Nos primeiros momentos após o nascimento, os recém-nascidos têm seu estado de saúde avaliado na sala de parto em uma escala de zero a dez, chamada Apgar. A pontuação leva em conta aspectos como a cor da pele, a frequência cardíaca, a respiração, o reflexo e a força muscular. No caso de Ronan, nascido prematuramente com exatamente 867 gramas, a pontuação foi um. Por esse motivo, o bebê precisou ficar quase oito meses internado. Ele sobreviveu e recebeu alta há poucos dias.
Gleiziane Messias da Silva, a mãe de Ronan, conta, em entrevista à Agência Minas, que a gravidez era um sonho desde o casamento, mas uma obstrução das tubas uterinas impossibilitava essa realização. “Fiquei muito deprimida. Comecei a trabalhar para esquecer, mas nunca deixei de ter fé de que um dia teria um filho”, relatou a mãe.
Trabalhando em Santa Bárbara, onde mora atualmente, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e já na fila de espera para uma inseminação artificial, certo dia, Gleiziane sentiu algumas dores na coluna, mas não acreditou que pudessem ser oriundas de uma gravidez.
Ao sentir os primeiros chutes na barriga, Gleiziane foi aconselhada por uma colega de trabalho a ir ao médico, que, por sua vez, confirmou a gravidez. A notícia foi uma surpresa para todos e foi recebida com enorme alegria por ela e o pai de Ronan, Claudio Messias da Silva.
Oito meses internado
A bolsa de Gleiziane rompeu com aproximadamente 6 meses de gestação, na 26ª semana. Ao chegar à Maternidade Odete Valadares, em Belo Horizonte, ela já estava em trabalho de parto e, pouco tempo depois, Ronan nasceu. O parto, normal, ocorreu sem nenhuma complicação e durou cerca de oito minutos. Logo no início, os médicos alertaram a família sobre as baixas chances de sobrevivência de um nascido prematuro extremo. Ronan permaneceu internado durante 251 dias – quase oito meses.
Durante esse período foram muitas as complicações, características de casos de prematuro extremo, entre elas: síndrome do desconforto respiratório, displasia broncopulmonar, apneia da prematuridade, hemorragia intraventricular, pneumonia, anemia e broncoespasmo.
Ana Carolina Neves Rodrigues, Coordenadora da Neonatologia e responsável técnica da UTI Neonatal da Maternidade, acompanhou o caso de Ronan e reforçou a força e a resiliência de Gleiziane.
“Foi um processo longo, cheio de incertezas. Ele ficou muito grave várias vezes. A mãe ficou conosco na Casa da Gestante e esteve diariamente na unidade. Sempre que possível, o pai também estava presente. Até nos momentos de angústia estavam resilientes e a mãe sempre manteve o sorriso no rosto”.
Em um desses momentos, Ronan quase morreu nos braços dos pais. “Toda semana era uma notícia diferente. Passamos por muita coisa, mas nunca me desesperei. Fiquei esse tempo todo sem ‘arredar’ do hospital e sempre tive fé que daria certo”, afirmou a mãe.
Um novo nascimento
Depois de vários meses internado, Ronan recebeu alta da Maternidade Odete Valadares e, há poucos dias, foi para casa saudável e forte. Com mais de seis quilos, o momento da foi comemorado não só pelos pais, mas também pela equipe que o acompanhou e tanto fez por ele.
“É muito especial falar do Ronan por conta da resiliência, da paciência e da confiança que a família teve nas situações difíceis. Aprendemos muito com eles. Geralmente, estamos preparados para atender até 28 dias, mas, em alguns casos, o bebê pode ficar mais tempo. É uma satisfação ele poder ir para casa”, comentou a enfermeira neonatologista e de cuidados paliativos, Fernanda Cunha.
Com seu “pequeno milagre” nos braços, como Ronan é chamado por ela, Gleiziane agradeceu ao hospital por todo o cuidado. “A equipe de todo o hospital foi excelente e a considero como uma grande família na minha vida. Só tenho a agradecer. Agora o meu filho está aqui comigo, um bebê grande e muito esperto”, celebrou a mãe.