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Por que a seleção feminina de futebol teve mais de 100 minutos de acréscimos nos Jogos Olímpicos?

Selecao Brasileira de Futebol Rafael Ribeiro CBF
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Com a classificação para a decisão do futebol feminino na Olimpíada de Paris, a seleção brasileira disputará seu sexto jogo oficial, mas na prática será o sétimo. Isto porque, somando os acréscimos nos jogos da fase de grupos e mata-mata, o Brasil enfrentou 114 minutos de tempo extra – equivalente a uma partida inteira e quase uma prorrogação. O motivo para isso é uma aplicação mais rigorosa de uma recomendação da Fifa, que se iniciou na Copa do Mundo do Catar.

A tese da Fifa, passada para os árbitros, é de combater a perda de tempo no futebol, como substituições, atendimentos médicos, comemorações de gol e checagens de VAR, com acréscimos. Tudo que atrapalhar o andamento da partida – e nisso entra também a “cera” de jogadores para passar o tempo – deve ser acrescido pelo árbitro ao fim do jogo.

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Somando futebol masculino e feminino na Olimpíada, o tempo extra passa da casa dos 800 minutos. No Catar, que iniciou essa tendência, 676 minutos foram acrescidos ao final dos tempos regulamentares – uma média de 10,5 a mais por partida. No início da Copa, Pierluigi Collina, ex-árbitro da entidade, afirmou que a alteração fez com que o jogo tivesse, em média, 59 minutos da bola em campo. Na goleada da Inglaterra sobre o Irã por 6 a 2 – comandada pelo juiz brasileiro Wilton Pereira Sampaio – 27 minutos de acréscimo foram acrescidos aos 90 inicialmente previstos.

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O que era exceção virou regra em Paris. Contra a Espanha, na semifinal, foram 30 minutos de tempo extra. Nas quartas, diante da França, foram 25. O Brasil enfrentará os Estados Unidos na decisão do torneio feminino no sábado (10). Com os acréscimos elevados, a seleção brasileira terá jogado quase o mesmo tempo que a rival, que precisou de duas prorrogações para avançar até a decisão. Até aqui, foram 12 dias de competições.

Árbitros ouvidos pela reportagem do Estadão se mostram contrários às orientações da Fifa. Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro Fifa, que apitou em três Copas do Mundo, e comentarista da ESPN, entende que o esporte já tem mecanismos na regra que inibem o antijogo – não sendo necessário esses acréscimos extraordinários. “O árbitro controla o tempo de jogo. É necessário manter o bom senso para isso. Mas há uma orientação da Fifa em relação a isso. Acho ruim esses acréscimos justamente porque há mecanismos para prevenir o antijogo”, afirma.

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Antijogo, neste caso, se refere às quedas dos jogadores, simulando faltas duras, demorando para repor a bola em campo, entre outras situações. São esses casos que a Fifa tenta coibir ao adicionar o tempo ao final do jogo. Na vitória sobre a Espanha por 4 a 2, o Brasil recebeu críticas das rivais. “Levamos quatro gols de uma equipe que, para mim, não joga futebol, mas, no final, o que conta são os gols. Creio que foram falhas nossas, não jogamos o nosso futebol. Gostei do nosso segundo tempo, mas já era difícil”, disse Jenni Hermoso, jogadora da seleção espanhola, em entrevista para a rádio Cope.

Wilson Seneme, chefe da comissão de arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol, esteve presente no último Mundial. “Nós vimos acréscimos de seis, sete, oito, até dez minutos, tanto na Série A do Campeonato Brasileiro, quanto nos jogos da Série D, por exemplo. Isso é muito importante porque é uma instrução universal”, afirmou, ao Estadão em 2023.

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“A regra não estabelece que haja um cronômetro paralisando o jogo como se fosse futebol de salão, nem na cabine do VAR”, pontua Manoel Serapião Filho, ex-árbitro Fifa e autor do projeto VAR, adotado pela Fifa na última década, à reportagem. “A regra estabelece que as perdas de tempo anormais sejam acrescidos ao final de cada período, não os tempos naturais, de reposição de bola, de cobrança de tiro de meta, de arremesso laterais. As Olimpíadas são o exemplo de como as coisas estão erradas”.

Por outro lado, Arnaldo Cezar Coelho, ex-árbitro e ex-comentarista da TV Globo, diz compreender os acréscimos na Olimpíada. “O Brasil abusou de ‘cera’, com a goleira principalmente. Não cronometrei, mas não se justifica fazer comício, sem a explicação. A regra é clara. Se fosse o Brasil perdendo, estaríamos reclamando de antijogo”, disse ao Estadão. Para ele, os atendimentos médicos em campo permitem que as atletas se utilizem desses meios para “queimar” tempo de partida.

Não há uma confirmação da Fifa se os árbitros estão cronometrando o tempo perdido nos jogos da Olimpíada. Para Arnaldo, no entanto, isso ocorre. “Eles podem estar comunicando ao delegado e eles, de fora, segurando o cronômetro quando há alguma paralisação em campo”, afirma. “Antes de criticar os acréscimos, fiquem com um cronômetro na mão. A regra mudou e as instruções mudaram.”

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Confira os acréscimos dos jogos do Brasil na Olimpíada:

Total: 114 minutos

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