Ícone do site Tribuna de Minas

Mesmo em meio à pandemia, eleitores se voluntariam como mesários

mesários aparecem como voluntários nas eleições 2020, apesar da pandemia
PUBLICIDADE

Depois de o novo calendário para as eleições municipais ter sido aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os cartórios eleitorais alertaram-se para as iminentes dificuldades em convencer eleitores de participarem voluntariamente como mesários no pleito em meio à pandemia de Covid-19. Desde as filas e aglomerações nas seções à identificação biométrica, vários atos, antes naturais a quaisquer processos eleitorais, deveriam ser imediatamente solucionados pela Justiça Eleitoral para manter a média de adesão de voluntários às eleições. Enquanto eleitores vinculados a grupos de risco para a Covid-19 solicitavam dispensa à Justiça mesmo após terem se oferecido, outros foram motivados a ser mesários por campanha do TSE com o médico Drauzio Varella.

No entanto, uma contrapartida já concedida pela Justiça Eleitoral segue fundamental para a adesão de voluntários: as folgas concedidas a cada dia trabalhado nas eleições. Conforme a analista judiciária da 153ª Zona Eleitoral Josiane Carminati, somente o cartório em que é lotada, por exemplo, trabalha com uma média entre 70% e 80% de mesários voluntários de um quantitativo de, aproximadamente, 1.200. “Sempre trabalhamos com bastante voluntários. Fomos percebendo que, gradualmente, de uns anos para cá, o número de voluntários tem crescido. Muito em função das folgas que as pessoas conseguem depois de trabalhar para a Justiça Eleitoral, e, alguns, felizmente, pela vontade de participar e colaborar. Mas também tenho que destacar o seguinte: mesmo aqueles que tinham se voluntariado, principalmente antes da pandemia, depois ficaram com medo e pediram para sair.”

PUBLICIDADE
Dispensa da biometria na votação deste ano é considerada essencial para garantir segurança contra a Covid-19 (Foto: Fernando Priamo)

LEIA MAIS

Mesária pela quarta vez fala das expectivas

Contudo, não foi o caso da técnica de enfermagem Ana Claudia Mattos, que participará da quarta eleição como mesária voluntária. “Mesmo com a pandemia, não pensei em pedir dispensa. Entendo que é mais tranquilo para a gente que é da saúde, sobretudo no que diz respeito aos cuidados a serem tomados e às orientações para os eleitores. Não lido diretamente com pacientes de Covid-19, porque trabalho no Centro de Material e Esterilização, mas em nenhum momento tive receio em participar.” Ana Claudia acrescenta que, diante da rotina profissional mantida durante a pandemia, as folgas serão importantes. “As folgas são muito bem-vindas, especialmente para profissionais da saúde como eu. Trabalho em esquema de plantão, durante a noite, no regime 12 horas por 36 horas.”

PUBLICIDADE

Bem como Ana Claudia, a também técnica em enfermagem Rejane Strehle Almeida emplacará a terceira eleição como voluntária, mesmo em meio à pandemia, justamente pela experiência acumulada nos últimos meses. “Assim, a minha profissão já ajuda, então mantive a candidatura voluntária. Além disso, faço faculdade de enfermagem, então o trabalho como mesária conta como atividade extracurricular e ainda consigo as folgas para me dedicar exclusivamente à faculdade. Em dias de prova, as folgas me ajudam bastante.” Ao contrário de Ana Claudia, Rejane trabalha diretamente com vítimas de Covid-19 em uma unidade de terapia intensiva (UTI). “O trabalho nos dá uma noção maior para lidar com o público em geral. Já estou habituada com todos os procolos.

Preocupação com o uso de máscara

De acordo com Ana Claudia, o que mais lhe preocupava quanto ao processo eleitoral era a necessidade de identificação biométrica dos eleitores, uma vez que todos assim encostariam o dedo em um mesmo coletor digital. “Particularmente, tinha muito medo de como seria o procedimento quanto à identificação biométrica, todo mundo colocando o dedo no aparelho, como seria etc. Como agora não terá mais a necessidade de colher biometria, vai ser mais tranquilo, especialmente se o eleitor ainda levar a própria caneta para assinar o caderno de votação. Infelizmente, apesar de ser um gesto pequeno, a contaminação pode existir se os eleitores compartilharem a mesma caneta.” Chefe de seção, Ana Claudia ainda mostra preocupação com as filas nos corredores do colégio eleitoral. “A minha zona tem vária seções, então fico preocupada com muita gente no mesmo local. É um local grande, mas são muitas seções.”

PUBLICIDADE

Rejane, por sua vez, afirma se sentir segura, embora ainda desconheça em qual lugar trabalhará no pleito por conta de remanejamento de mesários. “A Justiça Eleitoral foi bem ao explicar os processos, a necessidade do uso da máscara, do álcool e da própria caneta. Agora, temos que esperar acontecer as eleições. (…) Quando chegar no dia 15 de novembro, já estaremos preparados para isso. Deveremos, de qualquer maneira, nos adaptar. A mudança tinha mesmo que existir.” Perguntada se não temia a resistência de algum eleitor em utilizar máscara dentro da seção, por exemplo, Rejane admite a possibilidade, mas aponta que “vai haver um aparato para agir nestes casos”.

‘O lidar com o eleitor vai ser diferente’

Em entrevista à Tribuna, a analista judiciária da 153ª Zona Eleitoral Josiane Carminati explica que a dúvida mais comum a todos os mesários voluntários são as medidas de segurança adotadas pela Justiça Eleitoral na seção. Entretanto, Josiane detalha que, além do material que sempre recebeu, o mesário receberá vários itens de segurança, “como álcool em gel para disponibilizar para o eleitor; álcool em gel para uso pessoal; máscara para inclusive trocar durante o dia; face shield – é um material reciclável, um pouco mais simples, mas cada mesário vai ter o seu -; álcool líquido para higienizar a mesa onde trabalha; identificador para espaçamento na fila etc.”.

PUBLICIDADE

“Além disso, acho que o lidar com o público desta vez vai ser diferente. O mesário vai ter que explicar para o eleitor a importância de estar com a máscara; não ficar muito aglomerado; encerrar a votação e já voltar para a casa sem permanecer por muito tempo no colégio eleitoral, possibilitando aglomerações etc. No primeiro momento, acho que o grande diferencial vai ser este: a realidade do contato com o eleitor”, diz a analista judiciária. Josiane ainda entende que, apesar de todas as medidas de segurança adotadas, o tempo médio de voto não será maior.

Biometria

Inclusive, Josiane entende que o descarte da identificação biométrica foi uma boa escolha do TSE. “Caso contrário, teríamos mais um ponto de preocupação, que seria todo mundo colocando a biometria em um mesmo coletor. Além do que, neste aspecto, é uma opinião pessoal minha, tem a questão de ganharmos tempo. Como eu te disse, a coleta da biometria levaria maior tempo. Inclusive, não poderíamos higienizar o coletor, porque danificaria o aparelho. Teríamos que higienizar a mão do eleitor para ele colocar na máquina, aí já ficaria a preocupação se seria suficiente ou não. (…) A minha preocupação é mais com a quantidade de eleitores ao mesmo tempo, com a organização da fila. Com as pessoas não se distanciarem o necessário, com o eleitor que não gosta de usar máscara, etc.”

Sair da versão mobile