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‘Marcha reversa’ à que originou golpe civil-militar em 64 chega a Juiz de Fora

Marcha da Democracia Felipe Couri
Marcha da Democracia Joao Vicente Goulart Felipe Couri
João Vicente Goulart, filho de João Goulart, presidente deposto no golpe, participou da marcha em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri)
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Na tarde desta segunda-feira (1º), quando completaram-se 60 anos do dia em que a ditadura militar foi instaurada no Brasil, a Praça Antônio Carlos (PAC) recebeu a Marcha da Democracia, evento que relembra o acontecimento que marcou a história política do país. Em 1964, tropas militares saíram de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro para instauração do movimento. Nesta segunda, 60 anos depois, movimentos sociais realizaram o que chamaram de “marcha reversa”, remetendo ao trajeto feito pelos militares naquela ocasião.

No caminho inverso ao que as tropas comandadas pelo general Mourão Filho realizaram em 1964, caravanas se encontraram com familiares de pessoas torturadas e desaparecidas durante a ditadura militar nesta segunda-feira. Debaixo de uma tenda montada na PAC, com faixas exibindo 70 desses nomes, mais de mil pessoas homenagearam a memória das pessoas que desapareceram durante o período e também aquelas que resistiram a prisões e torturas.

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João Vicente Goulart, filho de João Goulart, presidente deposto no golpe, participou da marcha e afirmou, durante discurso no evento, que não se trata de “remoer qualquer coisa”.

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“Estamos dizendo que esse país não pode mais aguentar ameaças de ditadores”, declarou, dizendo ser grato a Juiz de Fora por “dar um exemplo ao Brasil inteiro de que, após 60 anos, nós não retardaremos o processo e a memória daqueles que lutaram por essa pátria”.

Clodesmidt Riani Filho, filho de Clodesmidt Riani, líder sindicalista natural de Rio Casca, na Zona da Mata mineira, que foi condenado, ficou preso por seis anos e sofreu a perda do seu mandato como deputado durante a ditadura, também participou da marcha. À Tribuna, Clodesmidt disse que esta é uma forma de evitar que casos como o de seu pai e “de vários que sofreram, foram presos, torturados, assassinados e exilados”, se repitam. “É a luta dessas pessoas que a gente tem que saudar. Tem que agradecer e homenagear essas pessoas”.

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História e memória

Entre as pessoas que participaram da marcha reversa estava Douglas de Oliveira Ramos, participante da ONG Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Ele explica o objetivo de participar do movimento: “É uma pauta que a gente já vem trabalhando há bastante tempo. Eu sou novo, tenho 21 anos, não passei pelo golpe militar e quero aprender mais sobre esse momento histórico e lutar pela democracia”.

Ele veio de Petrópolis, junto a outros jovens da ONG. Na cidade, aconteceu a primeira parada, onde foram entregues 100 quilos de leite em pó pelos participantes da marcha. O alimento será distribuído pela Defesa Civil para os atingidos pelas chuvas que atingiram Petrópolis em março.

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“A gente faz parte de um grupo nacional chamado ‘Tortura Nunca Mais’, e nesse grupo tem membros que perderam familiares e foi montada toda essa estrutura”, explica Douglas, referindo-se ao número de pessoas que se organizaram para participar da marcha, vindas do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de São Paulo e de outras cidades da Zona da Mata.

A bordo do “Riani”, ônibus que homenageou o mineiro Clodesmidt Riani, vieram Luiz Tura, 81, e Lourdes Tura, 80, do Rio de Janeiro. “Eu estava entrando na faculdade de sociologia quando houve o golpe. Então a gente sentiu muito, porque estávamos exatamente estudando as relações sociais e vimos acontecer as maiores atrocidades no golpe.

Inclusive, muitos dos colegas, amigos, foram presos e torturados. Quando saíam da prisão, nos contavam as torturas que sofreram e todos os horrores que foi esse processo. Era uma coisa que não tinha explicação”, relembrou a professora aposentada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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Marcha da Democracia relembrou o acontecimento que marcou a história política do país (Foto: Felipe Couri)

Reinstalação de placa em homenagem a João Goulart

Além de pessoas que participam de movimentos sociais em diversos estados do país, também participaram da Marcha da Democracia, em Juiz de Fora, nesta segunda, parlamentares da cidade e do estado, além da prefeita Margarida Salomão (PT), que entregou um ato de desagravo a representantes das famílias presentes.

Também nesta segunda, a prefeita reinstalou a placa de denominação da Avenida Presidente João Goulart, no Bairro Cruzeiro do Sul, na Zona Sul de Juiz de Fora, na presença os familiares de Clodesmidt Riani e de Denise Goulart, filha do ex-presidente João Goulart.

Durante a reinstalação da placa, a prefeitura de Juiz de Fora destacou que trata-se de um marco importante para Juiz de Fora, que aprovou, em 2000, a nomenclatura da avenida que liga a Avenida Barão do Rio Branco à Estrada União Indústria, em homenagem ao presidente. Margarida lembrou que João Goulart esteve na cidade muitas vezes, trazido por Clodesmidt Riani, e que eles colaboraram politicamente com Juiz de Fora.

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