Clodesmidt Riani faleceu nesta quinta-feira (4), aos 103 anos, completados no último dia 15 de outubro. O sindicalista será velado na capela 4 do Cemitério Parque da Saudade, a partir das 8h desta sexta-feira, e será enterrado às 16h30, no mesmo local.
Natural de Rio Casca, distante 350 quilômetros, foi criado em Juiz de Fora desde os 6 anos de idade. Teve 17 irmãos, dez filhos, 20 netos e 25 bisnetos. Ele estava internado desde o dia 17 de março em um hospital de Juiz de Fora, devido a complicações de saúde.
Eleito deputado estadual para quatro mandatos (de 1955 a 1967 e de 1983 a 1987), teve o mandato cassado em 1964 pela ditadura militar, imposta naquele mesmo ano. Após revisão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, manteve o título de forma vitalícia.
Riani contribuiu diretamente para a implementação da Lei Orgânica da Previdência Social, pela garantia do 13º salário e do salário família, pelo estatuto do trabalhador rural, pelo direito de greve, pela reforma agrária, pela regulamentação da aposentadoria especial para trabalhos penosos, perigosos e periculosos, dentre outras conquistas.
Riani também foi presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias (CNTI) e do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), tendo liderado mais de 700 mil trabalhadores industriais. Este era “o caso” dele, de acordo com declarações anteriores do filho Orlandismidt Riani, que, nesta quinta, também o destacou como “um dos políticos que mais fez por Juiz de Fora”. “Juiz de Fora perde seu maior homem público”, declarou.
História de Clodesmidt Riani em Juiz de Fora
Há exatos 60 anos, em 4 de abril de 1964, Riani recusou o exílio e se apresentou no comando da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, dias após a instauração da ditadura militar. Na ocasião, ele foi preso – e assim foi mantido por sete anos – e agredido. “Muita coincidência”, relembra o filho, com relação à data da prisão e da morte de Riani.
Criado em Juiz de Fora, Riani trouxe figuras políticas importantes para a cidade durante movimentações para angariar recursos para o município. No início da década de 50, em diálogo com o então governador Juscelino Kubitschek, Riani conseguiu um repasse que garantiu a construção de centenas de casas populares nos bairros JK e Costa Carvalho, além da abertura de lotes no Santa Terezinha.
À Tribuna, Orlandismidt também destacou o papel do pai na construção das avenidas Brasil e Itamar Franco (à época, Avenida Independência), do reservatório de Chapéu d’Uvas, do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários em Juiz de Fora (que hoje é o PAM-Marechal) e do Colégio Técnico Universitário (CTU) – que acabou se tornando o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG).
“Ele ajudou a trazer os investimentos por meio da ligação que tinha com o presidente deposto pelo golpe, João Goulart, que trouxe a Juiz de Fora em algumas ocasiões”, conta Orlandismidt.
Homenagens
Na última segunda-feira (1º), Clodesmidt Riani foi um dos principais homenageados por mais de mil pessoas na Praça Antônio Carlos (PAC), durante a Marcha Reversa pela Democracia. “Esse ajuntamento de pessoas é para fazer um agradecimento e uma saudação a essas pessoas que lutaram por um Brasil melhor, mas que pagaram um preço muito alto”, declarou à Tribuna, na ocasião, Clodesmidt Riani Filho.
A vida de Riani é contada no filme “Trajetória – Clodesmidt Riani”, em um livro homônimo e em outras duas obras literárias – “Riani: As botinas tentaram calar” e “Riani – A Luta Continua”.
Rosilene Riani, uma das netas de Riani, publicou uma foto em sua rede social, agradecendo ao “avô, padrinho, amigo, líder e ídolo” por todos os ensinamentos. “Estivemos juntos até o último momento!”, completa.
Luis Gustavo Riani também prestou homenagem ao avô, a quem chamou de guerreiro, em uma publicação: “O senhor foi o maior exemplo de honradez que tive na vida, muito obrigado pelo seu legado”.
Luto
A Câmara Municipal de Juiz de Fora divulgou nota em que lamenta, “com consternação”, o falecimento. “Transmitimos a familiares e amigos nossos sentimentos neste momento de perda inestimável”, diz o texto.
A Prefeitura de Juiz de Fora publicou um decreto de luto oficial no município, pelo período de três dias, “em manifestação de profundo pesar pelo falecimento do democrata e líder sindical”. O decreto é “para que fique consignado a nossa tristeza por essa perda e, de outro lado, a nossa homenagem por uma vida vivida de forma tão exemplar”, declarou a prefeita Margarida Salomão (PT), no momento da assinatura.
Margarida enviou um abraço de pesar a toda a família, “de pessoas muito enraizadas na nossa cidade”. Ela também relembrou a trajetória de Riani, que “enfrentou tortura, privações e, mesmo assim, é um infatigável lutador”. “Mas dizer que, principalmente, Juiz de Fora se orgulha deste grande brasileiro, deste exemplo de lutador social”, completou, em vídeo publicado pela Prefeitura.