“Amanhã será melhor do que hoje”. É com esse lema que os pais de Luiz Maurício Dias, atleta juiz-forano do lançamento de dardo que irá competir nos Jogos Olímpicos, trabalharam na formação do filho, tanto como pessoa quanto como desportista. Cláudia Dias da Silva, mãe de Luiz, abriu as portas de sua casa para a Tribuna, no Bairro Nossa Senhora de Fátima, Cidade Alta, e contou sobre o início do filho no esporte, as dificuldades enfrentadas durante toda a trajetória e a emoção de vê-lo em Paris no maior evento esportivo do planeta.
Cláudia conta que Luiz, atualmente com 24 anos, começou a praticar esporte aos 7 e, como a maioria das crianças, teve início no futebol. “Ele jogava no Zico, só que eu não tinha condição de pagar, então coloquei ele no Tupi porque era mais barato. Como o horário de lá não dava pra eu acompanhá-lo, minha mãe o colocava no ônibus e ele ia sozinho, eu ia só buscar”, relembra. Porém, o juiz-forano já havia decidido que o esporte da sua vida não seria o futebol, e, sim, o atletismo, conforme relata Cláudia.
“Cheguei para buscá-lo no Tupi e ele não estava, fui procurar e ele estava na Faefid (Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Juiz de Fora). Cheguei lá, briguei com ele, falei que estava fazendo o possível para ele ser alguém na vida e que tinha que ser jogador de futebol, porque era o que dava dinheiro. Ele veio pra casa emburrado e Julio (pai do Luiz) perguntou o que estava acontecendo, ele respondeu: ‘Minha mãe quer que eu jogue futebol e eu quero atletismo’. Aí o pai dele falou: ‘Então faz bem feito e mostra pra sua mãe que é isso que você quer’. Eu acabei tendo que aceitar o atletismo”, conta.
“Ele é uma luz na minha vida”
Apesar de sempre dizer que todo o esforço valeu a pena, Cláudia também recorda que o período da infância e adolescência não foi fácil. “Ele estudava de manhã e treinava à tarde, então não tinha como exigir que ele trabalhasse. Toda vez que chegava à noite, e algumas vezes a gente não tinha o que comer, eu sempre falava com ele: ‘amanhã será melhor do que hoje’. E deu certo”, conta, emocionada.
Mesmo acreditando que Luiz poderia conseguir sucesso através do esporte, Cláudia afirma que exigia dedicação total também aos estudos. “Tinha que fazer os dois ao mesmo tempo. E a gente apostou porque a gente queria que fosse diferente com ele do que foi conosco (pais), de não completar os estudos, não ter feito uma faculdade”, diz.
Inspirado no incentivo que sempre recebeu de Cláudia, Luiz também fez com que sua mãe voltasse a estudar e concluir o ensino médio em 2023, através do Educação para Jovens e Adultos (EJA). A matriarca, que fez a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ano passado, está na lista de espera por uma vaga no curso de Bacharelado Interdisciplinar de Ciências Humanas na Universidade Federal de Juiz de Fora (ICH/UFJF).
“Ele tirou a venda dos meus olhos, porque a minha mãe foi empregada doméstica, ficou viúva com 40 anos. Perdi meu pai com 11. A gente não tem as portas abertas, a gente tem só uma gretinha, e temos que ver se ela vai abrir ou se ela vai bater. Ele me mostrou que pode ser diferente, e foi o que eu sempre falei: amanhã será melhor. Ele me mostrou que estudando, posso ter objetivos, uma outra visão. Ele é uma luz na minha vida”, afirma Cláudia.
Luiz Maurício: uma potência olímpica
Luiz foi formado dentro do atletismo através do projeto de extensão Cria UFJF, da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) e, desde o início, sempre mostrou muita aptidão ao esporte, principalmente o lançamento de dardo. Com 18 anos, já representava Juiz de Fora e o Cria no Mundial de Atletismo sub-20 em Tamperes, na Finlândia. Foi a partir desse momento que Cláudia percebeu que seu filho era, de fato, um atleta de alto nível.
“Ele chegou em casa por volta de 3h da manhã. O treinador dele tinha me ligado e disse que ele tinha lesionado durante a competição e que estava muito chateado. Ele chegou, deixei ele chorar, então eu vi que ele tava muito envolvido no atletismo. Depois, eu disse: ‘pelo menos você ganhou o segundo lugar, deu pódio, deu medalha’. Ele respondeu: ‘mãe, o que é o segundo lugar para você? Para mim, é o primeiro a perder’. A partir disso eu percebi que o atletismo já estava instalado nele, já tinha mudado completamente a mentalidade”, diz a mãe de Luiz.
Ansiedade para ver o filho
Luiz Maurício ainda terá que aguardar alguns dias para finalmente estrear nos Jogos Olímpicos. Isso porque as classificatórias do lançamento de dardo acontecem apenas no dia 6 de agosto, podendo acontecer às 5h20 ou às 6h50, horário que ainda será confirmado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Faltando nove dias para ver o filho, Cláudia já sente a ansiedade por poder vê-lo realizando um sonho em Paris.
“Vou gritar muito, agradecer muito a Deus por ver que chegou lá. A gente vê esses atletas na televisão e acha que é uma coisa muito distante, não se enxerga do outro lado da tela. Agora vou poder me enxergar lá e vendo o Luiz representar Juiz de Fora e o Brasil, é muita emoção”, conta.
*Estagiário sob a supervisão do editor Gabriel Silva