV no horário eleitoral – 12 comerciais por dia, ante um a cada quatro dias de Jair Bolsonaro (PSL). Era questão de tempo para decolar nas pesquisas, dizia.
Às vésperas do início oficial da campanha, Alckmin acreditava que em pouco tempo implodiria a candidatura de Bolsonaro, que sempre subestimou. O ex-governador apostava que enfrentaria o candidato de Lula no segundo turno por achar que ainda representava o antipetismo. A expectativa não se concretizou. E foi quase sepultada no dia 6 de setembro, quando o atentado contra Bolsonaro mudou a previsão dos marqueteiros que viu a necessidade de mudar a campanha até então pautada em uma agenda reformista.
Pega de surpresa, a campanha tucana testou e descartou estratégias nesse último mês para tentar desconstruir Bolsonaro e devolver ao PSDB seu lugar na polarização com os petistas. Alckmin sofreu pressão de todos os lados. Foi obrigado a abrir mão do discurso reformista, baseado em propostas, para tentar, como última cartada, apresentar ao eleitor o “risco” de entregar o País aos “radicais”. Não se saiu bem na nova função.
“Ele fez uma campanha ‘padrão Geraldo’. Sabia que o debate poderia ser tomado por esse ambiente totalmente envenenado, mas construiu sua candidatura da forma como acredita, baseada em propostas e informações”, diz o ex-senador José Aníbal.
Velho estilo
Impacientes com a resiliência de Bolsonaro, aliados foram aos poucos se afastando, declarando apoio a concorrentes e até se negando a mostrar Alckmin em seus santinhos. Nem o investimento do PSDB na campanha – R$ 51,6 milhões declarados até a sexta-feira, valor superior à soma de Bolsonaro, Fernando Haddad e Ciro Gomes, todos à frente nas pesquisas – fez com que o tucano conseguisse impor sua campanha.
Mas, no velho estilo Alckmin, os mais fiéis se esforçam para manter uma narrativa otimista. “Acreditamos nos indecisos”, diz o deputado Silvio Torres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Henrique Meirelles: A campanha solitária do ‘para-raio’ rebelde
A separação amigável ocorreu no fim de agosto, mas quase ninguém notou. Sem alarde, o candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, transferiu o QG de sua campanha para São Paulo e ali gravou os programas eleitorais de TV. Ficou a 1.010 quilômetros do Palácio do Planalto, em Brasília, mas a distância do presidente Michel Temer não foi somente geográfica.
Lançado em 2 de agosto como o nome do MDB para a disputa ao Planalto, o ex-ministro da Fazenda é um dos sobreviventes do racha da coalizão que sustentou Temer após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Foi abandonado pelo MDB na campanha, mas também não defendeu o “legado” de Temer, campeão no quesito impopularidade, provocando revolta no Planalto.
“Não sou para-raio de ninguém”, disse Meirelles ao Estado, ainda em agosto, quando o Centrão comemorava sua entrada na arena eleitoral. À época, o diagnóstico do bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade – partidos que dividem cargos na Esplanada – era o de que o ex-chefe da equipe econômica atuaria como um escudo para proteger Temer das intempéries. Ao responder a todos os ataques, livraria o Centrão dessa tarefa. Não foi o que aconteceu.
“O governo se transformou em um fio desencapado, que queima os aliados”, resumiu o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. Diante desse cenário, mesmo antes de fechar acordo para apoiar o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, o Centrão também já se empenhava para ficar a léguas de Temer. Pesquisas encomendadas pelo DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, indicavam que o caminho para crescer era ser oposição.
“Quem inventou o Meirelles na área econômica não foi o Temer. Foi o Lula”, insistia o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), ao lembrar que o ex-ministro havia comandado o Banco Central na gestão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso da Lava Jato.
A tentativa de impulsionar Meirelles como outsider na política também não vingou e hoje ele chega à eleição ao lado dos “nanicos”. Para vestir o figurino de candidato, embalado pelo mote “Chama o Meirelles”, o ex-titular da Fazenda fez aulas de dicção, saiu do PSD do ministro Gilberto Kassab – que se aliou a Alckmin – e gastou R$ 45 milhões do próprio bolso na campanha. Com a estratégia, liberou o MDB para repartir o Fundo Eleitoral com postulantes à Câmara, ao Senado e aos governos estaduais.
Aos 73 anos, 33 dos quais na iniciativa privada, Meirelles diz, porém, que não se arrepende de nada. “Vamos em frente. Eu gosto é de apresentar resultado”, costuma repetir, sempre que confrontado com algum percalço. “O Brasil vai para cá, vai para lá, vai para cima ou para baixo? Ninguém sabe porque as propostas que estão aí são radicais. A solução vem da confiança e eu sou ficha limpa”, emenda ele, citando o ex-presidente Juscelino Kubitschek como modelo.
Naufrágio
Nos bastidores, o Planalto bem que tentou, sem sucesso, construir uma candidatura única de centro para se contrapor a Jair Bolsonaro (PSL) e ao PT – naquela ocasião, não se sabia quem seria o concorrente petista. Alvo de investigações e cada vez mais isolado, o próprio Temer ensaiou alguns passos na direção da disputa por um segundo mandato, mas recuou.
A portas fechadas, Jucá também sondou o então prefeito João Doria, hoje candidato do PSDB ao governo de São Paulo. A proposta, com aval de Temer e do ex-presidente do PSDB, senador Aécio Neves, era para que Doria concorresse à Presidência, tendo Meirelles de vice. Por esse plano, Alckmin sairia ao Senado.
Doria, porém, não conseguiu levar a ideia adiante no PSDB. Atingido pela delação do empresário Joesley Batista à Lava Jato, Aécio não teve forças para a articulação política. Rodrigo Maia chegou a combinar a filiação de Meirelles ao DEM, mas desfez o acerto antes mesmo do naufrágio da reforma da Previdência. Maia lançou sua própria candidatura ao Planalto, retirando-se do páreo meses depois para, a contragosto, apoiar Alckmin.
No feriado de 1.º de maio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma visita a Temer, em São Paulo. O anfitrião pregou a unidade dos antigos parceiros e previu um vexame nas urnas para o centro, se nada fosse feito. A pedido de FHC, Alckmin telefonou para Temer em seguida e acenou com a possibilidade de um encontro, que nunca ocorreu.
Em 18 de julho, um jantar em Brasília regado a vinho tinto, tendo costela assada como prato principal, selou a aliança do Centrão com Alckmin.
No momento de maior impasse sobre a escolha do candidato, o bloco quase implodiu. De olho no respaldo de evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus, Meirelles fez de tudo para tirar o PRB do Centrão. Ofereceu a vaga de vice ao empresário Flávio Rocha (PRB), mas o partido preferiu se unir a Alckmin. Nessa briga pela sobrevivência, a coalizão que levou Temer ao poder se desmanchou. E ninguém mais chamou Meirelles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Jair Bolsonaro: ‘baixo clero’ com a missão de chegar à Presidência
À frente de um partido nanico, o PSL, com pouca verba partidária e sem marqueteiros de grife, o deputado Jair Bolsonaro, de 63 anos, integrante por quase três décadas do chamado “baixo clero” da Câmara, confidencia a amigos que está confiante, mas ao mesmo tempo surpreso com a chance de chegar à Presidência da República. Há até poucos meses, essa possibilidade também provocava risos nos corredores da Câmara – cujo comando ele disputou em eleição no ano passado e da qual saiu com apenas quatro votos.
Capitão reformado do Exército, Bolsonaro foi acusado de insubordinação no quartel e fez carreira política como uma espécie de sindicalista de famílias de soldados e cabos do Rio de Janeiro. Hoje, vota na Escola Municipal Rosa da Fonseca – nome da mãe do primeiro presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca -, na Vila Militar, na condição de líder das pesquisas.
“Só ele apostou nesse projeto”, afirma o general reformado Augusto Heleno Ribeiro. Um dos conselheiros do presidenciável, ele conta que, nas seis campanhas do amigo a uma vaga na Câmara, o candidato percorria as ruas do Rio de Janeiro numa van. “Hoje ele tem muitos amiguinhos. Antes, não tinha, não.”
‘Missão’
Bolsonaro passou a tornar público seu projeto de chegar ao Palácio do Planalto depois das eleições de 2014, quando obteve 464 mil votos para permanecer na Câmara, um resultado expressivo para quem apresentava até então votações médias de 100 mil votos O ponto de inflexão veio da sua aproximação com o pastor Silas Malafaia – que o casou com Michelle, uma ex-assessora do deputado na Câmara – e outros líderes de igrejas evangélicas do Rio. Nos discursos do capitão reformado, a palavra “missão” deixou de ser usada como um jargão de caserna para se referir a uma suposta recomendação divina. “É uma missão. Eu não sei o motivo de Deus enxergar em mim a possibilidade de mudar o País”, disse Bolsonaro, na quinta-feira, a aliados.
Nessa trajetória recente, Bolsonaro contou ainda com a participação em programas humorísticos na TV para propagandear suas propostas – muitas delas consideradas preconceituosas em relação a mulheres e gays, por exemplo, e de forte cunho conservador em termos de valores individuais. Assim ele se tornou conhecido no restante do País e passou a ser chamado de “mito”, um termo que, a princípio, ele pediu para não ser adotado pelos seguidores nas redes sociais, base de sua campanha O atentado a faca durante a campanha em Juiz de Fora (MG), há pouco mais de um mês, serviu para cristalizar de vez essa imagem entre esses seguidores.
Ameaças
Nas três semanas de internação (primeiro na Santa Casa de Juiz de Fora e, depois, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo), a candidatura do deputado foi ameaçada não pela ação dos adversários, mas por declarações de seus próprios auxiliares. Seu conselheiro na área econômica, Paulo Guedes, chegou a cogitar a criação de impostos nos moldes da antiga CPMF, enquanto o vice na chapa, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), criticou reiteradamente o pagamento do 13.º salário e do adicional de férias. Mourão também avaliou que crianças criadas apenas por mulheres são cooptadas com mais facilidade pelo tráfico.
A chance de sair vitorioso da eleição provocou pelo menos dois efeitos. O primeiro deles é uma disputa interna para definir quem tem mais influência nos rumos da campanha. Bolsonaro chamou um outsider da política, o advogado Gustavo Bebianno, para presidir o partido que praticamente “alugou” do deputado Luciano Bivar (PE). Com contatos em escritórios de advocacia do Rio, Bebianno virou um supersecretário e começou a ditar regras na campanha. O movimento não agradou aos filhos e antigos companheiros de Bolsonaro. Mas, com a subida nas pesquisas, a presença de Bebianno – que atuou como advogado em processos a que o presidenciável respondia – teve de ser aceita.
O outro efeito é a fila de políticos de diferentes partidos que passaram a bater a sua porta oferecendo apoio. “Uma coisa é chamar as pessoas, outra é ser procurado. São pesos diferentes”, afirma o líder ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, cotado para assumir o Ministério da Agricultura em um eventual governo Bolsonaro. Já o general Heleno diz que um dos pontos centrais do discurso de Bolsonaro, o de rejeitar um loteamento de governo, não pode ser alterado. “É preciso quebrar essa lenda de que, para ter apoio no Congresso, precisa entregar ministérios.”
Paulista de Glicério, cidade hoje com 4 mil moradores, a 494 quilômetros de São Paulo, Bolsonaro tem cinco filhos de três casamentos. A família já forma uma pequena bancada. O mais velho, Flávio, de 37 anos, é deputado estadual no Rio e disputa cadeira no Senado; Carlos, de 35, o mais próximo do pai, é vereador; e Eduardo, de 34, concorre a um novo mandato na Câmara por São Paulo. O presidenciável ainda é pai de Renan, de 19, e Laura, de 7. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
João Amoêdo: discurso liberal e imagem de novidade
Ser candidato à Presidência da República nas eleições deste ano não era o projeto original do engenheiro João Amoêdo, quando ele deflagrou o processo de criação do partido Novo, em 2011. Aos primeiros amigos e aliados que abraçaram a proposta – a maioria egressa do mercado financeiro, assim como ele -, Amoêdo dizia que a meta era chegar ao poder em 2030. A ideia era formar uma bancada de deputados e ganhar musculatura antes de dar o salto mais alto.
Mas a Operação Lava Jato, o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, a gravação de Aécio Neves pedindo dinheiro ao empresário Joesley Batista, dono da JBS, e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (condenado em segunda instância na Lava Jato) precipitaram o calendário. Pragmático, Amoêdo passou a buscar um nome competitivo e que não tivesse conexão com o universo da política. Foi, então, que adotou um mantra que repete até hoje: “A mudança que a gente precisa não virá dos partidos que a gente tem”.
A primeira abordagem foi a um amigo que tem uma casa ao lado da sua em Angra dos Reis, no litoral fluminense: o apresentador e empresário Luciano Huck. A ideia é que um outsider da política representaria a novidade que o eleitor espera, diante da crise de confiança que recai sobre os partidos tradicionais. A conversa, porém, não prosperou.
O segundo nome a ser sondado foi o do ex-técnico da seleção brasileira de vôlei, Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho. Pressões familiares e de patrocinadores falaram mais alto, e ele também desistiu da empreitada. Foi, então, que Amoêdo decidiu entrar na disputa. Apresentou-se com uma plataforma radicalmente liberal embalada por uma estrutura partidária inovadora.
O Novo adotou um processo seletivo para escolher seus candidatos e submeteu os interessados a aulas e entrevistas. Com apenas 5 segundos em cada bloco do horário eleitoral dos presidenciáveis na TV, investiu pesado nas redes sociais. Ao todo, sua campanha gastou R$ 5 milhões, quase tudo arrecadado por meio de uma vaquinha virtual. Amoêdo se orgulha de não ter recorrido a sua fortuna pessoal, de R$ 425 milhões.
O candidato do Novo chegou aos 3% nas pesquisas de intenção de voto e deu a impressão de que poderia criar uma “onda laranja”, mas não avançou além desse patamar. Chegar ao segundo turno seria superar a meta. A projeção do Novo é eleger 8 deputados federais. Em Minas Gerais, Romeu Zema, candidato da sigla ao governo, chegou aos 15% das intenções de voto, e disputa uma vaga no segundo turno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Marina Silva: a candidata que busca uma ‘fresta’ para passar
Quando ficou internada, no ano passado, Marina Silva (Rede) fez um colar com sementes de jarina, bonina, murmuru e tiririca, especialmente para esta eleição. “Esse colar me ajudou a suportar a dor e agora está me dando a alegria de me deixar mais bonita para enfrentar mais uma campanha”, disse nas redes sociais, pouco antes de começar a corrida eleitoral. Quando gravou o vídeo, não sabia que enfrentaria esta disputa longe das posições em que esteve em 2010 e 2014.
Onze dias
Foi o tempo em que a candidata da Rede se manteve na vice-liderança da disputa pelo Planalto. O cenário em parte lembra o da eleição anterior, quando perdeu a vaga no segundo turno para Aécio Neves (PSDB). Agora, no entanto, a desidratação foi mais rápida, mais prematura e, pior, atingiu seu próprio partido. Marina corre o risco de acabar a disputa com menos da metade dos votos que alcançou nas eleições anteriores – cerca de 20 milhões.
O colar a acompanhou em quase todas as agendas em sua terceira tentativa de chegar à Presidência. Desfilou com o adereço no ponto alto da campanha, quando protagonizou um embate com Jair Bolsonaro (PSL), na defesa por salários iguais entre gêneros. Foi aplaudida. Naquele dia, Marina conseguiu emplacar uma das suas principais bandeiras em 2018: a defesa das mulheres.
A candidata tentou capitalizar aqueles que representam parte da sua história – mãe, negra, de origem humilde, ex-empregada doméstica e alfabetizada aos 16 anos – e foram o seu principal eleitorado quando tinha 12% de intenção de votos, seu maior patamar nesta corrida.
Mas foi só o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser substituído por Fernando Haddad na cabeça de chapa petista, que Marina começou a desidratar. Pelo menos, é esta a leitura de seus auxiliares. Ela também perdeu espaço como terceira via. “Antes, eram sempre três candidatos: dois polarizando e a Marina sendo a terceira via. Agora está muito dividido o centro”, afirma o coordenador de programa e amigo de Marina João Paulo Capobianco.
Além disso, a candidata parece não mais mobilizar multidões. Segundo um porta-voz, o País está indicando que quer candidatos polarizados e Marina não radicaliza o seu discurso. “Não vale tudo para ganhar a eleição”, repetiu ela nos últimos meses. Além disso, a presidenciável perdeu um importante eleitorado que tinha em 2014: os evangélicos. Neste ano, as maiores igrejas fecharam com Bolsonaro.
Programa
A ex-ministra do Meio Ambiente da gestão Lula apresentou um programa mais progressista neste ano, com atenção a minorias e direitos individuais, mas mantendo posicionamento econômico liberal. A polêmica que enfrentou ao tirar a defesa do casamento gay de seu programa de governo em 2014 desta vez foi resolvida: disse que o direito deve ser protegido por lei.
Na campanha havia quem defendesse desde o princípio que a candidata apostasse nos órfãos do “lulismo” e evitasse críticas mais duras ao ex-presidente. A ex-senadora adotou a estratégia de insistir na sua história humilde e no discurso de mãe e mulher, mas ao mesmo tempo fez duras críticas a Lula, a quem chegou a chamar de “corrupto”, e fez ainda uma enfática defesa da Lava Jato.
Nas últimas semanas, à medida que o cenário de polarização foi ficando mais claro, Marina tentou se posicionar mais e mais como uma terceira via. “Não se pode querer governar um País na base do ódio e muito menos com base na mentira e na corrupção”, disse ela na sexta-feira, no Rio.
Discurso
Em 2010 e 2014, os adversários da candidata exploraram seu histórico de saúde – que inclui cinco malárias, três hepatites, uma leishmaniose e uma contaminação por mercúrio – para colar nela a imagem de frágil. Marina atribuiu isso a uma “desqualificação das mulheres” e, neste ano, conseguiu se livrar dessa pecha.
Seu discurso também ficou mais claro e incisivo em 2018 e é o resultado de um treinamento intensivo para abandonar o chamado “marinês” – como ficou conhecido seu vocabulário por vezes “rocambolesco”.
Mais difícil, no entanto, foi se desvencilhar da falta de estrutura de seu partido, dos 21 segundos de televisão e driblar os poucos recursos disponíveis. No domingo, vão às urnas não só Marina, mas todo o projeto político que ela construiu nos últimos anos.
Para a coordenadora da campanha, Andrea Gouvea, “independentemente do resultado, aliados estão convictos de que Marina consolidou a imagem de uma política de extrema força moral”.
Durante a campanha, a presidenciável usou a metáfora de uma “frestinha” para ilustrar o cenário de dificuldades – da vida e da corrida eleitoral. Lembra que passou por um “fresta” no Mobral, se alfabetizou e se tornou professora. Apesar de se dizer “especialista em passar por frestas”, a de 2018 talvez seja a mais difícil para Marina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.