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Idosos acima de 70 anos são mais de 7% do eleitorado em JF

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Mais de 7% dos eleitores juiz-foranos aptos a votar nas eleições de 2022 têm idade igual ou superior a 70 anos. Eles podem escolher se vão comparecer ou não às urnas nos dias 2 e 30 de outubro, já que o voto para eles é facultativo, assim como para os adolescentes de 16 e 17 anos. Recentemente, famosos, como a cantora Annita, reverberaram nas redes sociais a importância dos jovens dessa faixa etária tirarem o título de eleitor. Mas vale lembrar o quão necessário também é o engajamento das pessoas idosas nesse exercício de cidadania. Em Juiz de Fora, por exemplo, a fatia desse público é bem superior à dos adolescentes, que representam apenas 0,4% do eleitorado ou possíveis 1.442 votos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizados até fevereiro.

A estatística revela que 8.916 homens e 12.443 mulheres, com idades entre 70 e 79 anos, compõem 6,17% dos eleitores na cidade, enquanto 1.873 pessoas do sexo masculino e outras 2.478 do sexo feminino, com idades superiores a 79 anos, representam 1,26%. Somadas essas duas parcelas, são 25.710 cidadãos – ou 7,42% do total de 346.415 eleitores juiz-foranos – que têm o poder do voto para decidir neste ano não só os futuros governantes do país e dos estados brasileiros, como os representantes do povo no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas estaduais. Já os idosos entre 60 e 69 anos, que são obrigados a votar ou a justificar a ausência, chegam a 22.754 homens e 31.115 mulheres, totalizando 53.869 pessoas (15,5% do eleitorado).

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Nas últimas eleições municipais, em 2020, quando a pandemia contribuiu para um alto índice de abstenção em todo o país, 296.356 pessoas (72,22%) votaram no primeiro turno em Juiz de Fora, enquanto 113.983 (27,78%) se abstiveram. O levantamento mostra que 7.668 idosos, entre 70 e 79 anos, compareceram às seções eleitorais naquele dia. Na faixa superior a 79 anos, entretanto, o número caiu para 1.075. Os faltosos, por sua vez, chegaram ao total de 18.134, de 70 a 79 anos, e a 15.068 entre os mais velhos. Os dados portanto mostram que o número de abstenções foi maior do que o de presença nesse recorte.

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“A pandemia afetou de modo muito significativo a participação eleitoral de diversos grupos da sociedade, mais especificamente dos idosos. Algumas pessoas faleceram, outras tinham comorbidade e não puderam votar. Mesmo entre quem não teve impacto mais direto da doença, havia um temor muito grande, um receio de sair de casa para votar, pois não tínhamos ainda expectativas mais robustas de vacinação”, pontua o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Perlatto.

Para além das questões relacionadas a pandemia e frequência às urnas, o especialista analisa que no Brasil, e em diversas partes do mundo, há um descontentamento com a vida política e com o sistema representativo, acompanhado da perda de confiança nas instituições. “Quando não temos partidos ou políticos que construam propostas para esse público específico (idosos), impacta a vontade de o eleitor participar do processo eleitoral.”

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Perlatto acrescenta que o fato de o voto ser facultativo para aqueles acima dos 70 anos agrava ainda mais esse quadro de desânimo, comum também entre os adolescentes de 16 e 17 anos. “Esse público só se sente motivado a participar do processo eleitoral caso tenha de fato um incentivo. Curiosamente, vemos muito mais campanhas, do TSE e das siglas, destinadas para estimular o voto dos jovens, do que dos idosos. Acho que esse é um desafio gigantesco colocado para os partidos e as instituições.”

O gerontólogo José Anísio Pitico destaca que o voto é a ‘demonstração da potência de transformação’ das pessoas idosas (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)

‘As pessoas idosas existem e participam da vida’

Para o assistente social e gerontólogo José Anísio Pitico da Silva, o voto “é a expressão mais visível de que as pessoas idosas existem e estão participando da vida”. “É um ato político com muita visibilidade e importância no nosso dia a dia. É a demonstração concreta da potência de participação e de transformação das pessoas idosas.” O especialista avalia que a não obrigatoriedade do voto a partir dos 70 anos é um contrassenso, diante da conquista de maior expectativa de vida. “É uma legislação que não faz mais sentido, que envelheceu. É fundamental termos a participação das pessoas idosas nas urnas, ainda mais agora, em outubro deste ano.”

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Do ponto de vista político, o professor da UFJF Fernando Perlatto ressalta que o contexto recente da pandemia, que afetou diretamente essa faixa etária mais vulnerável, mostrou a importância de políticas públicas voltadas para esse público em vários setores, sobretudo na saúde, como ficou evidenciado com a relevância do SUS. Ele também citou o aumento da expectativa de vida da população, que exige medidas para além da saúde, como na área de mobilidade urbana. “Nesse sentido, é importante que os idosos estejam engajados nesses processos eleitorais, porque a possibilidade de termos políticas públicas que os afetam está colocada no horizonte.”

Descontentamento com a vida política faz com que muitos percam a vontade de participar do processo eleitoral, avalia cientista político Fernando Perlatto (Foto: Arquivo pessoal)

O cientista político pondera que, de modo geral, na plataforma dos candidatos, não há direcionamento claro de ações voltadas aos mais velhos. “Ainda que tenham tentado construir pautas direcionadas para públicos específicos, como mulheres, população LGBT e jovens, ainda vemos o lugar dos idosos de modo mais periférico.” Perlatto observa que os políticos, na maioria da vezes, pensam o eleitor como um “sujeito universal”, não considerando desigualdades, discrepâncias e diferenças que sim, importam.

Nessa mesma direção, Pitico acredita que deve ser provocada uma mudança de comportamento nos representantes, já que é raro a agenda das pessoas idosas entrar em plataformas de governo, refletindo em uma indiferença pública em relação às necessidades e interesses desse público. “Mas nós também precisamos mudar. O presidente, o governador e a prefeita foram eleitos com nossos votos. É claro que as pessoas idosas têm consciência, competência, discernimento e senso crítico de exercitarem o voto. A forma de estimulá-las a votar é exatamente dizer que estão vivas, que pagam impostos e que as medidas políticas afetam suas vidas e de suas famílias. É preciso ter esperança e renovar-se de expectativas de que é possível mudar.”

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O gerontólogo conclui ser compreensível o descontentamento e a falta de estímulo para votar “para quem durante sua vida toda foi sempre deixado para trás”. “Temos que alterar esse modo de fazer política para que nossa representação seja diferenciada. Acho que isso é um processo, que, aos poucos, está acontecendo.” Ele reforça o papel preponderante dos idosos nessa transformação, “saindo de uma velhice invisibilizada pela indiferença e pela falta de atenção pública, para uma velhice engajada e participativa”.

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