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Mário Helênio: o legado de um apaixonado pelo esporte

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O radialista e o ex-prefeito Custódio Mattos entregam ao Nunes, capitão do Master do Flamengo, um troféu
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Apaixonado por futebol e jornalismo, Mário Helênio de Lery Santos comandou por 39 anos o programa “No Giro da Bola” na rádio PRB-3, atual Rádio Solar, marcando toda uma geração de ouvintes. Sua biografia também é marcada por grande influência no cenário desportivo de Juiz de Fora, promovendo competições de várias modalidades e impulsionando o esporte na cidade. Quando faleceu, no Natal de 1995, aos 70 anos, Mário não poderia imaginar que o Estádio Municipal que viu nascer levaria seu nome, cerca de dois meses após seu falecimento. Para relembrar a trajetória do cronista esportivo, a Tribuna conversou com seu filho Mário Augusto e o jornalista Márcio Guerra que acompanharam parte da sua história.

Após o falecimento do radialista, o colunista social Cesar Romero lançou uma campanha para que o estádio recebesse o nome do radialista. A proposta foi levada à Câmara dos Vereadores por Gilberto Vaz de Melo. Em 2 de fevereiro de 1996 a lei foi sancionada, marcando a memória de Mário Helênio no maior palco esportivo da cidade. “Muito nos orgulha ter o nome do pai vinculado ao estádio, é um reconhecimento merecido”, comenta Mário Augusto, que mora no Rio de Janeiro e conversou com a Tribuna por telefone.

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Nascido em 22 de maio de 1925 em Juiz de Fora, Mário Helênio cresceu influenciado pelo tio Phintias Guimarães e o pai Jarbas de Lery Santos na arte de escrever notícias. Considerado o mais novo jornalista do Brasil, começou como repórter aos 16 anos no Diário Mercantil e passou pela Rádio Tiradentes, onde foi comentarista esportivo em uma época em que a função ainda não era tão difundida.

Da esquerda para a direirta, o jornalista Nelson Júnior, Mário Helênio, a esposa Aparecida, Ivan Elias, Ricardo Wagner e a nora, Cândida. Agachados, os netos Letícia, Marina e Bruno com Paulo Cesar Magella, em 1992

Mário também se encantava pelo carnaval, gostava de cobrir eleições e eventos sociais e viu de perto a inauguração do Maracanã e a Copa do Mundo de 1950. Reconhecido nacionalmente, o radialista ganhou por três vezes consecutivas o Troféu Bola de Ouro, concedido aos principais cronistas do país.

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Aos 90 anos, Aparecida Curci relembra memórias do esposo. “Ele era educado, eu gostava dele, até que a gente ficou firme, fiquei noiva e casamos. Foi muito bom, vivíamos muito bem. Ele gostava demais do Flamengo e ele foi muito homenageado, o pessoal gostava muito dele. Ele vivia para o jornal.”

Fiel companheiro

Dos seis aos 18 anos, Mário Augusto acompanhou de perto as apurações do pai. “Com menos de sete anos eu já o acompanhava na rádio, ficava dentro do estúdio ouvindo ele fazer o programa, ou na técnica acompanhando o pessoal que trabalhava. No jornal, estava sempre aos domingos enquanto ele fazia o Diário da Tarde que circulava na segunda-feira. Eu ficava desde o final dos jogos, acompanhando a elaboração das matérias, a diagramação até a impressão. Cheguei a ter uma coluna de futebol independente por vários anos, transformando em notícia as muitas correspondências que ele recebia com os resultados do campo de várzea”, conta.

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O filho, hoje com 61 anos, se lembra que mesmo nas férias o radialista não descansava, sempre se mantendo informado de tudo que acontecia. “Geralmente ele tirava férias naquele recesso do futebol, no final do ano, mas é exatamente nesse momento que acontecem as transferências de jogadores e troca de técnicos. Então ele ficava ouvindo notícias, lendo jornais, não podia ficar nem um mês desligado do mundo. Porque as coisas não param de acontecer.”

Entusiasta também do vôlei

Credencial usada pelo radialista

Uma memória marcante para Mário Augusto é o entusiasmo que o pai demonstrava pela profissão e por divulgar o esporte, o que o motivou a trabalhar até meses antes do seu falecimento. “Ele sempre foi uma pessoa muito positiva, muito empolgada. Na década de 1960 e 1970, em função da sua amizade com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), meu pai levou campeonatos de vôlei para Juiz de Fora e foi presidente da Liga de Vôlei. Ele teve incursões no futebol de salão e no basquete, participou ativamente, seja como dirigente, seja nos meios de comunicação da época. E a partir do Itamar Franco, ele atuou junto a todos os prefeitos da cidade e participou da criação do Conselho Municipal de Esportes.”

Segundo o filho, Mário Helênio era um grande entusiasta pela construção de um estádio municipal para a cidade, desejo popular que começou a ser realizado em outubro de 1986. “Ele divulgava as iniciativas do poder público como forma de motivar a população para pedir aos governantes a construção do estádio. Ele esteve sempre elaborando matérias sobre o andamento das obras e conhecendo o projeto”, conta o filho que ainda guarda os recordes do pai no jornal Tribuna de Minas, onde trabalhou entre 1984 e 1988.

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Em 30 de outubro de 1988, Mário Helênio foi convidado para a inauguração do Estádio Municipal. Mário Augusto ainda guarda o crachá usado pelo pai e as anotações usadas na narração do programa No Giro da Bola.

Notícias que cabem num papelzinho

Márcio Guerra, jornalista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, trabalhou ao lado de Mário por quase 30 anos, quando estagiou no Diário da Tarde – depois de ingressar na faculdade de comunicação social em 1977 – e também na rádio PRB-3. Com admiração, Márcio relembra os primeiros momentos em que atuou com o radialista e a forma curiosa como se aproximaram.

“No começo o Mário era desconfiado, acho que aquela coisa do veterano achar que o novato vai roubar o lugar dele, até o dia em que falei ‘Mário, queria muito aprender com você, queria que você me ensinasse o jornalismo’ e a partir daí nunca mais tivemos dificuldade. Quando terminei meu curso e entreguei meu convite de formatura, o diretor do Diário da Tarde me demitiu e fui procurar emprego no Rio com uma carta de recomendação do Mário Helênio e consegui meu primeiro emprego, no Jornal dos Sports, graças a ele”, conta.

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Para Márcio, a melhor memória que guarda do veterano são de suas peculiaridades ao fazer o Giro da Bola. Com encantamento, Márcio relembra do radialista que narrava um programa de cerca de meia hora com a apuração rabiscada em vários cantos de um pequeno papel que não passava de dez por dez centímetros. “Ele ficava de madrugada ouvindo três ou quatro rádios, algo que herdei e faço até hoje, e ele ia na banca do Mário Caruso no Parque Halfeld, pegava a Gazeta Esportiva e vários jornais, ficava folheando e escrevia anotações em um papelzinho. E ele gostava tanto de Juiz de Fora que quando um time daqui perdia de muito ele mudava o placar, amenizando. Ele dizia que não ia mentir sobre o time ter perdido, mas que não precisava ser humilhado.”

Mário Helênio (de boné preto) no jogo entre a equipe master do Flamengo e a Seleção do Bahamas em dezembro de 1993 (Foto: Jairo’s de Souza)

Mas quando o assunto eram as derrotas do time do coração do radialista, nem havia conversa. “Ele era um torcedor apaixonado pelo Flamengo e não aceitava provocação. Quando tinha falha do goleiro, Mário falava que ele estava na folha de pagamento do adversário. Era uma figura”, relembra, sorrindo, o botafoguense.

‘Um homem desse não pode ser esquecido’

Em 2014, Márcio Guerra lançou, ao lado de organizadores e colaboradores da UFJF, o livro “Mário Helênio: a história do Cronista Esportivo mais Jovem do Brasil”, uma produção a 12 mãos que levou cerca de um semestre para ficar pronta. A justificativa para a escrita do livro é um medo sincero: evitar que uma pessoa de importância como Mário Helênio seja esquecido pelas gerações futuras.

O jornalista Márcio Guerra diz que imensurável a colaboração de Mário Helênio para o esporte amador de Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

“O Mário Helênio não foi um exemplo só para mim, ele é respeitado no Brasil inteiro. Quando criança, ele saiu do hotel no Rio, invadiu a redação do jornal O Globo e entrevistou Getúlio Vargas (ao lado do pai jornalista), um homem desse não pode ser esquecido. Um profissional que fica no ar mais de 30 anos com seu programa, como podemos esquecer?”

Para Márcio, é imensurável a colaboração do jornalista para os esportes amadores de Juiz de Fora e a valorização de outras modalidades. “Em um período em que as pessoas falavam pouco disso, ele falava de tudo: Copa Bahamas, torneio da várzea, bocha e dava as escalações dos times. Ele já enxergava que a monocultura do futebol não era benéfica para o esporte, precisava ter a cobertura de outras modalidades e valorizá-las. Essa é uma das características dele de vanguarda, ele enxergava as coisas muito antes, foi um visionário. Juiz de Fora é muito feliz de ter tido o Mário Helênio, pelo significado dele e o cumprimento dele na essência mais pura do que é ser jornalista.”

Relembrando dos bastidores da produção do livro, Márcio comenta a oportunidade de adentrar espaços e memórias particulares da trajetória do radialista. “Quando a gente chegou na casa dele e o filho e a esposa disponibilizaram tudo para nós, eram caixas e mais caixas de coisas. Foi muito legal encontrar os recortes dele, as anotações, as coisas dele arrumadas no quarto que ele ficava, o rádio e o gravador.”

Hoje, Márcio leva a paixão ao esporte tanto para sua carreira quanto para os alunos em sala de aula, como um legado pessoal da passagem de Mário pela sua trajetória. “Todos nós que fizemos parte da Escola do Mário Helênio somos apaixonados pelo esporte da cidade e as coisas de Juiz de Fora.”

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