O trabalho relacionado às postagens sobre as eleições brasileiras foi feito pela empresa espanhola Alto Data Analytics, que trabalha com inteligência artificial e análise de grandes bases de dados, e distribuído para os veículos que participam do projeto Comprova – entre eles o Estado -, que combate a disseminação de conteúdo falso nas redes durante a campanha. Na análise, as publicações sobre Bolsonaro não se limitam ao universo de seus simpatizantes – foram contabilizados também os ataques dirigidos ao capitão da reserva por seus adversários.
Além das 34 milhões de publicações, a empresa analisou uma amostra de 50 mil anúncios pagos vinculados às eleições no Facebook e constatou a importância que os políticos estão dando ao voto feminino. Nas faixas acima de 35 anos, as mulheres foram os principais alvos dos anunciantes. O retrato do debate nas redes sociais durante a campanha é de alta polarização, com destaque para as discussões de gênero impulsionadas, entre outras iniciativas, pelo movimento #elenão – que reuniu milhões de mulheres contrárias a Bolsonaro, inicialmente no Facebook, e depois em manifestações de rua por todo o país.
A análise mostra tanto as alas da esquerda quanto da direita cada vez mais isoladas em suas bolhas de discussão, consumindo e compartilhando grande volume de conteúdos produzidos por veículos de mídia alinhados às suas bandeiras. Apareceu com destaque no radar da Alto Data Analytics uma rede social que, até recentemente, tinha presença insignificante no Brasil. Trata-se do Gab, uma espécie de clone do Twitter que, nos Estados Unidos, reúne militantes da chamada alt-right (a nova direita) e supremacistas brancos.
‘Junk news’
Apoiadores do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, são os que compartilham maior número de fontes de informação falsa ou de baixa qualidade relacionada às eleições no Twitter, rede social em que ele tem o maior engajamento político. Do outro lado, os apoiadores da candidatura do PT são os que publicam maior volume de informação falsa, ainda que concentrada em menor quantidade de fontes. Os pesquisadores analisaram as “junk news”, ou notícia de baixa qualidade. Isso inclui não só notícias falsas, mas também publicações excessivamente polarizadas com intuito de confundir o leitor sem indicar, por exemplo, a autoria ou o corpo editorial da plataforma de publicação.
Do total do espectro de fontes de “junk news” monitorado, 81% são compartilhadas por apoiadores de Bolsonaro. Atrás vêm os apoiadores da candidatura do PT, que usaram 54% das fontes, de Geraldo Alckmin (24%), do PSDB, e Ciro Gomes (8%), do PDT. Com relação ao volume de compartilhamento, os apoiadores do PT saem na frente respondendo por 65% do total do conteúdo de baixa qualidade. Em seguida estão os apoiadores de Bolsonaro, com 27%.”O conteúdo polarizado baseado na retórica extremada e populista se tornou uma receita de sucesso nas eleições da Europa, Estados Unidos e América Latina. Esse tipo de notícia de baixa qualidade se espalha rapidamente na rede social, não necessariamente pela atividade de robôs, mas porque é produzida para causa reações emocionais no público – como raiva – o que causa maior compartilhamento”, disse uma das autoras do estudo, Nahema Marchal.
No total de publicações no Twitter, o PT reúne a maior parcela de tuítes de alta frequência (47% do total). As contas de alta frequência, com muitas publicações ao dia, são consideradas um indício de uso de robôs para amplificar o conteúdo. “Apesar de ter mais contas de alta frequência no lado Lula e Haddad, quem está conseguindo capturar a discussão no Twitter é o Bolsonaro”, diz Machado. As publicações relacionadas ao candidato responderam por 45% do total de publicações políticas no período analisado, perdendo para todos os demais: Lula/Haddad (34%).