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Altina Carla: 11 anos de formação e cuidado com atletas

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No Bairro Ipiranga, Zona Sul de Juiz de Fora, um espaço amplo acima de uma academia, movimentado por crianças de diferentes idades, é reflexo da potência de uma mulher de 42 anos. É ali que Altina Carla, professora de muay thai há mais de 11 anos, ministra treinos que geram oportunidades, constroem disciplina e transformam vidas dentro e fora do tatame. Com mais de 500 alunos desde que começou na docência, ela se tornou referência pela dedicação e forma acolhedora de ensinar.

Por isso, Altina é a segunda personagem do quadro “Fala Mestre”. Nele, a reportagem conta histórias de professores dos mais diversos esportes na cidade. A intenção é valorizar a trajetória, relembrar personalidades marcantes e reforçar o poder da atividade física na transformação social, no lazer e na saúde. A primeira matéria foi com Gerson Willian, treinador Sport Club.

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Altina Carla já teve mais de 500 atletas (Foto: Leonardo Costa)

História no muay-thai

Altina começou no muay thai em 2003, influenciada pelo irmão que já treinava a modalidade. Antes mesmo de iniciar, descobriu que estava grávida. “Esperei um ano para voltar. Quando minha menina tinha 6 meses, comecei a treinar. Desde então, nunca mais parei”. Competiu durante anos e, embora hoje não participe mais de campeonatos, não descarta voltar aos ringues.

A transição para professora veio naturalmente. “Sempre gostei de artes marciais. Quando pude graduar, quis ensinar o que aprendia. Primeiro treinei, depois comecei a puxar aula. Depois da faixa preta, virei professora mesmo”. São 11 anos de docência, todos na mesma equipe: a antiga Ninho, hoje Low Kick. “Nunca tive outra. Sempre fui daqui.”

Família no tatame

Entre suas principais revelações, está a própria filha, Larissa Almeida, 21 anos, atleta com dez lutas, nove vitórias e um currículo que inclui títulos no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. “Ela me acompanha em tudo. Onde tiver luta, a gente vai.”

A equipe de Altina participa de competições em diversas cidades da região e também no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Sem patrocínio fixo, Altina afirma que os custos são divididos entre a academia e o próprio bolso.

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Mestre busca auxiliar atletas também fora dos tatames (Foto: Leonardo Costa)

Projeto social

Além das aulas regulares, a mestre mantém há quase um ano um projeto social no Bairro Santo Antônio, na região Sudeste, onde vive. A iniciativa atende crianças que convivem diariamente com situações de risco. “Lá tem muita história complicada: pai preso, mãe que faleceu, família envolvida no tráfico. O esporte é um respiro. Eu cobro escola, disciplina, respeito. Sou meio que mãe dentro e fora do tatame.”

As crianças, segundo ela, se espelham na professora e nos alunos mais antigos. “Tem aluno que fala: ‘quando  crescer quero ser igual você’. Isso mexe muito com a gente.”

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Histórias que marcam

Ao longo dos anos, Altina coleciona episódios que jamais esqueceu. O mais forte envolve uma aluna vítima de violência doméstica. “O marido tinha ciúmes de ela treinar. Batia nela. Depois que começou a treinar comigo, conseguiu se defender e sair daquela situação. Somos amigas até hoje.”

Outra história marcante é a de uma aluna que descobriu um câncer de mama. “Ela fala que sou a pessoa mais importante da vida dela. A luta ajudou muito no emocional. Eu apoio até hoje.”

Aulas acontecem no Ipiranga e em projeto social do Bairro Santo Antônio (Foto: Leonardo Costa)

Treino e companheirismo

Os treinos começam com aquecimento, alongamento e seguem para a parte técnica – golpes, aparadores e práticas de movimentação. Só os mais experientes fazem sparring. “Os iniciantes eu não coloco, porque se machucar, às vezes não volta mais.”

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Rígida dentro do tatame e acolhedora fora dele, Altina diz que muitos alunos a procuram como amiga e conselheira. “Tem gente que me liga de madrugada pedindo ajuda. Eu acabo virando psicóloga da luta.”

Impacto e legado

Com centenas de alunos ao longo da carreira – “mais de 500 pessoas já passaram por mim” – Altina se orgulha da caminhada, especialmente por ter começado em um ambiente dominado por homens. “Quando iniciei, eram só três mulheres treinando. Hoje já é diferente. Tudo que aprendi com meu mestre eu passo adiante.”

Para quem já treinou com ela, o recado é direto: “Volta a treinar com a tia, que é muito bom”. E para os que nunca experimentaram, ela garante: “Muay thai é vida. Ajuda no estresse, na ansiedade, na depressão, nos relacionamentos. É uma transformação completa.”

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