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Minas Gerais registrou nove casos de febre maculosa em 2023

Febre maculosa Divulgacao Agencia Brasil
Febre maculosa Prefeitura de Jundiai
A febre maculosa, popularmente conhecida como “febre do carrapato”, é causada, segundo a especialista, “por bactérias do gênero Rickettsia, e é transmitida aos humanos através da picada de carrapatos infectados (Foto: Prefeitura de Jundiaí)
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O surto recente de febre maculosa em Campinas, no interior de São Paulo, que resultou na morte de quatro pessoas, além do registro de dois casos suspeitos até a noite de quarta-feira (14), chamou a atenção para esta doença de “sintomas comuns”, contudo, “potencialmente fatal”, conforme pontua Liliane Durães, doutora em Biodiversidade e Conservação da Natureza pela UFJF. Neste ano, em Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), nove casos da doença foram confirmados no estado, sendo que dois deles evoluíram para óbitos.

A febre maculosa, popularmente conhecida como “febre do carrapato”, é causada, segundo a especialista, “por bactérias do gênero Rickettsia, e é transmitida aos humanos através da picada de carrapatos infectados. A pesquisadora conta ainda que no Brasil, duas espécies dessa bactéria estão associadas a quadros clínicos: a Rickettsia rickettsii, que leva ao quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB), considerada uma doença grave e responsável pela morte de quatro pessoas em Campinas. A outra é a Rickettsia parkeri, a qual distingue-se da anterior por apresentar curso brando da doença, não apresentando caso letal registrado, completa Liliane.

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De acordo com a especialista, a febre maculosa é um problema de saúde pública que “reemerge nas últimas décadas com elevados índices de casos em humanos e mortalidade”. Segundo ela, o número elevado de mortes por conta da doença deve-se à falta de diagnóstico precoce.

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“A febre maculosa pode apresentar sintomas poucos específicos, o que dificulta o diagnóstico. O início costuma ser abrupto, envolvendo: febre (em geral alta), dor de cabeça, dor muscular intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença surge o exantema (manchinhas vermelhas na pele), podendo acometer as palmas das mãos e as plantas dos pés. Esse sinal está presente em 50% a 80% dos pacientes. Embora seja o sinal clínico mais importante, o exantema pode estar ausente, o que pode dificultar ou retardar o diagnóstico e o tratamento, determinando uma maior letalidade.”

Por conta da falta de sintomas específicos, a confusão diagnóstica sugere a ocorrência de outras doenças, “principalmente leptospirose e dengue, que também apresentam manchas na pele como sintomas”, exemplifica a pesquisadora, que recomenda o diagnóstico laboratorial para ter certeza do que acomete os pacientes. “O teste de biologia molecular (PCR) deve ser o primeiro a ser realizado, com o intuito de buscar a bactéria. Dependendo do curso da doença, pode-se realizar a sorologia, onde, em geral, os anticorpos são detectados a partir do sétimo até o décimo dia de doença.”

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Quase 200 casos entre 2018 e 2022

Conforme dados divulgados pela SES-MG, Minas Gerais computou 190 casos confirmados de febre maculosa entre 2018 e 2022. Desses, 62 resultaram em morte dos enfermos, aproximadamente 33% dos casos. Apesar do alto número, a maioria dos casos registrados no período ficou concentrada em 2018 e 2019, com 99 registros e 40 óbitos.

Entre as principais faixas etárias acometidas pela febre maculosa entre 2018 e 2022 estão pessoas com idades entre 41 e 60 anos, com 72 casos confirmados no período; já em relação à população infantil, no grupo de até 10 anos foram registrados 28 casos confirmados.

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Segundo a SES-MG, a febre maculosa ocorre em todo o estado, porém, com destaque para as macrorregiões Centro, Vale do Aço, Leste e Sudeste – onde está Juiz de Fora. Questionada sobre os casos em Juiz de Fora entre janeiro de 2021 e maio deste ano, a Secretaria de Saúde da Prefeitura do município informou que o último registro da doença na cidade aconteceu em 2022, sem evolução para óbito.

Medidas de prevenção são imprescindíveis

A prevenção contra a febre maculosa é baseada no impedimento de contato direto com o carrapato, já que a doença não é transmitida de uma pessoa para a outra. No Brasil, além do carrapato-estrela, o transmissor mais conhecido da bactéria, outras espécies podem ser vetores, como Amblyomma aureolatum e Amblyomma ovale. Para evitar o contato com o transmissor, Liliane Durães elenca precauções recomendadas pelo Ministério da Saúde. Entre elas, estão:

– Usar roupas claras, para ajudar a identificar o carrapato, uma vez que ele é escuro;
– Usar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas;
– Evitar andar em locais com grama ou vegetação alta;
– Usar repelentes de insetos;
– Verificar se você e seus animais de estimação estão com carrapatos;
– Se encontrar um carrapato aderido ao corpo, remova-o com uma pinça, nunca com as mãos;
– Não apertar ou esmagar o carrapato, mas puxar com cuidado e firmeza. Depois de remover o carrapato inteiro, lavar a área da mordida com álcool ou sabão e água;
– Quanto mais rápido retirar os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença.
– Após a utilização, colocar todas as peças de roupas em água fervente para a retirada dos insetos.

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A especialista orienta também às pessoas que têm contato com animais, principalmente cães e cavalos, “a sempre verificar a presença de carrapatos no animal, bem como manter em dia os produtos de uso veterinário com efeito acaricida, aquele que mata o carrapato”. Aos que estiveram em áreas de matas, ela aconselha que, “ao apresentar sintomas, mesmo não estando cientes de eventuais contatos com carrapatos, devem alertar os profissionais de saúde a respeito disso, para que o diagnóstico precoce possa ser instituído”.
Já em relação ao tratamento da febre maculosa, a SES-MG diz que “é realizado com antimicrobianos e deve ser iniciado de forma precoce, nas fases iniciais da doença, como forma de evitar óbitos e complicações. O sucesso do tratamento está diretamente relacionado à precocidade de sua introdução e à especificidade do antimicrobiano prescrito”.

Timing deve ser usado para conscientização

Para Liliane Durães, os momentos de surtos como o enfrentado atualmente devem ser usados para promover medidas educacionais a respeito da doença. “É de extrema importância a implementação, por parte dos Governos, de programas de saúde pública alertando e conscientizando a população dos riscos que o contato com o carrapato pode vir a acarretar, uma vez que a febre maculosa pode ser letal. É também de responsabilidade governamental a realização de ações que incentivem o controle do vetor na natureza, seja em âmbito urbano, periurbano ou rural”, ressalta.

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