Um homem de 60 anos, criador de gado na cidade de Mantena, no Leste de Minas Gerais, foi diagnosticado com raiva humana após ter contato com um bezerro infectado com a doença. Ele encontra-se internado em estado grave em um hospital no estado do Espírito Santo. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde do Espírito Santo (Sesa-ES) após resultado das análises clínicas do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf).
Por outro lado, a Secretaria de Estado de Minas Gerais (SES-MG) trata o caso como suspeito e afirmou, em nota, que ele segue em monitoramento e investigação, “aguardando o processamento das amostras coletadas para exames pelo laboratório considerado como referência nacional para raiva (Instituto Pasteur)”.
Conforme o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (CIEVS-Minas), o caso já estava sendo investigado desde a última sexta-feira (14). O homem teria dado entrada no dia 7 de abril em um hospital em Barra de São Francisco, município do Espírito Santo que fica a cerca de onze quilômetros de Mantena, onde ele morava. Na ocasião, ele apresentava confusão mental e, devido a piora clínica, teve que ser internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
Familiares afirmaram que, antes de apresentar os sintomas, o homem havia manuseado um bezerro que apresentou comportamento atípico e salivação excessiva. O produtor rural, ao se deparar com a angústia do bezerro, imaginou que ele estava engasgado e, para tentar salvá-lo, introduziu a mão dentro da boca do animal em uma tentativa de desengasgá-lo.
Dias depois, o bezerro apresentou piora no quadro, e o produtor tomou a decisão de sacrificá-lo e incinerá-lo para evitar que outros animais fossem acometidos pela mesma doença. No entanto, o homem não pensou na possibilidade daquele ser um quadro de raiva e, por isso, não procurou previamente os serviços de saúde.
Passados alguns dias, com a manifestação dos primeiros sintomas, ele procurou uma unidade de saúde em Mantena. Devido à gravidade do quadro, ele foi transferido para o hospital no Espírito Santo. Conforme a última atualização da Sesa-ES, após transferências, o paciente está internado no Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, no município da Serra.
Em nota, a Sesa afirmou que o caso foi informado ao Ministério da Saúde, à Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e à Secretaria Municipal de Saúde de Mantena.
Doença é controlada em centros urbanos
Ao longo de 2022, segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados cinco casos de raiva humana no Brasil, quatro deles em Minas Gerais. Os casos foram notificados em uma aldeia indígena no município de Bertópolis, na região do Vale do Mucuri, sendo dois adolescentes de 12 anos e duas crianças de 4 e 5 anos. Conforme a SES-MG, os quatro pacientes vieram a óbito. O outro caso ocorreu no Distrito Federal, com a infecção de um adolescente entre 15 e 19 anos.
Como mostram os números e o médico infectologista Marcos Moura reforça, a raiva humana não é uma doença comum e nos centros urbanos é controlada. O vírus da doença circula no meio silvestre, sendo o principal vetor o morcego hematófico, ou seja, aquele que se alimenta do sangue de outros animais. O morcego pode servir como transmissor do vírus para animais domésticos ou de fazenda. “Nas cidades, se o esquema de vacinação é bem feito, a raiva tende a ser controlada. Novos casos surgem apenas em casos de acidentes, ou se o padrão vacinal for quebrado.”
O vírus atua de forma lenta, e pode ficar incubado em animais até 45 dias antes da aparição dos sintomas. Ele é transmitido através de mordida ou arranhadura de um animal infectado. Conforme Moura, os primeiros sintomas da doença são agressividade e convulsões, podendo evoluir para uma paralisia completa, culminando na morte. “Quanto maior a lesão e quando mais perto do cérebro, mais rápida e mais grave é a evolução da doença.” No entanto, o quadro mais crítico pode ser evitado se o paciente procurar rapidamente uma unidade de saúde. “Após o acidente, dá tempo de aplicar um soro hiperimune para bloquear a transmissão do vírus, ou iniciar a vacinação como forma profilática para tratamento da doença.”
Vacina antirrábica
A principal forma de prevenção da raiva é a vacina. Para humanos, ela é indicada apenas para profissionais de vulnerabilidade, ou seja, que lidam diretamente com animais silvestres, sejam veterinários, fazendeiros e profissionais de laboratório, por exemplo. A vacina também deve ser aplicada como tratamento após a exposição ao vírus. Além disso, pessoas que viajam para locais de alto risco também devem tomar o imunizante.
Por outro lado, em caso de animais, sejam domésticos ou de fazenda, a vacinação antirrábica deve ser realizada periodicamente. Ela é obrigatória para cães e gatos. Os cachorros devem receber a primeira dose aos 6 meses ou de acordo com a recomendação do médico veterinário responsável. Geralmente é ministrada uma semana após a primeira dose da óctupla e o reforço deve ocorrer anualmente.
Além disso, é preciso prevenir o contato com animais supostamente infectados. Como afirma Marcos Moura, caso um animal apresente comportamento agressivo, mesmo que tenha sido vacinado, ele precisa ser isolado e encaminhado para um veterinário para fazer uma avaliação. O mesmo deve ser feito em caso de qualquer acidente envolvendo um animal silvestre.
Medidas de controle da raiva
A SES-MG informou que segue, rotineiramente, desenvolvendo o Programa de Vigilância, Profilaxia e Controle da Raiva, em Minas Gerais. Dentre as medidas listadas pela pasta estão:
• A notificação de qualquer suspeita de raiva animal ou humana em 24 horas;
• Realização de bloqueio de foco, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde;
• Em casos de agressão por cães, gatos ou outros animais, orientação à pessoa exposta para lavar o ferimento com água e sabão e procurar imediatamente assistência médica;
• Notificação e investigação dos casos de atendimento antirrábico humano, monitoramento do tratamento profilático antirrábico e análise regular do banco de dados do Sinan;
• Intensificação de capacitações de profissionais de saúde sobre a indicação adequada dos esquemas de profilaxia;
• Execução do monitoramento de circulação viral com o envio de amostras biológicas para diagnóstico laboratorial da raiva e intensificação das ações de educação em saúde, visando reduzir as agressões por animais, além da tão importante vacinação anual de cães e gatos