No cenário eleitoral, há escassas certezas e dúvidas em abundância. Uma visão que leve em conta aspectos como padrões temporais, projetos, candidatos, estrutura político-partidária, dinheiro e TV, ajuda-nos a entender o problema. Vejamos. Bolsonaro ligou-se fortemente as massas/bandeiras da direita e de sua versão extrema (racismo, violência, machismo), avançou sobre as bases peessedebistas (São Paulo e Sul), acirrou o discurso conservador-militarista-liberal-cristão, para manter os eleitores conquistados e encarnou a figura antissistema e anti-Lula-PT. Se mantiver tudo isso, pode passar para o segundo turno. Mas, o discurso violento e vazio, aumenta sua rejeição, não produz consensos e o fragiliza muito.
Lula, justa ou injustamente preso, segue líder das intenções de voto. Por isso, o PT realiza um jogo arriscado: aposta na polarização (PSDB ou Bolsonaro), tenta transferir votos para Haddad, para manter a hegemonia na esquerda. Mas, haverá problemas se a transferência de votos for insuficiente, se a polarização se deslocar para antissistema/sistema e se aumentar a fissura na esquerda. Disputar e recriar o clima de “nós” contra “eles”, parece ser o plano de dirigentes partidários.
O PSDB aposta na polarização (PT ou Bolsonaro), no tempo de TV, no acordo com o “centrão” e na estrutura político-partidária. Mas pode ser pouco: Amôedo (liberal-nem-tão-liberal) está em seus calcanhares, Álvaro Dias bloqueia a Região Sul, eleitores conservadores/direitistas namoram firme com Bolsonaro. Marina Silva confrontou bem o deputado-militar, herda mais votos de Lula (por enquanto), fala ao centro, aos moderados e às mulheres, mas tem estrutura partidária fraca, pouco dinheiro/TV. O capitão (homem/branco/sudeste) e a professora (mulher/negra/norte) podem ir ao segundo turno.
Ciro Gomes, que se viabilizava, levou uma rasteira com o acordo entre socialistas/petistas que lhe tirou tempo de TV/poder e manteve Lula/PT hegemônicos. Deverá disputar votos com Haddad no Nordeste. A aposta de peessedebistas e petistas na TV, no sistema partidário, no marketing e nas polarizações é suficiente?
O tempo de TV e a campanha estão reduzidos. A TV impacta o comportamento eleitoral, mas em tempos de redes sociais (onde se compra/vende/aluga “likes”) e de uma sociedade do espetáculo, ganha destaque a fala curta e a performance “bateu-levou”, dispensando, infelizmente, a pausa para reflexão, o que favorece o deputado-capitão, mas também as peças publicitárias sofisticadas.
Entre o eleitorado, a rejeição da política tradicional/corrupção combinou-se a uma forte frustação com segurança, emprego, saúde e educação. As(os) candidatas(os) conseguirão convencer as(os) eleitores? Há apostas: Bolsonaro/Alckmin, Haddad/Alckmin, Haddad/Bolsonaro. Eis meu palpite: Bolsonaro não derreterá tanto, Alkmin avançará, mas fraco, Haddad receberá transferência insuficiente. Mas, não ponho a mão no fogo por essas hipóteses. Minhas barbas estão de molho.