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Universidade popular de música atrai e inspira alunos de diversas cidades do país

FORCA DO INTERIOR BARBACENA BITUCA Gabriel Castro Divulgacao 1
A Bituca ocupa um dos prédios da Estação Ponto de Partida, onde antigamente funcionava a fábrica de seda do Brasil. A história está entrelaçada com a imigração italiana em Minas Gerais (1888), com o desenvolvimento industrial do início do século e com o trabalho feminino. O conjunto foi restaurado pelo Ponto de Partida e parceiros e hoje abriga um centro cultural, a Casa do Ponto e a Casa Palavra. É cercado por Mata Atlântica e um jardim de cinco mil metros quadrados, desenvolvido em parceria com Inhotim (Foto: Gabriel Castro/Divulgação)
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Uma escola livre, gratuita, com formação profissionalizante que oferece cursos de baixo acústico e elétrico, bateria, canto, clarineta, engenharia de áudio e produção musical, percussão, piano e teclado, saxofone, violão e guitarra. Sem contar formação completa em improvisação e criação, harmonia, História da Música Brasileira, musicalização pelo método Kodaly, percepção musical, prática de conjunto e preparação para o palco, produção e ética. Não é por menos que a Bituca, universidade de música popular referência no Brasil, sediada em Barbacena, é o sonho de centenas de artistas espalhados pelo país.

Iniciativa da Associação Cultural Ponto de Partida e com quase 20 anos de muita história bonita para contar e cantar, a escola tem cerca de 80% de seus ex-alunos inseridos no mercado de trabalho. Atualmente, 160 estudantes apaixonados por música frequentam as aulas oferecidas por um time de profissionais renomados e reconhecidos, inclusive internacionalmente, que dinamizam não apenas a cena cultural e intelectual de Barbacena como também sua economia.

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“No último ciclo, a Bituca recebeu aprendizes de 65 cidades, que participaram do processo de formação integral. É uma escola totalmente equipada, oferece as melhores condições de estudo e pesquisa para a formação profissional dos alunos. É realmente um espaço fantástico que vem colaborando muito para o desenvolvimento cultural da nossa terra”, explica a secretária municipal de Governo, Vânia Castro, uma entusiasta do projeto iniciado na década de 1980, quando um grupo de jovens decidiu, em vez de reclamar que nada acontecia na cidade, pegar um outro caminho e ser o “Ponto de Partida” para uma nova era.

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Hoje, a Associação Cultural Ponto de Partida gerencia, além do grupo de teatro, um centro cultural onde estão localizadas a Bituca, a Casa do Ponto e a Casa Palavra, que abriga a sede administrativa, assim como uma biblioteca e um café. A propriedade é cercada por remanescentes de Mata Atlântica e por um jardim que ocupa área de cinco mil metros quadradosdesenvolvido em parceria com Inhotim. A associação também é responsável pelo projeto Coral Meninos de Araçuaí, cidade localizada na Região Norte de Minas Gerais.

Legado que ultrapassa gerações

Músico e ator, Pablo Bertolla é filho de dois fundadores do Ponto de Partida: Regina e Ivanée Bertola. Por isso, desde criança respira tudo o que cerca o universo da arte. “Meu pai faleceu quando eu tinha 18 anos e minha mãe não entendia nada de gestão. Nesse momento, fizemos uma força-tarefa para aprender como gerir e fazer com que as iniciativas continuassem dando certo. Isso contribuiu muito para o nascimento da Bituca. O Coral Meninos de Araçuaí também foi um jeito para ganharmos dinheiro para sobreviver. Já fazem quase 20 anos que a Bituca existe”, conta Pablo.

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A atriz Carolina Damasceno é filha de outra fundadora do Ponto de Partida, Lourdes Araújo. Assim como Pablo, se envolveu desde muito pequena com a cultura, sobretudo, teatro, dança e música. Além de atuar profissionalmente, ela é coordenadora da Bituca e dá aula de preparação de palco e ética para os alunos da universidade. Carolina segue o legado da mãe e de outras fundadoras, mantendo viva a força feminina dentro do grupo.

“O Ponto de Partida foi um grupo majoritariamente feminino e com uma liderança feminina desde sempre. Nossa diretora é mulher desde que o grupo se formou. Isso é muito importante, porque não acontece muito fora do grupo. No Brasil, principalmente, não temos praticamente lugares com essas lideranças, com essa força de ação. Acho que é necessário nós termos essa visibilidade, esse poder de atitude. É importantíssimo e serve como referência. Já que não temos distinção de salário, não tem distinção de poder. É um privilégio muito grande estar dentro desse grupo que nos dá essa liberdade e essa força, porque vivemos numa realidade muito diferente dessa”, afirma Carolina.

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Segundo a atriz, a arte está no DNA da família. Sua avó também era artista. Declamava e cantava e, por isso, todos os seus tios também amam a arte. Casada com um músico, Carolina vê a filha de oito anos já com sua própria caminhada na arte. Tanto que, sempre que possível, a menina se envolve com projetos do Ponto de Partida.

Ex-integrante do Coral Meninos de Araçuaí, o músico Pitágoras Silveira hoje integra o time de coordenadores da Bituca, além de ser professor. Segundo ele, 80% dos ex-alunos estão no mercado de trabalho (Foto: Ciro Belluti/Divulgação)

A diversidade que faz toda a diferença

Também coordenador da Bituca, o ator Ronaldo Pereira integra o Ponto de Partida há mais de 20 anos. “Entrar para o grupo foi incrível, porque eu ainda estava no Ensino Médio. Minha faculdade foi ali. Ficávamos 24 horas com o Ponto de Partida, fazendo tudo que faziam, aprendendo produção, iluminação e gestão. O curso nos ensinou tudo sobre teatro. Tive aula com as atrizes Nathalia Timberg e Eva Vilma, e com Jorge Carvalho, que é um grande iluminador, e muitos outros profissionais que me ensinaram muito”, explica Ronaldo. Ele destaca ainda que a Bituca é um lugar diverso, com pessoas de todos os lugares e idades e que essa mistura é fundamental para o sucesso da escola.

Ex-integrante do Coral Meninos de Araçuaí, o músico Pitágoras Silveira não perdeu a chance de se mudar para Barbacena, aos 13 anos. Hoje, ele não apenas faz parte do Ponto de Partida, como também é coordenador e professor da Bituca. “Fui convidado para encarar a vida e aproveitar a oportunidade que essas pessoas e essas instituições me ofereceram. Assusto um pouco, porque a vida foi tomando um rumo que jamais esperava. Quando entrei no coro, aquilo era um prazer. Éramos um coral profissional de crianças. Mas era tudo divertido, tudo gostoso, tudo brincando”, recorda-se.
“Depois esse prazer foi virando um ofício muito prazeroso e também com uma responsabilidade imensa. A Bituca é algo que se prova através dos seus ex-alunos. Temos uma pesquisa que revela que uma média de 80% ou mais dos alunos que passaram pela escola são músicos profissionais. Estão tocando, estão nos grandes estúdios que temos no Brasil ou são professores”, alegra-se Pitágoras.

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Ex-aluno da Bituca, o engenheiro de áudio e produção musical Wallace Lucas afirma que sua passagem pela escola transformou sua vida. Por isso, não se arrepende de todo esforço que fez para entrar na universidade, após três tentativas.

“O ambiente da Bituca já te traz coisas diferentes. A primeira aula foi muito especial, porque também era a formatura da última turma. Hamilton de Holanda deu palestra e fez um show maravilhoso. Coisa que poucas vezes vi na minha vida. A Bituca não é uma escola, não é uma universidade. É tudo isso e muito mais. É um lugar de conexão com arte, com gente, mas, principalmente, com gente que está na mesma vibe que você”, explica Wallace. “Mas o mais importante é que, além de criar todo esse sentimento, toda essa narrativa de arte, de respirar esse clima, há um network que faz toda a diferença.”

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