Juntos, Lyderson Viccini, professor do Instituto de Ciência Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Mônica Ribeiro, professora do Departamento de História, somam quase 60 anos de docência na instituição. A dupla encabeça a Chapa 2, “UFJF que eu quero”, que disputa a consulta pública para gerir a reitoria da instituição durante o quadriênio 2024-2028. Com experiência em gestão e coordenação dentro de seus respectivos departamentos, os dois ainda guardam uma peculiaridade: a relação com a UFJF começou quando eram alunos do Colégio João XXIII. Em seu programa de gestão, a Chapa 2 aponta cinco eixos principais de orientação – planejamento, gestão, inclusão, sustentabilidade e internacionalização -, um dos assuntos abordados por eles na entrevista a seguir.
Tribuna – Como se deu a formação da chapa?
Lyderson Viccini – O processo surgiu a partir de um movimento que chamamos de movimento orgânico. Algumas pessoas começaram a me procurar já no final do ano passado, docentes, técnicos, estudantes e até terceirizados, estimulando que eu pensasse sobre, talvez pelas minhas posturas no ensino superior, pela minha trajetória. Esse grupo começou a se reunir e houve uma convergência de ideias muito grande. A gente considerou então a possibilidade de, por sugestão do próprio grupo, lançar uma proposta. Convidamos a professora Mônica, que no início da discussão ainda não fazia parte desse grupo. A partir de então foi uma absoluta convergência de ideias.
Quais os problemas a chapa enxerga hoje na gestão da Universidade?
Lyderson – Os nossos sistemas de operação são muito asfixiados. O que nos leva ao retrabalho, a fazer a mesma tarefa mais de uma vez. Precisamos construir um sistema de gestão mais eficiente. A Universidade era pequenininha um tempo atrás, hoje ela é muito maior, mas continua operando mais ou menos do mesmo jeito. Isso está fazendo com que tenhamos um potencial enorme, que acaba não se materializando, ou pelo menos não com a intensidade e plenitude que poderia, considerando as amarras que temos hoje no nosso sistema de gestão. Dentro dessa política de tornar a gestão um pouco mais fluida, mais operacional, uma questão que nos preocupa muito é, por exemplo, a dificuldade que a Universidade tem hoje para captar recursos e fazer esses recursos serem executados com a maior celeridade possível. Quando a gente fala de captação, uma coisa é você ter a sua matriz orçamentária, que vem do Governo Federal, outra coisa é você se relacionar com empresas, por exemplo. O “time” (tempo) das empresas é completamente diferente do “time” da Universidade, então existem vários casos de colegas nossos que não conseguiram captar recursos da empresa em função da morosidade dos processos dentro da Universidade. Outra questão que a gente precisa avançar é na pós-graduação. Nós crescemos muito, mas é importante lembrar que, apesar das políticas da Universidade que permitiram o crescimento da pesquisa, a gente tem que entender que a UFJF tem um crescimento tardio na pesquisa na pós-graduação quando você compara com as outras. Hoje nós temos três programas de pós-graduação em nível de excelência, mas temos muito mais do que três programas, nós temos 45. Precisamos agir de tal maneira que a gente traga todo parque de pesquisa de pós-graduação da Universidade a um patamar de excelência.
Mônica Ribeiro – Hoje nós padecemos de um mal, do qual outras universidades no Brasil também estão padecendo, que são os problemas relativos ao assédio dentro do ambiente estudantil. Não é uma característica específica da UFJF. Nossa instituição hoje carece de um sistema mais amplo para fazer esse acolhimento das denúncias, o acolhimento da vítima. É muito importante que os passos da instituição estejam claros. Hoje, a gente tem ouvidoria, mas a ouvidoria está dentro do gabinete do reitor, as pessoas não têm privacidade para fazer as denúncias. Precisamos de um protocolo muito claro quando você é vítima de determinado assédio.
Como vocês pensam a resolução desses problemas e quais outras propostas da chapa, além dos cinco eixos, merecem ser destacadas?
Lyderson – Os cinco eixos a que você se refere são planejamento, gestão, sustentabilidade, internacionalização e inclusão. São eixos transversais em toda a proposta, mas há outros aspectos, como é o caso do ensino, da pesquisa, da pós-graduação, da extensão, da inovação, também passando pelas ações afirmativas, pelo apoio estudantil e até pela política de comunicação. Em todo o conteúdo programático você vai perceber os cinco eixos acontecendo. E chamamos atenção muito especificamente sobre as questões de planejamento e gestão. Pensamos no planejamento de curto, médio e longo prazo, uma política de estado e não de governo, que não seja um planejamento do reitor, mas um planejamento da Instituição. Temos que trabalhar mais para evitar o incêndio do que apagar o incêndio, e só acreditamos que isso seja possível com um planejamento muito estruturado, muito sistêmico, e uma questão fundamental para o planejamento é o diagnóstico. Para esse diagnóstico, precisamos de muita informação precisa, clara, sobre os vários aspectos da Universidade. Hoje temos um sistema de informação muito deficiente. As informações existem, mas estão dispersas, os sistemas não conversam entre si. Existe uma narrativa, quando a gente faz esse discurso, de que essa é uma questão tecnocrática, que exclui as pessoas, e na verdade é o contrário. Ela não é tecnocrática, ela não é tecnicista, ela é pragmática no sentido de tornar a vida das pessoas melhor, porque na medida em que você dá fluidez ao processo, a vida, a atividade das pessoas melhora. Para a captação de recursos, temos a proposta de um Escritório de Projetos, que vai centralizar essas demandas. Hoje o pesquisador que faz um contato com alguma empresa tem quase que sozinho resolver todos os imbróglios do ponto de vista burocrático. Para que ele consiga captar esse recurso, tem que ficar batendo de porta em porta, pegar assinatura de um, assinatura de outro. Qual é a ideia? O pesquisador recebe esse contato, vai direto ao Escritório de Projetos e lá a gente vai ter uma equipe que vai cuidar desse fluxo. Imaginamos que daremos mais celeridade. Trazer as pós-graduações a um patamar de excelência não se dará a curto prazo, até porque as avaliações são quadrienais, mas a gente entende que políticas fortes nessa área precisam acontecer. Uma outra questão importante é fazer da internacionalização uma cultura da Universidade. Se você adensa eventos associados à internacionalização, os alunos da graduação estão vendo isso acontecer do seu lado, essa efervescência acadêmica começa a contaminar, no bom sentido. Isso é um passo importante para impulsionar a Universidade em nível nacional e em nível internacional. Quanto mais parcerias, quanto mais networking, mais você vai expandindo possibilidades e visibilidade da universidade.
Mônica – São urgentes propostas que possam criar políticas e programas contra o assédio, de educação da população, não podemos mais normalizar esses atos. Outro fator também são as políticas contra a violência. Tanto a violência de gênero quanto a violência de raça demandam que tenhamos a dimensão de seu impacto e propor políticas educadoras em todos os sentidos. Políticas contra o racismo, contra LGBTQIA+ fobia… temos que atuar em todas essas frentes. Sobre os dados, para se ter uma ideia de como são importantes, nós estamos passando uma fase hoje de muita evasão dentro das universidades, de muitas vagas ociosas. Nós só vamos poder definir políticas e buscar soluções para esse processo na medida em que a gente entender qual é o impacto nos diferentes cursos. Nós temos um apoio estudantil tão forte aqui na UFJF, pago com recursos do Governo federal, subsidiados pela Universidade, que é o chamado apoio estudantil, R.U., alimentação, transporte, residência. Nós temos que saber se aquele aluno apoiado está evadindo da Universidade. Se ele está evadindo, o apoio está sendo suficiente ou insuficiente? Os problemas da graduação são também multifatoriais, mas existem questões que são próprias da nossa universidade, que exigem muito planejamento, muita atenção e também sensibilidade para fazer esse acompanhamento.
Sobre o Hospital Universitário (HU), quais os planos da chapa?
Lyderson – Com relação ao HU nós entendemos sob dois aspectos: o da formação, porque ele é um hospital de ensino, e ao mesmo tempo um hospital que presta assistência à comunidade. Existem serviços na região que são feitos exclusivamente no Hospital Universitário, então ele precisa ser fortalecido, e a interlocução será máxima com o gestor do hospital. Vamos trabalhar para que as verbas, separadas hoje dentro do Plano de Aceleração do Crescimento do Governo federal para terminar as obras do HU, cheguem à universidade e que possamos concluir aquele prédio que foi iniciado.
Tribuna – Suas considerações finais, por favor?
Lyderson – Reforçar o motivo pelo qual nos apresentamos candidatos. Há um desejo muito grande da nossa parte de enfrentar questões complexas e contribuir para mudar sistematicamente a UFJF. Não adianta atuarmos de forma setorizada. A Universidade fez uma opção ao longo da sua história – e aqui não tem uma desconstrução do passado, não tem juízo de valor, cada um que passa dá a sua contribuição da forma como pode -, mas nós entendemos que temos um olhar diferente para esse momento e que ela carece dessa intervenção. Se não atuarmos, começaremos a ter problemas de crescimento, porque os processos estão asfixiando a Universidade. Acredito que eu e a Mônica, com a experiência, o olhar e a vontade que nós temos, podemos olhar para um projeto diferente para a Universidade. Acreditamos que podemos fazer mais, melhor e mais rapidamente. Eu tenho usado sempre que os sonhos não envelhecem, como diria assim poeta, né!? A gente tem essa vontade muito grande de mudar, e acho que esse olhar é preciso.
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