Tradição quase centenária entre as provas de rua no Brasil, a Corrida de São Silvestre tem entre seus vencedores nomes que fizeram história, como os do tcheco Emil Zátopek; o belga Gaston Roelants; o colombiano Victor Mora; o equatoriano Rolando Vera; os portugueses Carlos Lopes e Rosa Mota; o brasileiro José João da Silva; e os quenianos Paul Tergat e Lydia Cheromei. Mas, para muitos, o que faz a prova realizada em São Paulo desde 1925 no dia 31 de dezembro tão especial são os milhares de anônimos que, entre profissionais, amadores, estão ali pelo prazer da corrida, de encerrar o ano de forma especial, e também mostrar que o esporte pode mudar de forma radical – e para melhor – a vida do indivíduo.
Este é o caso da juiz-forana Sueli de Paula Andrade Nascimento, 39 anos, que disputa a sua segunda São Silvestre. Ela, que trabalha como analista contábil e madruga para treinar, seguiria na noite desta sexta-feira (29) até a capital paulista numa excursão organizada pela ASCORJF (Associação dos Corredores de Rua e Maratonistas de Juiz de Fora) que levaria 46 corredores locais em um ônibus fretado. Ao todo, entre outras excursões da cidade, serão cerca de cem locais na capital paulista. Tudo para, como ela mesma disse, “repetir 2016, em que a São Silvestre deu aquela lavada na alma para fechar o ano com chave de ouro. Nem pensei no tempo que faria, o que desejava era completar o percurso.”
Da caminhada às corridas
O retorno à prova paulistana, em que dividirá as ruas da maior cidade do Brasil com outros 30 mil competidores, serve para reforçar a certeza de quem percebeu, há quatro anos, que precisava fazer algo para não se entregar de vez à obesidade. O resultado (32kg a menos na balança) veio por meio de muito esforço, e nisso a vontade de mudar e a chegada da corrida na sua vida foram fundamentais.
“Sentia que precisava emagrecer. No início apenas caminhava na UFJF, às vezes fazia um trote de cerca de 200 metros, mas me cansava logo. Comecei então a frequentar uma academia, e me perguntaram se não queria participar da Corrida do Batom; falei que era loucura, afinal não aguentava nem 200m”
Mas ela topou o desafio e, após dois meses de treinos, participou da sua primeira corrida de rua em março de 2015, completando 6km.”Mas foi muito difícil. Deu vontade de desistir ao ver os morros, mas nós corredores sempre nos apoiamos, sempre havia alguém falando para não desistir. Esse incentivo impede a gente de parar. O resultado foi uma sensação de missão cumprida, algo que sinto em todas as provas.”
Objetivos ainda maiores
E Sueli não parou mais. Continuou treinando e malhando, mudou os hábitos alimentares (“Cortei o refrigerante de vez, raramente como doces; fico até meio chata com a família, falando que isso e aquilo não pode”), ganhou em qualidade de vida. Foi tamanha a determinação que três meses depois, em junho de 2015, completou os 21km da Meia-Maratona de Juiz de Fora, além de outras provas válidas para o Ranking de Corridas de Rua da cidade.
O primeiro troféu de Sueli foi obtido em 2016, na Corrida Contra as Drogas, e este ano ela ficou em quinto lugar no Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora dentro de sua faixa etária (35 a 39 anos). “Há quem tenha como objetivo principal a vitória, mas para o amador o mais importante é a vitória individual, alcançar as metas que planejou, completar as provas”, afirma.
E são essas metas que ela tem buscado – e conseguido. Ainda em 2016, ela voltou a disputar a Meia-Maratona de Juiz de Fora (algo repetido em 2017) e fez sua primeira participação na Meia-Maratona do Rio. Em busca de novos desafios, ela participou este ano da Maratona do Rio, completando os 42km em cerca de 4h30. “Foi dificílimo, mas este ano quero mais. Meu plano é correr a Meia-Maratona do Rio no sábado (2 de junho) e a Maratona no dia seguinte (3 de junho), completando mais de 60km”, anuncia.
Depois de um ano em que precisou lidar com problemas como a doença de sua mãe, Sueli volta à São Silvestre com os amigos de corrida para celebrar o fim de 2017. “O clima entre nós é muito bom, essas excursões ajudam a criar um clima de família. Só quem disputa uma maratona ou São Silvestre sabe como é bom, ainda mais com os amigos. E sempre digo que o asfalto é o meu divã. Com ele não preciso de psicólogo, ali esqueço meus problemas e volto para casa renovada.”