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Com passagens por Minas, Papa Leão XIV leva ao Vaticano a experiência latino-americana

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Papa Leão XIV em sua primeira visita à Minas Gerais, em 2004. (Foto: Arquivo Padres Agostinianos)
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O norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, eleito Papa Leão XIV na última quinta-feira (8), já esteve no Brasil em algumas ocasiões, com duas passagens por Minas Gerais.

Sua primeira visita no estado ocorreu em 2004, durante as celebrações dos 70 anos do tradicional Colégio Santo Agostinho, em Belo Horizonte. Anos depois, em dezembro de 2012, retornou para uma visita pastoral, que incluiu a cidade de Mário Campos, na Região Metropolitana da capital, onde participou da procissão religiosa de membros da Ordem de Santo Agostinho.

Frei Paulo Gabriel, agostiniano que esteve com o Papa durante sua visita ao colégio em 2004, relembra os diálogos que tiveram. “Nossas conversas giravam em torno da realidade latino-americana, da opção preferencial pelos pobres, da presença da Igreja entre os povos indígenas, do cuidado com a criação e das questões sociais do continente.”

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Frei Paulo conta ainda que conhece Prevost há mais de duas décadas. “Nos conhecemos em 2001, durante o Capítulo Geral da Ordem de Santo Agostinho, em Roma, quando ele foi eleito prior-geral. Desde então, nos reencontramos diversas vezes em reuniões e encontros por toda a América Latina.”

Sobre a personalidade do novo Papa, Frei Paulo destaca: “Prevost é um homem culto, discreto e afável. Fala pouco, mas escuta com atenção. É fraterno nas relações, silencioso e firme nas decisões. Sabe ouvir, é atento, comunitário e, com os mais próximos, mostra-se espontâneo. Gentil, acessível e profundamente religioso — essas são marcas fortes da sua personalidade.”

(Foto: Arquivo Padres Agostinianos)

Entre os relatos sobre suas passagens pelo Brasil, chegou a circular a informação de que Papa Leão XIV teria provado o tradicional frango com quiabo durante uma visita a Belo Horizonte. No entanto, Frei Eberson Naves, missionário da Ordem de Santo Agostinho (OSA), esclarece que a foto que mostra Prevost saboreando o prato foi, na verdade, registrada durante uma visita aos freis agostinianos no Peru.

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Um papa quase latino-americano

Frei Eberson com o novo Papa Leão XIV (Foto: Arquivo Pessoal)

Frei Eberson relembra seu primeiro encontro com o então bispo Robert Prevost em 2016, no Peru, país onde o novo Papa atuou como missionário entre 2014 e 2023. Lá, pôde observar de perto a profunda inserção cultural dele na realidade local.

“Ele parecia ter nascido ali. Já estava profundamente inserido na cultura do país, conhecia bem os processos e as exigências da vida local. Embora eu estivesse em Lima e ele fosse bispo em Chiclayo, ele costumava passar pela capital e sempre nos visitava. Pela maneira como vivia e se relacionava, tornou-se verdadeiramente um latino-americano — e eu arriscaria dizer, até mesmo um peruano.” 

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Sobre o domínio do português do novo pontífice, comenta que, embora ele não fale com total fluência, consegue se comunicar com clareza. “Ele entende perfeitamente o que dizemos, até por estar frequentemente em contato com confrades da OSA que falam português. Ler, ele lê fluentemente, mas, ao falar, mistura bastante o espanhol com o português. Mesmo assim, é plenamente compreensível.”

Expectativas para o pontificado

(Foto: Arquivo Padres Agostinianos)

Apesar de não estar entre os nomes mais cotados para suceder o Papa Francisco, a eleição de Leão XIV foi recebida com alegria entre os agostinianos. Frei Eberson recorda que, embora houvesse esperança, também existia cautela. “Ele apareceu entre os possíveis nomes, mas de forma discreta. Era recente na Cúria, mas com forte formação e já presidia o Dicastério para os Bispos. A notícia nos surpreendeu de forma muito feliz.”

Para ele, o carisma agostiniano do novo Papa é um sinal promissor. “A identidade agostiniana traz pilares como a vida comunitária, a interioridade e o serviço à Igreja. Isso o torna alguém próximo das pessoas, atento ao diálogo e às necessidades do outro — algo já visível em sua atuação na América Latina.”

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Frei Paulo acredita que Leão XIV dará continuidade à linha do Concílio Vaticano II. “Será uma Igreja povo de Deus, aberta, marcada pela misericórdia. Ele é um homem de escuta, de unidade, e seu discurso na Praça de São Pedro já apontou esse caminho: falou de paz, retomou o espírito conciliador e se apresentou como irmão no meio do povo.”

Ambos destacam sua vivência missionária no Peru como uma marca importante. “Isso o torna um homem do povo, comprometido com os pobres e com a justiça social”, diz Frei Paulo. E, mesmo sendo norte-americano, Frei Eberson afirma: “Sua experiência pastoral é profundamente latino-americana. Ele sabe dialogar com diferentes visões e tende a ser uma ponte dentro da Igreja.”

Embora tenha um perfil mais discreto do que o de Francisco, ambos creem que seu estilo sereno, humano e espiritual ajudará a guiar a Igreja com equilíbrio e esperança. “Ele não será como Francisco, que tinha uma personalidade mais expansiva. Leão XIV é mais discreto. Penso que os cardeais buscaram uma continuidade na linha da Igreja, mas com um perfil mais reservado, que não desperte medos nem crie atritos com a ala mais conservadora”, completa Frei Paulo.

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*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

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