A Rede Minas, administrada pela Secretaria de Comunicação Social do estado de Minas Gerais, estreou, na última segunda-feira (22), uma animação infantil chamada “Danizinha protetora”. O desenho tem a personagem principal inspirada na vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, Daniela Linhares, além de outros membros de sua família. A animação é descrita nas redes sociais e pela própria Empresa Mineira de Comunicação (EMC) como um programa com propósito “proteger as crianças contra ameaças que podem tirá-las da sua infância”. Em um dos seus materiais de divulgação, também há a frase: “Menino e menina: Deus fez os dois para a sua glória!”, com fundo azul no lado dos meninos e fundo rosa no lado das meninas. Após repercussão, o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos pediu que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investigasse o caso por possível preconceito de gênero.
O programa “Danizinha protetora” vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 8h, e também tem seus episódios divulgados no YouTube. Cada vídeo dura cerca de 10 minutos, e todos são musicados. No segundo episódio da primeira temporada, intitulado “Obedecer”, a protagonista ensina o público a soletrar essa palavra. “B, de bênçãos que somente Deus pode dar. (…) C, de contemplar tudo o que Deus fez. (…) Papai, mamãe e Deus eu sempre vou obedecer”, diz Danizinha. Além da polêmica, a gestão da EMC está sofrendo críticas pela oposição a Zema desde que a reforma administrativa foi feita pelo governo. Nessa modificação, a Rede Minas passou a estar sob o guarda-chuva da recém-criada Secretaria de Comunicação.
Em texto ao qual a Tribuna teve acesso, o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos afirma que a propaganda do programa “causou espécie” ao colegiado, tendo em vista os esforços ao combate de “qualquer forma de preconceito e, sobretudo, a doutrinação de crianças e adolescentes para uma visão única da realidade”. Sendo assim, também destacou a laicidade do Estado e reforçou o aritgo 3º, da Constituição Federal, em que os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil seriam de “construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
EMC nega conteúdos doutrinários
Em nota enviada à Tribuna, A Empresa Mineira de Comunicação esclarece que o programa Danizinha Protetora “trata de valores e princípios universais, como respeito aos pais, animais, diversidade e meio ambiente, sem conteúdos doutrinários ou proselitistas”. Além disso, foi afirmado que todos os episódios destinados à transmissão na emissora foram cuidadosamente revisados e não contêm qualquer tipo de preconceito. “O programa passou pela aprovação do Conselho Curador, que conta com representantes da sociedade civil, empresa e governo”, afirmam.
A atração é exibida por meio de parceria estabelecida através de Termo de Cessão Não-Onerosa, sem ônus para as partes. “A EMC reitera, aqui, o respeito à pluralidade de credos no país e reforça o seu papel como defensora na luta contra a segregação baseada na fé. Prova disso é a grade da emissora, que mantém missa dominical, programas como Mãe Maria, entrevistas, reportagens e transmissão de eventos com líderes de religiões de matriz africana, entre outras”, continuam.
Abaixo-assinado pede retirada do programa da Rede Minas
Um abaixo-assinado foi feito pelo coordenador da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos em Minas Gerais e por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pedindo que o programa seja retirado da grade da Rede Minas. O documento afirma que Danizinha Protetora “fere os direitos humanos à medida em que transmite conteúdos que denotam violências de gênero e raciais incompatíveis com a dignidade da pessoa humana e com o nosso arcabouço jurídico”. A publicação on-line já conta com mais de 1.400 assinaturas.