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Bombeiros e cientistas criam centro de pesquisas sobre risco de desastres

rua rosa sfeir é exemplo de riscos de desastres naturais
Área de risco na Rua Rosa Sfeir, problema histórico de Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri)
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Os efeitos das mudanças climáticas têm acendido sinal de alerta no Poder Público, e a busca por soluções que minimizem desastres naturais têm sido uma corrida contra o tempo. No último mês, os alagamentos no Rio Grande do Sul chamaram atenção de todo o país e muito tem se discutido sobre alternativas para evitar catástrofe parecida em outras regiões. Em Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros (CBMMG), em parceria com instituições de ensino superior do estado, criou o Centro Intersensorial de Pesquisas em Alterações Climáticas e Redução do Risco de Desastres (Cipard). A iniciativa pioneira foi oficializada em abril deste ano com o objetivo de aprimorar a gestão de riscos e a resposta a desastres em Minas. 

O major Vitor Leite, chefe do Cipard, afirma que a expectativa é de que o Centro se torne referência na área. Entre as ações previstas estão a apresentação de um panorama dos principais riscos no estado e o apontamento de soluções para que seja construída uma sociedade mais segura. “Como toda instituição de ensino superior, a Academia de Bombeiros Militar (ABM), desde 2011, preza pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido, o Cipard é responsável por atuar na coordenação intersetorial da atividade de pesquisa vinculada à temática de alterações climáticas e redução do risco de desastres. Tais pesquisas envolvem, além do corpo discente e docente vinculado às graduações e pós-graduações ministradas na ABM, diversas outras instituições de ciência e tecnologia.” 

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Universidades parceiras

A iniciativa conta com a colaboração de diversas universidades, sendo que algumas já estão com pesquisas e especializações em andamento, e outras ainda em fase de elaboração. Entre essas estão a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal Fluminense (UFF), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). 

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O Cipard já está instalado fisicamente na Academia de Bombeiros Militar, em Belo Horizonte. Atualmente, o espaço possui uma estrutura de quatro salas, um laboratório de ciência, tecnologia e inovação e uma biblioteca com mais de 7 mil volumes, além do acervo digital. O projeto de expansão da estrutura está em fase de finalização, sendo que o espaço a ser dedicado ao novo centro contará com 2.970 m², incluindo seis salas de aula e oito laboratórios. Essa nova estrutura será usada por todos os colaboradores. Além disso, o CBMMG irá apoiar as universidades na aquisição de equipamentos vinculados às pesquisas na temática. 

JF é terceira em áreas de risco 

De acordo com dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Juiz de Fora ocupa a terceira posição entre as cidades mineiras com mais áreas de risco geológico. Entre mais de 1.600 municípios do Brasil, a cidade está em 15° lugar. Atualmente, a cidade tem 142 áreas de risco geológico, com possibilidade de deslizamentos de terra, e 27 de risco hidrológico, referente a inundações. Em entrevista à Tribuna, publicada em fevereiro deste ano, a Defesa Civil informou que todos os locais são monitorados constantemente, o que fornece embasamento para ações de prevenção. 

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Rua José Orozimbo de Oliveira, no Bairro Santa Luzia, após deslizamento de terra em novembro do ano passado (Foto: Felipe Couri)

O major Vitor Leite comenta que o CBMMG já atua diretamente nos 853 municípios de Minas Gerais fazendo, em conjunto com outras agências, a gestão do risco de desastres, porém, ele destaca que é preciso compreender com maior profundidade tais casos, com pesquisas mais focadas. “Como exemplo, cito uma pesquisa em execução na UFJF, na área de movimento de massas, com a participação e acompanhamento de professores vinculados a Programas de Pós-Graduação e bombeiros especializados na área. Essa pesquisa investigará de forma profunda como esses movimentos ocorrem, podendo apresentar soluções técnicas ou medidas para prevenir ou mitigar tais riscos.” 

‘Cipard é a salvação de Minas’ 

“O Cipard, no contexto do que está acontecendo no Rio Grande do Sul, é a salvação de Minas Gerais”, alerta o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, Fábio Roland, um dos parceiros da iniciativa. Roland explica que os especialistas sabem identificar as mudanças nos padrões do meio ambiente, o que pode contribuir para evitar ou minimizar desastres, já que “a natureza avisa”. 

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O professor também é coordenador do Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (Niassa), responsável por diversas ações ambientais, como o projeto de restauração ecológica na Fazenda Experimental da UFJF e pesquisas sobre prevenção de deslizamento de encostas através do reflorestamento. 

“O Niassa é o laboratório vivo do Centro, porque se ocorrer alguma mudança de comportamento nos animais que vivem aqui na Fazenda, nós sabemos que tem algum problema, pode ser a água subindo, pode ser queimada, pode ser caça ou qualquer outro evento que não é natural.  A partir daí faremos uma conexão com Juiz de Fora para avisar e entender o que está acontecendo, e assim será nas demais cidades mineiras”, afirma o pesquisador. 

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