Nesse contexto, a Tribuna ouviu três especialistas em inovações no esporte: os professores da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Heglison Toledo e Felippe Cardoso, e o coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol (Nupef) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Israel Teoldo. Entre todos os entrevistados, houve um ponto em comum: as tecnologias serão cada vez mais fundamentais no esporte e precisam ser aperfeiçoadas a cada ano por quem quer se manter no topo do desempenho.
Inteligência artificial
Na Faefid, há um projeto de extensão nomeado Laboratório de Inovação e Tecnologia no Esporte (Efinove), em que diversos alunos desenvolvem pesquisas no âmbito das inovações. No âmbito do trabalho, também ocorre o fornecimento de consultoria e desenvolvimento de projetos e produtos relacionados à inovação, destinados a atletas, instituições e empresários. Como explica o coordenador do laboratório, o docente Heglison Toledo, a inteligência artificial é um dos pontos de maior atenção e que tem sido desenvolvido no projeto, por ser o que tem de mais latente para ser expandido nos esportes nos próximos anos.
“Ela vai potencializar a performance dos atletas. Tem alguns estudos relacionados às tecnologias wearables (tecnologia vestível) como uniformes tecnológicos que mensuram a quantidade de calor e perda hídrica do atleta, assim como chuteiras. A inteligência artificial também está trabalhando na análise de desempenho e, consequentemente, na montagem das equipes. Será uma tendência ver auxiliares e técnicos utilizando ferramentas tecnológicas como computadores e tablets, com aplicativos em análise de tempo real”, acredita.
Em seu livro “Esporte 4.0: Uma realidade na era digital”, Heglison traz a perspectiva do “Modelo dos 7D”, no qual afirma que a tecnologia atrelada ao esporte terá sete fases: digitalização, desconfiança, disrupção, desmaterialização, democratização, desmonetização e desportivização.
“A tecnologia vai permitir que instituições, clubes e associações consigam desenvolver os esportes com redução dos custos e mantendo o rendimento em alta. Os gestores esportivos precisam estar atentos a isso, porque os avanços também ajudam no relacionamento com os fãs, como no desenvolvimento de aplicativos. Eles trazem maior engajamento, possíveis aquisições de camisas e materiais exclusivos, gerando renda”, analisa Heglison.
Outro ponto em que os desenvolvimentos tecnológicos irão ajudar, na visão do professor, é no paradesporto. Inclusive, a Faefid se tornou, neste ano, um Centro de Referência Paralímpico (CRP) e desenvolve produtos para esses atletas. Para o docente da Faefid, os avanços estão presentes também nos jogos eletrônicos. “Precisam ter mais atividades em que alunos façam competições virtuais. O Brasil, apesar de não ter uma política efetiva, principalmente no esporte, tem um bom cenário. São diversas startups desenvolvendo inovações e produtos no esporte, já foram mais de 130 catalogadas”, relata.
Realidade Virtual e Realidade Aumentada
Também com estudos desenvolvidos nessa área, o professor da Faefid Felippe Cardoso chama a atenção para duas tecnologias que vêm revolucionando o treinamento e a preparação mental dos jogadores: a Realidade Virtual (RV) e a Realidade Aumentada (RA). “Por meio de simulações virtuais, os atletas podem aprimorar sua tomada de decisão em situações de jogo simuladas, desenvolvendo habilidades cognitivas essenciais para o sucesso em campo. Além disso, a RV e a RA têm sido utilizadas para criar ambientes imersivos que reproduzem cenários de pressão, preparando os jogadores para lidar com os momentos cruciais de uma partida”.
Coordenador do projeto de futebol da UFJF, Felippe, assim como Heglison, chama a atenção para o atual desenvolvimento da aplicação de sensores vestíveis. “Esses dispositivos monitoram aspectos como a frequência cardíaca, a distância percorrida, a velocidade, o tempo de reação e até mesmo o padrão de sono. Com essas informações em mãos, as equipes conseguem personalizar treinamentos, ajustar cargas de trabalho e minimizar o risco de lesões, promovendo uma abordagem mais científica e individualizada ao condicionamento físico, proporcionando aos fãs um espetáculo mais afinado”, frisa. “As tecnologias transformam a maneira como o esporte é jogado e apreciado”, complementa.
TacticUP busca revolucionar
Desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol (Nupef), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o TacticUP é uma plataforma de avaliação online que permite conhecer de forma objetiva tanto a capacidade de leitura de jogo quanto a de tomada de decisão de jogadores de futebol. Baseado em situações de jogo real e também fazendo uso de inteligência artificial, o atleta é avaliado quanto ao tempo que necessita para ler uma jogada e tomar uma decisão em diferentes situações da partida que ocorrem próximas ou distantes da região em que está a bola.
“A partir dos dados obtidos através do TacticUP, os treinadores conhecem as reais necessidades de seu grupo de atletas no que se refere a leitura de jogo e a tomada de decisão e podem, assim, direcionar suas atividades e intervenções nas sessões de treino de forma mais individualizada, permitindo otimizar o tempo de treinamento e facilitando o ganho de conhecimento e performance dos seus jogadores em campo”, explica o coordenador do curso de Especialização em Futebol da UFV.
Além disso, a plataforma pode ser útil, conforme Teoldo, para a direção técnica verificar o grau de compreensão e leitura de jogo dos jogadores em seu plantel, em todas as categorias, e ver como os treinos têm promovido uma melhora significativa na evolução tática. Dessa forma, a diretoria irá conhecer melhor os jogadores de seu plantel, o que ajuda no trabalho dos observadores técnicos do clube e na tomada de decisão para a seleção ou dispensa de um jogador. Entre os clientes da plataforma estão clubes da elite do futebol brasileiro, como Cruzeiro, Botafogo, Grêmio, Vasco, Bahia e Red Bull Bragantino.
Os resultados do TacticUP são apresentados com gráficos, além de traçar o perfil completo do jogador. As informações estão organizadas de tal maneira que possibilite extrair informações das capacidades do jogador em ações ofensivas e defensivas, próximas ou longe da bola.
*Estagiário sob supervisão do editor Gabriel Silva