Questionado sobre o que lhe motivou a entrar no gramado e tirar o gol, Esquerdinha afirma que foi um movimento de impulso, negando que tenha sido premeditado. “Sabe quando não dá tempo de pensar em nada, e quando você vê, já fez?”, resume. “Talvez as pessoas julguem, como se eu tivesse feito de propósito. Mas não sei porque fiz, foi movimento na hora, não foi a mando de ninguém”, garante o ex-massagista da Aparecidense.
Mesmo depois de mais de uma década, Esquerdinha se recorda de detalhes do dia. “Foi tenso. A Polícia Militar chegou e travou a porta (do vestiário). Fiquei três horas dentro do baú de roupa, o roupeiro me trancou lá dentro. Queriam me levar para a delegacia para fazer a ocorrência. Consegui ir embora, porque peguei uma roupa da um repórter da rádio de Goiânia e um boné. Entrei no ônibus e, depois, no hotel, as patrulhas ficaram lá. Na época, fiquei com muito medo. Ameaçaram minha mulher e meus filhos, falaram que eu não ia sair vivo”. Na ocasião, o gol “defendido” pelo massagista impedia a classificação do Tupi às quartas de final da Série D.
Depois do ocorrido, Esquerdinha trabalhou por vários outros times, como Anápolis, Paraná e Juventus. Nas partidas desses clubes, ele encontrou diversos atletas que vestiam a camisa do Tupi no famoso episódio, em 2013. “Na época, pedi desculpas, e quando encontrava, conversava e pedia de novo, dizendo que não foi nada premeditado. Não posso dizer que me arrependo porque não planejei, mas me desculpo com todos os torcedores do Tupi”, frisa. “Eu mesmo não ganhei nem um centavo com isso, enquanto pessoas ganharam muito dinheiro com o vídeo no Youtube“, acrescenta o profissional.
Esquerdinha: de massagista a educador físico
Após rodar por diversos times de futebol masculino do Brasil, Esquerdinha foi massagista do Santos feminino e teve seu último trabalho nessa função no Isfera, onde fez parte da comissão campeã da Copa Brasileirinho. “O fato de eu ter tirado o gol me atrapalhou, na época eu tive uma proposta do Cruzeiro quando era massagista. Mas decidiram não me contratar por causa desse episódio, porque teríamos que enfrentar o Tupi no Campeonato Mineiro”, lamenta.
Na época em que tomou a ação precipitada, o massagista estava no primeiro ano da faculdade de educação física. Ele retornou aos estudos em 2019, concluiu sua graduação, e, hoje, dá aulas em um colégio de São Carlos, em São Paulo. “Dou aulas de segunda a quinta e gosto muito. Também sou preparador físico do sub-11 do Grêmio São Carlense. Estou também com proposta para ser auxiliar em um time de Minas Gerais no futebol feminino”, relata Esquerdinha.
Relembre o caso
Em 7 de setembro de 2013, Tupi e Aparecidense se enfrentavam pelas oitavas de final da Série D do Campeonato Brasileiro, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. O jogo estava empatado em 2 a 2 – resultado que classificava o time goiano – até os 44 minutos, quando Ademilson se aproveitou de uma bola que sobrou na área e venceu o goleiro adversário, quando o inesperado aconteceu: Esquerdinha, massagista da Aparecidense à época, entrou em campo e impediu que a bola entrasse. Como se não bastasse, no rebote, o lateral Henrique chutou mais duas vezes, e o massagista tirou o gol nas duas tentativas.
Depois de impedir o gol que daria a classificação ao Tupi, Esquerdinha pegou as garrafas de água que carregava e correu em direção ao vestiário. Os jogadores do Carijó foram atrás dele, tentando acertá-lo com pontapés e empurrões, mas sem sucesso. O jogo recomeçou após 20 minutos de paralisação – enquanto o massagista se escondia dentro de um caixote.
Ao final do duelo, o resultado de 2 a 2 daria a classificação à Aparecidense. Para ajudar no caso, três dias depois, em 10 de setembro, o Tupi anunciou que o então advogado do Fluminense, Mário Bittencourt, representaria o Carijó no tribunal. Já no dia 16, o caso foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), e a Aparecidense foi excluído da competição. O massagista foi punido com suspensão de 24 jogos, além de uma multa de R$ 500, levando em conta o artigo 205 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD): “impedir o prosseguimento de partida, prova ou equivalente que estiver disputando, por insuficiência numérica intencional de seus atletas ou por qualquer outra forma”. O árbitro do confronto, Arílson Bispo da Anunciação, foi absolvido.
No entanto, a Procuradoria do STJD, em nome de Paulo Schimitt, entendeu que a Aparecidense devia ser julgada por outro artigo. No dia 26 de setembro, o STJD acatou o pedido de Schimitt e o clube goiano foi incluído no artigo 243-A (atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente). A multa e a suspensão de Esquerdinha se mantiveram.
Com isso, o Tupi foi declarado vitorioso e se classificou para as quartas da Série D. O clube enfrentou o Mixto-MT na fase seguinte, quando empatou por 1 a 1 fora de casa e venceu por 3 a 2 em Juiz de Fora, garantindo o acesso para a Série C. Nas semis, já com a cabeça na Terceira Divisão nacional, o Carijó foi eliminado pelo Juventude após perder por 4 a 0 no Sul e por 1 a 0 no Estádio Municipal.