Dados do Ministério da Saúde indicam que 539 pessoas podem ter recebido doses da vacina contra a Covid-19 com prazos de validade vencidos em 54 municípios de Minas Gerais. Apenas na Zona da Mata, 34 doses aplicadas fora do prazo de validade foram identificadas. De acordo com a apuração do jornal O Tempo, algumas prefeituras relatam equívocos no envio das fichas ou falhas no sistema e negam o ocorrido. A diferença entre as datas de vencimento e de aplicação chega a 25 dias. Em Juiz de Fora, de acordo com a Prefeitura, todas as doses foram aplicadas antes da data prevista para vencimento do produto.
O problema envolve as duas remessas do imunizante Covishield (AstraZeneca/Fiocruz), mais especificamente os lotes 4120z001 e 4120z005, importados da Índia para o Brasil já com os fármacos envasados. As validades eram de seis meses a partir da fabricação, em outubro do ano passado, e expiraram nos dias 29 de março e 14 de abril, respectivamente.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que, até o momento, não recebeu nenhuma notificação formal das prefeituras informando a possível utilização de vacinas fora do prazo de validade.
Cartão de vacinação contém informações
De acordo com a secretaria, pessoas que receberam doses vencidas deverão tomar uma nova injeção para obter a imunização correta. O cidadão pode verificar o fabricante, o número do lote e a data da aplicação no cartão de vacinação e, caso suspeite ter sido vítima de erro, deverá procurar o serviço de saúde. “A SES-MG esclarece que a administração de vacina fora do prazo de validade é considerada inválida e orienta os municípios que registrem a ocorrência e administrem outra dose de vacina”, diz o comunicado.
Questionada pela reportagem do jornal O Tempo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira da AstraZeneca no Brasil, ressaltou ter entregue os lotes com mais de dois meses de antecedência em relação aos vencimentos. A instituição não comentou os possíveis efeitos colaterais, mas alertou que o uso fora da validade pode comprometer os resultados esperados da imunização contra a Covid-19.
Sobre o risco aos pacientes, o Programa Nacional de Imunização (PNI) determina que qualquer ocorrência médica num período de 30 dias após a injeção, independentemente dos sintomas e da eventual relação com a aplicação, deve ser considerada como um evento adverso pós-vacinação e notificada às autoridades de saúde para o devido monitoramento do paciente.
Prefeituras negam uso irregular
Segundo os registros, a cidade mineira com o maior número de aplicações suspeitas é Governador Valadares. Ao todo, 125 pessoas teriam tomado doses do primeiro lote com atrasos de entre 3 e 22 dias após o prazo adequado.
Em nota, a prefeitura daquele município informou que averiguou os casos nas unidades onde foram realizadas as aplicações e não identificou doses administradas após a validade. Entretanto, não explicou a existência dos registros no sistema oficial. “É importante ressaltar que todos os profissionais envolvidos no processo trabalham com extrema responsabilidade com a vida das pessoas vacinadas”, diz o comunicado.
Em seguida está Belo Horizonte, com 80 casos no total, sendo 70 deles no Centro de Saúde Cabana, na Região Oeste da capital. Questionada, a Prefeitura de BH informou ao jornal O Tempo ter iniciado uma apuração e concluído que não houve utilização de doses vencidas no Cabana e, sim, equívoco no envio dos dados de pessoas vacinadas em um posto móvel localizado no bairro homônimo.
“Foram verificados os cartões de vacinação dos usuários. O que ocorreu foi o efetivo lançamento no sistema após o prazo de vencimento. As aplicações foram feitas no dia 27 de março, data anterior à validade do imunizante. A vacinação aconteceu em um ponto de drive-thru, e o registo está vinculado ao Centro de Saúde Cabana, unidade mais próxima do local”, detalhou a Prefeitura de Belo Horizonte.
A reportagem do O Tempo também questionou a prefeitura da capital a respeito dos outros dez casos suspeitos e ainda aguarda a resposta. “Adotando o mesmo procedimento de apuração, as demais situações estão sendo averiguadas, e a Secretaria Municipal de Saúde está avaliando os cartões de vacinação dos usuários. Até o momento, não foi constatada nenhuma irregularidade nas aplicações”, informou a PBH.
Outros municípios com número consideráveis de registros de aplicações vencidas também negaram o problema. Em nota publicada nas redes sociais, a Prefeitura de Botelhos garante que as 52 doses suspeitas foram aplicadas dentro da validade, mas não explica a divergência nos registros. Segundo o município, as injeções do primeiro lote foram todas administradas até o dia 5 de março, e as do segundo, até 10 de fevereiro. “Fiquem tranquilos”, diz o texto.
Em Mendes Pimentel, a servidora responsável pela sala de vacinação também negou o uso de 22 imunizantes vencidos e apontou uma falha na plataforma digital do Ministério da Saúde. Segundo ela, os lotes da AstraZeneca teriam sido registrados de forma automática e equivocada em fichas de pacientes vacinados corretamente com doses de outras remessas.
O Ministério da Saúde foi procurado para esclarecer os supostos erros no sistema, mas ainda não respondeu.