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Eleitorado adolescente tem retração de 35% em Juiz de Fora

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Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

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Juiz de Fora tem 397.841 eleitores aptos a votar na eleição geral deste ano, um crescimento de 1,3% em relação à consolidação dos votantes registrados nas últimas eleições gerais em 2014. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (1º) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante o lançamento do Centro de Divulgação das Eleições (CDE). Segundo o TSE, 147.302.354 eleitores brasileiros estão em condições de irem às urnas para escolher os futuros ocupantes dos cargos de presidente, governadores, senadores, suplentes e deputados federais e estaduais

Conforme os dados disponibilizados, em Juiz de Fora chama a atenção as variações de dois extremos etários do perfil do eleitorado local, que, pela legislação, têm direito facultativo ao voto. Enquanto o número de jovens que poderão participar do pleito diminuiu 35% em relação à última disputa, em 2014, entre os idosos com mais de 70 anos, houve um crescimento: um em cada dez votantes está nesta faixa etária.

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O quantitativo de jovens com voto facultativo de 1.246 eleitores representa 0,31% do eleitorado da cidade em 2018. Todos eles fazem parte do grupo com idade entre 16 e 17 anos que não são obrigados a votar nas eleições gerais de outubro, mas que procederam com a emissão do título de eleitor até o dia 9 de maio.

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A redução do número de jovens com disposição para ir às urnas é uma tendência apresentada em todo país nos últimos anos. Em 2010, em Juiz de Fora, o número de eleitores nessa faixa etária era de 2.340, quase o dobro do registrado para o pleito geral deste ano. Em 2014, esse número foi de 1.911. No entanto, chama a atenção a queda ainda maior do eleitorado nessa faixa no município. Segundo o TSE, houve uma redução de 14,5% no número de jovens votantes para este pleito em todo o país, se comparado com 2014. Este índice nacional mostra que, em Juiz de Fora, o percentual de desinteressados é 20 pontos percentuais maior.

Com 16 anos próximos a serem completados no próximo dia 22, Miguel Mendonça vai à urna pela primeira vez em outubro. Segundo ele, a escolha por emitir o título logo cedo partiu da vontade de adquirir maior consciência política por meio do voto. “A maioria das pessoas que eu conheço não se preocupou em tirar o título. Acho importante essa participação do adolescente na política, é uma passagem para a vida adulta. Quando o voto for obrigatório pra mim eu vou ter mais consciência de como funciona o sistema eleitoral e das escolhas políticas”, conta.

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Situação semelhante é compartilhada pelo estudante Yuri Souza, 17. Para ele, a emissão do título de eleitor traz a responsabilidade de se informar cada vez mais sobre política, mesmo em tempos de debates polarizados. “Não me considero muito engajado politicamente, mas acredito que tirar o título foi uma medida para garantir que eu assumisse uma função efetiva no cenário político do país, para exercer a cidadania para contribuir para o país no futuro.”

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Ativa politicamente, com participação em movimento secundaristas na trajetória escolar, Mariana de Oliveira Ramalho, 17, compreende as dificuldades em fazer o jovem se interessar pelo assunto, mas não abre mão do direito ao voto por questões históricas. “É importante o jovem se manifestar, lutar e votar com esperteza. O voto foi uma coisa tão difícil de ser conquistado, principalmente entre as mulheres, que precisamos exercer esse direito, mesmo com os candidatos que estão aí”, afirma.

Na contramão do movimento está Ana Luiza Rodrigues da Silva, 16. Incomodada com os extremos políticos das discussões nas redes sociais, ela optou por não tirar o título por não compreender de maneira clara os debates feitos. “Eu sou interessada, mas não entendo muito de política. Os extremos me incomodam, esquerda ou direita. Isso faz com que eu me afaste desse assunto. Dos candidatos mais famosos, acho que não concordo com nenhum”, explica.

As dificuldades em escolher um candidato também foram apontadas por Arthur Seta Evangelista Campos, 16, para não exercer o direito de voto neste pleito. Apesar de alegar ter vontade em participar da discussão política, a corrupção e a constante polarização nas redes sociais são motivos apontados pelo adolescente para evitar a “pressão de escolha. “A gente vê em casa que os nossos pais estão com dificuldade para votar, e isso acaba me influenciando a não votar, principalmente por não ser obrigatório”, conta.

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Na avaliação do cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, a redução do quantitativo de jovens aptos a votar é uma tendência cada vez maior no Brasil, diante do crescente desinteresse dessa faixa etária na política. “Cada vez mais essas gerações têm uma visão negativa da política, de não enxergá-la como meio de fazer mudanças e transformações na sociedade”, afirma.

Para Figueira Leal, outros fatores que impactam na redução são a transformação etária da sociedade, com menor quantitativo dos jovens nos últimos anos, e o atual momento político nacional, com sucessivas crises. No entanto, ele é enfático ao afirmar que a crescente mobilização dos jovens por meio das redes sociais não tem transformado a participação efetiva dos eleitores por meio dos votos. “Muitos jovens hoje talvez se satisfaçam com a participação ativa nas redes sociais, mas eu acho que eles estão errados.Há de se entender que essa participação não gera mudanças e transformações efetivas na sociedade, nem na própria vida pessoal como um todo” , ressalta.

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Voto facultativo cresce entre os idosos

Assim como entre os jovens, o número de idosos com voto facultativo em Juiz de Fora cresceu 35%, se comparado com as últimas eleições gerais, em 2014. Neste ano, serão 45.825 idosos acima de 70 anos com a não obrigatoriedade de ir às urnas. Em 2014, esse quantitativo era de 38.815 eleitores.

O percentual de crescimento na cidade também é superior ao registrado em todo o país. De acordo com TSE, 12.028.495 eleitores nessa idade podem exercer o direito de escolher seus representantes – um aumento de 11,12% em comparação às eleições de 2014, quando 10.824.810 eleitores idosos podiam votar.

Eles representam 11,6% de todo o eleitorado do município apto a votar nesta eleição. Isso significa que um a cada dez eleitores pode deixar de ir às urnas no próximo pleito. Na opinião do cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, isso reflete a transição demográfica na sociedade brasileira e pode apontar uma mudança das propostas feitas para esse público por parte dos políticos.

“Olhando para os números absolutos você percebe claramente a transição demográfica, é uma mudança significativa na pirâmide etária do país. Isso vai acabar impactando e mudando toda a proposição das políticas públicas por parte dos candidatos, que vão focar ainda mais nesse público crescente”, afirma.

Crescimento do eleitorado local está abaixo do estadual e do nacional

A evolução do eleitorado em Juiz de Fora é tímida se comparada com o crescimento observado nos recortes estadual e nacional. De 2014 para cá, Minas Gerais computou um crescimento de 2,9% no número de cidadãos em condições de manifestar suas opiniões nas urnas, passando de 15.248.681 eleitores para 15.700.966. No Brasil, o aumento foi ainda mais significativo e chegou a 3,14% no hiato de quatro anos, entre as duas eleições gerais, saltando de 142.822.046 eleitores para 147.302.354. Já o quantitativo de eleitores no exterior, em especial, teve elevação expressiva no período, quando cresceu 41,37%, passando de 354.184 para 500.727. Nos recortes estaduais, São Paulo, estado com a maior população do país, continua a ser o maior colégio eleitoral brasileiro e computa 33.040.411 eleitores. Minas Gerais aparece em seguida, com 15.700.966 votantes, à frente de Rio de Janeiro, que conta com 12.406.394 cidadãos aptos a participar do pleito este ano.

Conforme informações constantes no Cadastro Eleitoral, a maior parte do eleitorado brasileiro pertence ao gênero feminino. Ao todo, são 77.337.918 eleitoras, o que representa 52,5% do total. O percentual praticamente se replica nos âmbitos estadual (51,9%) e municipal (54,4%). As eleições deste ano serão as primeiras em que transexuais e travestis terão seu nome social impresso no título de eleitor e no caderno de votação das Eleições 2018. Ao todo, 6.280 pessoas fizeram essa escolha ao se registrar ou atualizar seus dados na Justiça Eleitoral. Em Minas Gerais foram feitos 647 pedidos e, em Juiz de Fora, 36.

O número de eleitores que serão identificados por biometria também cresceu nestas eleições e, em 2018, corresponde a pouco mais da metade do eleitorado: 73.688.208 eleitores, o que significa 50,03%. Há quatro anos, o recurso abrangia apenas 15,18% do total de pessoas aptas a votar, o que, à época, era representado por 21.677.955 pessoas. Em Juiz de Fora, o percentual de títulos cujas biometrias já foram registradas é bem menor: 17,84%. Com relação a eleitores que podem requerer atendimento especial, 940.613 eleitores em todo o país declararam ter algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida. Para estes, o prazo para solicitar transferência para uma seção com acesso facilitado termina no dia 23 de agosto. Em Juiz de Fora são 813 votantes nesta situação.

Ainda sobre o recorte nacional, a faixa etária com o maior quantitativo de eleitores é a que reúne cidadãos entre 45 e 59 anos de idade, que totaliza 35.742.439 eleitores: 24,26% do total. Em seguida, aparece a faixa que vai de 25 a 34 anos, que reúne 31.149.869 pessoas: 21,15%. Para aqueles que têm direito a voto facultativo, os jovens de 16 e 17 anos, cuja participação é opcional, representam 0,95% do eleitorado em 2018 e somam 1.400.617 potenciais votantes. Assim, observa-se uma redução de 14,53% no número de jovens eleitores. Em 2014, a faixa etária respondia por 1.638.751. Já o número de eleitores acima de 70 anos, que também possuem a prerrogativa do voto facultativo, cresceu 11,12% entre 2014 e 2018, passando de 10.824.810 eleitores idosos para 12.028.495.

39% não têm ensino fundamental completo

Com relação ao nível de instrução, a maior parte do eleitorado brasileiro possui ensino fundamental incompleto. Ao todo, 38.063.892 eleitores que declararam ter essa escolaridade: 25,84% do total. Já 33.676.853 de pessoas (22,86%) afirmaram ter concluído, pelo menos, o ensino médio. Os eleitores com ensino superior somam 13.576.117 cidadãos (9,21%). O TSE, no entanto, ressalta, que tais estatísticas devem ser observadas como uma referência, uma vez que reflete a escolaridade declarada no momento do registro eleitoral ou da atualização de seus dados cadastrais. Quando se leva em consideração aqueles que têm ensino fundamental incompleto, que apenas leem e escrevem ou analfabetos, o total de eleitores com baixa escolaridade representa a 39,23%. Em Juiz de Fora, o percentual é semelhante: 38,31%.

Para o cientista político da UFJF, Paulo Roberto Figueira Leal, a baixa escolaridade não significa necessariamente uma incapacidade de decisão acerca do voto. “Seria altamente desejável que nós pudéssemos ter todos com um alto grau de escolaridade, mas eu tenho uma profunda discordância com a afirmação de que votam melhor as pessoas que têm maior escolaridade. Não há uma correlação entre menor escolaridade e piores escolhas. Na minha avaliação, alguma das candidaturas mais perigosas que temos hoje tem grande parte dos seus votos entre os mais escolarizados. Não é isso que determina as escolhas racionais. Aquela narrativa de quem tem menos escolaridade vota pior é comprovadamente falsa no mundo interior. Pelo contrário, historicamente são as pessoas que estão na base da pirâmide que possuem o voto mais progressista nas eleições e que querem mudança”, considera.

 

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