A qualidade do serviço prestado pela Cemig em Juiz de Fora e a ameaça de privatização da companhia foram debatidos em audiência pública realizada na tarde desta terça-feira (2) na Câmara Municipal. O plenário ficou cheio, principalmente de trabalhadores da empresa pública, que pediram a palavra para protestar contra a possibilidade de conceder a concessionária à iniciativa privada. A audiência foi feita atendendo requerimento do vereador Juraci Scheffer (PT). Ele citou os frequentes casos de picos de luz, que prejudicam os consumidores, e a demora na realização de novas ligações, cuja espera para os empreendedores pode passar de 24 meses. Também foi destacada a necessidade de eletrificação da Zona Rural. Moradores de Torreões marcaram presença para denunciar a falta de energia elétrica em, pelo menos, 50 residências.
Para Scheffer, a Cemig sempre foi uma empresa de excelência, mas, nos últimos anos, estaria sofrendo uma espécie de desmonte, motivado pelo interesse na privatização. Ele lembrou que, em 1999, também houve a ameaça de privatização, combatida por Itamar Franco. Na sua opinião, a concessionária é um “patrimônio do povo mineiro”. Mesmo defendendo a empresa, o vereador frisou que reconhece os problemas enfrentados pela população, em termos de abastecimento de energia. “Ninguém consegue viver sem água e sem luz.”
No microfone, foram relatados casos de falta de luz em bairros, como Alto Santo Antônio, Linhares e Parque das Águas. O presidente da Associação de Moradores de Torreões, Francisco de Paula Almeida, reclama sobre a dificuldade de fazer novas ligações. Segundo ele, cerca de 50 residências estão há mais de um ano sem abastecimento de energia, porque a Cemig não aceita a documentação apresentada pelos moradores. “Lá são terras da Igreja Católica. Nós temos a transferência de aforamento, documento que a Cúria Metropolitana nos fornece. A Cemig exige algum de documento do Poder Público, como um registro de imóvel, que nós não possuímos.” Outro problema relatado por ele é a falta extensão de rede em várias ruas.
Também presente à audiência, o presidente do Sindicato dos Eletricitários, José Emanuel de Oliveira, criticou a intenção de privatização da concessionária e destacou que os trabalhadores da empresa não têm altos salários, como teria alegado o governador Romeu Zema (Novo). Já o representante do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro), Edvaldo Pereira da Silva, endossou a necessidade de defesa das estatais que, na sua opinião, são importantes para fomentar o desenvolvimento social. Ele cobrou mobilização para que a companhia não seja entregue ao capital estrangeiro “a preço de banana”.
Na semana passada, o governador anunciou a intenção de encaminhar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para retirar a exigência de referendo para privatização de empresas públicas, como a Cemig. Para refinanciar a dívida do Estado, é uma exigência da União privatizar a Cemig, a Copasa e a Codemig. Em relação às duas primeiras, a Constituição estadual prevê a necessidade de realizar consulta pública à população, exigindo que a maioria aprove a medida.
Cemig pretende regularizar atendimentos atrasados até outubro
Sobre o atendimento das demandas do Município, o agente de Relacionamento da Cemig com o Poder Público, Magela Mendes, avalia que, após a terceirização, foram identificados vários problemas no serviço prestado. Em Juiz de Fora e região, explica, foi necessária a desmobilização de uma empresa, que ganhou licitação, mas não teve condições de tocar o serviço. Até a mobilização de outra, comenta, houve um espaço de tempo que “deixou o serviço bastante precário”. O lapso temporal foi estimado em cerca de oito meses.
Em relação à privatização, enquanto funcionário, cidadão e mineiro, Magela pensa que a privatização não é a solução para os problemas nem do Governo do estado, nem do povo mineiro. “Estou dizendo em meu nome, não em nome da empresa”, frisou. A informação é de que a Cemig está realizando as obras demandadas. A previsão é de que o atendimento às obras solicitadas e atrasadas seja colocado em dia até outubro deste ano. “A partir daí, vai depender das demandas novas que surgirem.”