Em seu discurso, Bruno se emocionou ao falar que tem no ex-presidente Itamar Franco fonte de inspiração política.
“Neste momento, tomei esta decisão (de renunciar para tentar concorrer ao Senado). É evidente que o histórico de uma pessoa que sempre acreditei muito e que me levou para a política pesou. Ele (Itamar) saiu da Prefeitura de Juiz de Fora de forma muito parecida para disputar uma cadeira no Senado e honrar Minas Gerais”
Desde o início de sua carreira, Bruno é tido como principal herdeiro político de Itamar Franco e, de certa forma, o pupilo repete a trajetória política do ex-presidente. Em 1966, então no MDB, Itamar foi eleito prefeito de Juiz de Fora para sua primeira passagem do Poder Executivo juiz-forano. Quatro anos depois, em 1972, conquistou o segundo mandato e, assim como Bruno o faz hoje, renunciou ao cargo para concorrer ao Senado, saindo vitorioso das urnas. Até mesmo a idade dos dois políticos no momento em que decidiram se afastar do Executivo municipal é a mesma: 43 anos.
Carta de renúncia
A renúncia foi oficializada ainda nesta sexta-feira, em solenidade agendada para às 11h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, quando Bruno assinou os documentos de seu afastamento, em carta entregue à Câmara Municipal. A renúncia será publicada nos Atos do Governo do Diário Oficial Eletrônico do Município neste sábado (7), de forma a atender os prazos de desincompatibilização definidos pela legislação eleitoral vigente e garantir ao agora ex-prefeito juiz-forano o direito de se lançar na disputa eleitoral de outubro. Antônio Almas (PSDB) assume a Prefeitura para cumprir o restante do mandato que se encerra em 31 de dezembro de 2020.
Pronto para o debate interno no MDB
Reconhecendo que a renúncia é o primeiro passo para a consolidação do anseio de disputar o Senado, o ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB) se diz preparado para o debate interno no MDB para conquistar a indicação. Para isto, lembra a experiência pessoal vivida em 2012, quando travou uma discussão partidária contra o grupo liderado pelo ex-prefeito Tarcísio Delgado – hoje no PSB – para conseguir consolidar sua candidatura à PJF.
“Mesmo com muitas dificuldades, conseguimos viabilizar e vencer as eleições”, afirmou, lembrando o triunfo sobre a deputada federal Margarida Salomão (PT), no segundo turno das eleições daquele ano – cenário que se repetiria em 2016, quando o emedebista garantiu sua reeleição.
Em seus últimos momentos como prefeito, ele garantiu não ter – ao menos no momento – um plano B caso não consiga a indicação do MDB para disputar uma das duas cadeiras do Senado que estarão em jogo em Minas Gerais nas eleições de outubro. “Estou focado na questão da candidatura ao Senado.”
Bandeira da revisão de pacto federativo
Sobre o projeto apresentado à cidade nas duas últimas eleições em que saiu das urnas vitorio, o ex-prefeito destacou ações e obras realizadas ao longo dos últimos cinco anos, além de pontuar o fato de, mesmo diante da crise financeira por qual passam estados, municípios e país, ter conseguido manter os salários do funcionalismo municipal em dia. Afirmou também ter confiança de que o prefeito Antônio Almas (PSDB) dará continuidade ao modelo adotado até aqui.
“Não temos um projeto de poder. Temos um projeto de governo. Foi o governo de um grupo que vai continuar trabalhando pela cidade. Ele (Almas) tem toda a capacidade para dar continuidade e liderar a Prefeitura. Temos um programa a ser concluído e um projeto que é de todos nós e também dos servidores e dos munícipes”, afirmou, fazendo referência também ao jornalista Sérgio Rodrigues (MDB), vice-prefeito durante sua primeira gestão, entre 2013 e 2016.
Críticas em tom de campanha
Já em tom de campanha, Bruno fez duras críticas ao Governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que pode ser sua adversária na disputa por uma cadeira no Senado em outubro. O emedebista afirmou que a gestão da petista foi um “desastre” administrativo que afundou o país em uma grande crise financeira. Sobre uma possível reedição da dobradinha entre MDB e PT no âmbito estadual, no projeto de reeleição do governador Fernando Pimentel (PT), o ex-prefeito foi taxativo ao defender que os emedebistas tenham candidatura própria ao Governo.
“Fico surpreso pelo fato de o PT criticar tanto o MDB no cenário nacional e, agora, procurar esta aliança em Minas. Há, hoje, um consenso dentro do MDB mineiro para se buscar uma candidatura própria. Foi neste sentido que prefeitos, parlamentares e grandes lideranças do partido deliberaram na última reunião do partido e é neste sentido que vamos trabalhar”, considerou. Assim, ele minimizou especulações sobre a possibilidade de ser candidato a vice-governador em uma chapa encabeçada por Pimentel. Porém, não descartou abertamente tal possibilidade.
Auto-crítica
Bruno também não poupou seu partido e afirmou que o MDB precisa revisar sua própria filosofia e sua forma de agir, pautando-se por conceitos como a transparência e a ética. Assim, fez críticas veladas até mesmo ao colega de legenda e Presidente da República, Michel Temer (MDB). “O Governo do Presidente Michel Temer também tem vários problemas. É um governo que já perdeu vários ministros por problemas éticos. Mas também tivemos alguns avanços, principalmente na área econômica”, avaliou.
Bandeira da revisão de pacto federativo
Sobre quais bandeiras pretende defender no Senado, Bruno considerou que sua experiência de cinco anos e três meses à frente da Prefeitura de Juiz de Fora o faz defender a necessidade de uma reforma do pacto federativo. “Hoje, o Governo federal concentra os recursos e define as políticas públicas para todo o Brasil, independentemente de diversidade das regiões brasileiras. Precisamos fazer com que os recursos cheguem às cidades, para que eles sejam empregados em benefício da população. Só assim teremos mais autonomia nos municípios e, consequentemente, melhoraremos a vida do cidadão.”
Bruno também defendeu a reforma de alguns pontos da legislação federal, citando recentes debates realizados no Supremo Tribunal Federal (STF), como o julgamento que negou a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última quarta-feira (4). “Isto acontece pois temos uma lacuna em relação à lei. Se a legislação fosse mais clara não teríamos a necessidade do debate. Precisamos de lei que deem segurança jurídicas, pois as discussões do Supremo estão virando novelas sem fim. Vou brigar por isto”, sinalizou, antecipando posicionamento favorável ao cumprimento de pena provisória após condenações em segunda instância, como a do ex-presidente Lula.