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Sem Margarida, disputa para deputado federal tem mudança de perfil

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A cada ciclo eleitoral, lideranças políticas e econômicas de Juiz de Fora destacam a necessidade de a cidade garantir uma bancada significativa nos poderes legislativos das esferas estadual e federal. Para 2022, a cidade chega com um número menor de parlamentares do que os sete nomes que saíram vitoriosos das eleições de 2018. Na ocasião, Juiz de Fora conseguiu eleger quatro deputados federais e três estaduais com domicílio eleitoral no município. Contudo, de lá para cá, a hoje prefeita Margarida Salomão (PT) deixou o cargo na Câmara dos Deputados no fim de 2020, exatamente para assumir a Prefeitura. Por sua vez, o deputado federal Lafayette Andrada (PRB) mudou seu domicílio eleitoral para Belo Horizonte, para disputar, sem sucesso, a Prefeitura da capital. Neste recorte, Juiz de Fora tem, hoje, três deputados estaduais e dois federais incumbentes, representação parlamentar que está abaixo das conquistadas nas urnas nos últimos pleitos.

A tendência, todavia, é de que o deputado federal Lafayette Andrada, retorne o seu domicílio eleitoral para Juiz de Fora a tempo de disputar as eleições de 2022. A informação foi confirmada pelo gabinete do parlamentar. Assim, no pleito agendado para o dia 2 outubro, daqui a nove meses, portanto, a cidade deve ter três deputados federais tentando a reeleição. Além de Lafayette, Júlio Delgado (PSB) e Charlles Evangelista (PSL) devem tentar renovar os seus mandatos nas urnas por mais quatro anos. O mesmo cenário é observado entre os três deputados estaduais da cidade, Betão (PT), Delegada Sheila (PSL) e Noraldino Júnior (PSC), que, provavelmente, serão candidatos à reeleição.

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Além dos que vão tentar a reeleição, vários atores políticos da cidade já se movimentam ainda em um cenário não tão definido. Isso porque, pela primeira vez, não serão permitidas coligações proporcionais para a escolha de integrantes dos parlamentos e estaduais federal. Por outro lado, recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) regulamentou o instituto das federações partidárias, com o objetivo de permitir às legendas atuarem de forma unificada em todo o país, como um teste para eventual fusão ou incorporação. Assim, com várias siglas conversando sobre possíveis composições, o cenário das candidaturas permanece sob constante avaliação. Pela federação, os partidos têm que se aliar por um período mínimo de quatro anos.

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Vácuo no PT e transferência de votos

No momento, uma das mais intensas discussões locais, se dá entre os petistas da cidade. Isso porque, nas últimas eleições, a prefeita Margarida Salomão (PT) foi a única candidata da legenda na cidade e acabou sendo a mais votada na disputa por cadeiras na Câmara em 2010, 2014 e 2018. Sua saída do Congresso Nacional para ocupar a Prefeitura acabou por abrir um vácuo a ser preenchido por possíveis candidatos a deputado federal dentro do braço local da sigla. Até o momento, as especulações apontam que pelo menos dois nomes tentam se cacifar como possíveis herdeiros do espólio eleitoral de Margarida: o presidente da Câmara, o vereador Juraci Scheffer (PT), e a secretária municipal de Saúde, Ana Pimentel.

Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o cientista político Fernando Perlatto, considera que, ao longo do tempo, a prefeita Margarida Salomão construiu uma trajetória política capaz de fidelizar muitos votos na cidade, que não estritamente entre os votos petistas. “Nesse vácuo, que ocorre uma vez que a Margarida não vai se candidatar, há, sim, um potencial de votos. Eles não vão, necessariamente, para um candidato do PT. Mas há um potencial de ir”, avalia.

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O cientista político complementa que atores políticos vinculados ao PT podem se posicionar como herdeiros e afilhados políticos da prefeita. “Por mais que a Margarida tenha uma um perfil de atrair votos para além do PT, ela tem uma atração de votos com perfis mais progressistas, que eu acho que podem, sim, se direcionar para uma candidatura que venha do PT. Não é uma transferência que se dá de forma natural. É uma construção que vai se dar no contexto do processo eleitoral. Margarida tem um potencial de transferência de votos significativo. Até mesmo porque é a prefeita de Juiz de Fora. Temos que ver como ela vai conduzir esse processo.”

Mais da metade dos vereadores são especulados como possíveis candidatos

O processo eleitoral que se anuncia também tem movimentado os bastidores da Câmara Municipal de Juiz de Fora. Muitos vereadores já foram ou ainda são especulados como possíveis candidatos no pleito de outubro. Alguns, inclusive, usam tais especulações para testar um possível projeto. Alguns, porém, parecem já trabalhar para viabilizar uma empreitada eleitoral.

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Muitos nomes de vereadores já são especulados como possíveis candidatos para 2022

É o caso, por exemplo, do presidente da Casa, o vereador Juraci Scheffer, que tenta se cacifar dentro do PT para ser o candidato da legenda na cidade para a Câmara dos Deputados, de olho nos votos recebidos pela prefeita Margarida Salomão entre as eleições de 2010 e 2018, quando, por três vezes seguidas, foi a mais votada na cidade entres os candidatos a deputado federal.

Outro que é apontado como nome certo na disputa é o vereador de oposição ao governo municipal, Sargento Mello Casal (PTB), também cotado para concorrer a uma cadeira de deputado federal. O objetivo de se lançar na disputa é visto como certo e uma troca de legenda, após a saída de Roberto Jefferson do comando do PTB, em outubro, passou a ser aventada nos bastidores.

Para ALMG

Por outro lado, a maioria dos vereadores deve se lançar na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Cido Reis (PSB) deve voltar a se colocar como candidato a deputado estadual. Em 2018, ele disputou uma vaga na Assembleia e somou 24.943 votos, não sendo eleito. Outro apontado como provável nome entre os candidatos a deputado estadual na próxima eleição é o vereador Julinho Rossignoli (Patriota).

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Da mesma forma, Marlon Siqueira (PP) é mais um entre os apontados como possíveis postulantes a uma cadeira na ALMG. A disputa ainda deve ter o nome de Nilton Militão (PSD), especulações que também alcançam os nomes de Bejani Júnior (Podemos) e André Luiz (Republicanos), além de Antônio Aguiar (DEM) e Pardal (PSL), que podem mudar de sigla após a fusão do DEM e do PSL para a criação do União Brasil.

Entre a bancada feminina, o nome da vereadora Kátia Franco Protetora (PSC) também tem sido especulado como possível candidata nas Eleições de 2022. Seu nome já foi aventado como possível postulante para a disputa da ALMG, deixando em aberto a possibilidade de buscar uma nova legenda. Outra que pode entrar na disputa é Tallia Sobral (PSOL) para compor uma possível chapa de sua legenda. Em 2018, ela foi candidata a deputada estadual pela sigla e somou 3.408 votos.

Pleito não altera configuração da Câmara

Nas eleições de 2018, após muitas especulações, a exemplo do que acontece hoje, seis vereadores locais também se lançaram na disputa. Charlles Evangelista (PSL) e o então presidente da Câmara, Rodrigo Mattos, então no PHS, disputaram uma cadeira na Câmara dos Deputados. Por outro lado, Adriano Miranda, então no PHS, Cido Reis (PSB), Betão (PT) e Delegada Sheila (PSL) tentaram uma vaga na ALMG.

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Disputa para as cadeiras dos Legislativos estadual e federal terá candidatos à reeleição e novatos; sem Margarida, petistas buscam novos nomes

Do grupo, três obtiveram sucesso nas urnas e acabaram eleitos. Betão e Sheilla foram eleitos deputados estaduais e devem tentar a reeleição em 2022. O mesmo acontece com Charlles Evangelista, que deve tentar renovar seu mandato na Câmara. A saída do trio da Câmara, já no início de 2019, alterou a configuração da última legislatura na Câmara. Betão abriu espaço para a volta de Juraci Scheffer ao Palácio Barbosa Lima. Eleita pelo PTC, Sheila abriu espaço para o retorno de Nilton Militão. Já com a saída de Charlles, eleito pelo PP em chapa formada com o PTB, deu lugar a Wagner França, então no PTB.

A saída do trio resultou em uma ligeira reconfiguração partidária da Câmara, na ocasião. Naquele momento, o PSL perdia dois vereadores, enquanto o PTC e o PTB voltavam a ter representantes no Poder Legislativo municipal, o que não durou muito tempo, visto que, entre março e abril de 2020, Nilton Militão seguiu para o PSD e Wagner França para o Cidadania. A possibilidade de reconfiguração partidária caso um vereador da atual legislatura seja eleito, contudo, não existe. Isso porque, nas eleições municipais de 2020, as coligações partidárias para a disputa proporcional não eram permitidas.

Suplentes

Entre os partidos cujos vereadores são ou foram especulados como possíveis candidatos nas eleições de 2022, o Patriota tem como primeiro suplente o ex-vereador João do Joaninho; o PSL, o ex-vereador André Mariano; o PT, o ex-vereador Wanderson Castelar; o PSB, o ex-vereador Jucelio Maria; o Podemos, o ex-vereador Chico Evangelista; o PSOL, Dandara Felícia; o PSC, Vitinho; o DEM, Leonardo Bello; o PP, Wesley Cardoso; o Republicanos, Elvis Advogado; o PTB, Roberto Moreira; e o PSD, Waldir Examinador.

Disputa pela Presidência tem 12 pré-candidatos; em Minas, governador busca reeleição

Para além dos arranjos locais na busca por uma maior representação parlamentar de Juiz de Fora, as eleições gerais de 2022 prometem uma discussão intensa tanto no âmbito nacional quanto no âmbito estadual, muitas vezes, colocando frente a frente atores políticos antagônicos. No caso da disputa pela Presidência, até aqui, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vem liderando as pesquisas de intenção de voto à frente do presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo.

A despeito disso, vários outros nomes tentam se cacifar naquilo que vem sendo chamado de terceira via, como o ex-ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro (Podemos); o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT); o governador de São Paulo, João Dória (PSDB); os senadores Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania); além do cientista político Felipe d’Ávila (Novo), o deputado federal André Janones (Avante); o ex-presidente da Câmara dos deputados e ex-ministro do Governo Dilma Rousseff, Aldo Rebelo (sem partido); e o coordenador do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), Leonardo Péricles (UP).

Disputa para a Presidência e o Governo de Minas promete discussão intensa

Já na disputa em Minas, o governador Romeu Zema (Novo), que já confirmou que tentará a reeleição, tem liderado com folga as pesquisas de opinião. Ele é seguido pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que, até aqui, parece como único adversário viável do atual governador. Outros nomes que já foram colocados como opções são os do senador Rodrigo Pacheco (PSD); os deputados federais Reginaldo Lopes (PT) e Áurea Carolina (PSOL); e o atual vice-governador Paulo Brant (PSDB).

Pesquisas apontam tendências, mas cenário não está consolidado

O cientista político Fernando Perlatto considera que ainda é precipitado pensar que a disputa nacional está consolidada, a despeito da força dos nomes de Lula e Bolsonaro, que já foram testados com sucesso nas urnas. “Várias coisas já aconteceram com o Lula e com o Bolsonaro ao longo desses últimos anos, e eles continuam tendo um eleitorado muito fiel”, avalia Perlatto. Contudo, ele considera que, a dez meses do processo eleitoral marcado para outubro, mudanças ainda podem acontecer.

Para Perlatto, vários fatores ainda podem influenciar na decisão de voto do eleitorado (Foto: Fernando Priamo)

“Um grupo do eleitorado do Bolsonaro pode, por exemplo, deslocar-se para a candidatura do Sérgio Moro. Ou do próprio Lula, em que, eventualmente, um grupo pode se deslocar para uma candidatura como Ciro, caso essa candidatura cresça. Ainda assim, (Lula e Bolsonaro) são dois candidatos que foram muito testados ao longo dos últimos anos e têm um voto, de fato, mais consolidado. O resultado está consolidado? Não”, avalia o cientista político.

Para Perlatto, a nove meses do processo eleitoral, vários fatores ainda podem influenciar na decisão de voto do eleitorado, principalmente, aspectos econômicos como a inflação e projetos sociais do Governo federal. “Muita coisa vai acontecer até a eleição. Nós não sabemos ainda o impacto que vai ter, por exemplo, a questão do Auxílio Brasil e de alguns dos programas que vêm sendo desenvolvidos pelo Governo Bolsonaro”.

O cientista político também pondera que ainda não é totalmente conhecido o real potencial de crescimento de candidaturas colocadas mais recentemente, como a do ex-juiz Sérgio Moro. “Isso ainda é uma incógnita. Por enquanto, todas as candidaturas da chamada terceira via têm mostrado um determinado teto e não estão conseguindo crescer. Mas, uma vez iniciado o processo, ainda não sabemos o que pode acontecer.” Para Perlatto, a história recente mostra que, ainda distante da eleição, os resultados nem sempre são previsíveis.

“O paradigma de 2018 está aí. A uma determinada distância da eleição, muitas pessoas acreditavam que Bolsonaro não poderia ser eleito. Mudanças podem acontecer não só antes, mas também dentro do próprio processo eleitoral”, considera o cientista político, citando, por exemplo, o atentado a faca sofrido por Jair Bolsonaro durante visita à Juiz de Fora na campanha eleitoral de 2018. “Uma série de acontecimentos que podem se desenrolar durante a campanha, o que acaba sendo imponderável e mudando o cenário”, resume.

Zema favorito

Já com relação à disputa pelo Governo de Minas, Fernando Perlatto considera que o governador Romeu Zema possui, na atual perspectiva da disputa eleitoral no estado, certo favoritismo para alcançar a reeleição. Na opinião do especialista, tal vantagem pode se dar pela falta de candidaturas competitivas colocadas em discussão até o momento, com a disputa resumida a um enfrentamento entre Zema e uma possível candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Outros nomes colocados como opção ainda buscam se cacifar para se viabilizarem na disputa. “Em relação ao Zema, existe um favoritismo natural, como as pesquisas vêm mostrando. Aqui, em Minas Gerais, existe uma variável fundamental, que alinha que, até o momento, teríamos no máximo uma segunda candidatura forte, que seria a do Kalil”.

Perlatto comentou ainda sobre especulações que apontam uma possível aproximação entre as possíveis candidaturas do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, ao Governo de Minas, e a do ex-presidente Lula ao Governo federal. “A gente ainda não sabe se vai haver ou não uma composição com o PT. A princípio, essa possibilidade se mostra difícil, mas pode ser que aconteça. Mas a questão é que não temos, no estado, uma terceira candidatura forte. Isso embola muito o cenário eleitoral. Zema se mostra favorito nesse contexto também por conta dessa ausência de um terceiro candidato que possa embaralhar um pouco e jogar a decisão para o segundo turno”, afirma o especialista.

Contudo, uma vez mais, Perlatto ressalta que o cenário não pode ser considerado definido. Por um lado, entende que ainda existe imagem para o crescimento de uma possível candidatura de Alexandre Kalil. Da mesma forma, observa que as discussões nacionais em torno da disputa pela Presidência da República podem ter reflexos na eleição no âmbito estadual. Vale lembrar, que, em 2018, Romeu Zema iniciou a disputa com baixa pontuação nas pesquisas de intenção de voto. Contudo, cresceu na reta final da campanha, quando também optou pela associação de seu nome ao então candidato à Presidência Jair Bolsonaro.

“A candidatura do Kalil tem potencial de crescimento. Sobretudo pelo fato de que a eleição nacional deve ter uma influência direta na eleição estadual. O PSD se articula fortemente no cenário nacional. Dependendo do apoio que Kalil conseguir construir, ele pode ter palanques fortes. Se conseguir construir um palanque com Lula, por exemplo, além de outros setores, ele tem chances. Logo, o cenário não está definido. Zema é favorito, mas o Kalil tem muito potencial de crescimento”, avalia o cientista político, considerando o cenário de momento.

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