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Ex-prefeito Tarcísio Delgado conta os bastidores da construção do Mário Helênio

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Em 30 de outubro de 1988, o Estádio Municipal, depois batizado com o nome do radialista Mário Helênio, era inaugurado (Foto: Jairo’s de souza/Arquivo)
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Há exatos 30 anos, Juiz de Fora estava em festa. Em 30 de outubro de 1988, o Estádio Municipal, depois batizado com o nome do radialista Mário Helênio, era inaugurado repleto de pompa, com dois jogos que entraram para a história do futebol local e a presença de milhares de torcedores. Até chegar este dia, porém, foram muitos anos de tentativas em atender a demanda da população pela construção de um estádio que alavancasse os times locais, colocando Juiz de Fora em destaque no futebol nacional. Neste dia de comemoração, a Tribuna relembra as histórias dos bastidores dessa construção.

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“A gente vinha de uma história de frustrações na construção do estádio”, relembra o jornalista Márcio Guerra, um dos autores do livro “Mário Helênio, a história do cronista esportivo mais jovem do Brasil”. “Primeiro (no governo de Itamar Franco na década de 1960 e 1970) o estádio ia ser na região do antigo Jóquei Clube. O segundo lugar foi o Bairro Borboleta, ali seria uma pista de kart, depois o Mello Reis anunciou que seria uma fábrica de bicicletas e então um estádio. O terceiro local (já com Tarcísio Delgado) era o centro olímpico da UFJF, mas várias pessoas da universidade foram contra na época, falaram que era impossível ter estacionamento suficiente para as pessoas. Os estudantes da Faefid entendiam que o espaço era para estudo, não para evento. Foi mais uma frustração. Naquela época Tupi, Sport e Tupynambás já faziam jogos no Sport, que era o estádio de maior capacidade de público e todos falavam que Juiz de Fora precisava de um espaço para o futebol local alavancar.”

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Fases da construção do local (Foto: Márcio Guerra/Arquivo)

O projeto saiu do papel na quarta tentativa, com o então prefeito Tarcísio Delgado. Hoje, aos 83 anos, ele destaca a motivação que o levou a tomar para si a tarefa de construção do local. “Naquela época, nós fazíamos um torneio quadrangular de aniversário da cidade no Sport, e enchia muito pois vinham times bons do Rio, Goiás e São Paulo. E eu fui no centro do campo, como prefeito, e quando voltei só ouvi uma coisa: ‘estádio, estádio’. A arquibancada inteira só gritava isso, era uma demanda muito forte da cidade. Tanto era forte que os outros prefeitos tentaram, mas não puderam fazer.”

A definição do local onde hoje se localiza o estádio – no Bairro Aeroporto – aconteceu, segundo ele, como um acidente. Um vislumbre ao acaso de um apaixonado por futebol. “O Sindicato dos Bancários pediu para olharmos uma água que estava minando na sede deles”, relembra Tarcísio. “Com o secretário de obras, o José Maurício, fomos ver o local e na volta resolvi voltar por outro caminho. Quando chegamos onde hoje é a cabine de rádio do estádio, pedi para parar o carro. Aqui tinha um lago enorme, era uma fazenda que tinha loteado e já haviam algumas casas. Perguntei ao José Maurício: ‘Vê se adivinha o que estou vendo aqui’, ele deu na pinta: ‘o estádio’. Daí tomamos as providências para construir.”

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‘Não tem estádio igual o nosso aqui perto’

Com capacidade para receber 55 mil pessoas (hoje contempla 31.863 espectadores), o estádio em formato de ferradura começou a ser construído em outubro de 1986 e é considerado o primeiro do país inteiramente feito com estruturas pré-moldadas. Além de comportar as cabines de TV e tribuna de imprensa, segundo o ex-prefeito Tarcísio Delgado, a grande novidade da época eram as cabines de rádio e, por isso, o Municipal estaria à frente das demais estruturas desportivas pelo país afora.

Foto: Tribuna de Minas/Arquivo

“Quando inauguramos o estádio com a construção bem adiantada, veio em Juiz de Fora falar comigo o João Saldanha, grande repórter esportivo do Rio e que foi técnico do Botafogo, mas se dedicava mais à imprensa. E ele falou: ‘não precisa construir cabine de rádio, em países do mundo inteiro se transmite da arquibancada’, mas já estávamos fazendo. E ele, muito entusiasmado, foi para o Rio e escreveu sobre isso no jornal”, conta.

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Tarcísio relata as dificuldades da pré-inauguração. “Nos momentos finais da obra aparecem mil coisinhas, e da universidade até aqui não tinha asfalto, era terra. Choveu muito na semana da inauguração, eu fiquei muito apreensivo, mas como tenho o santo muito forte, no sábado e no domingo não choveu mais e, logo depois, consegui do governador asfaltar o acesso. Hoje o estádio está dentro de um bosque, com as árvores que plantamos na época da inauguração. As pessoas que vêm de fora do país ficam admiradas.”

“O estádio é um pouco mais do que de Juiz de Fora, na verdade é também regional, porque não tem estádio igual o nosso aqui perto”, opina Tarcísio (Foto: Marcelo Ribeiro)

Questionado sobre as lembranças do dia de inauguração, o ex-prefeito cita o presença do público e as presenças ilustres. “Lembro que vieram vários jogadores, muitos da Seleção Brasileira, o campeão do mundo de 1958, Orlando Peçanha, que me honrou muito, e o Zico também veio para assistir. As arquibancadas estavam lotadas, nunca vi tanta gente reunida na minha vida como na inauguração. Veio gente da região toda, da Zona da Mata, Região das Vertentes, Sul de Minas. O estádio é um pouco mais do que de Juiz de Fora, na verdade é também regional, porque não tem estádio igual o nosso aqui perto.”

Reformas após 26 anos

Desde sua construção, a primeira reforma do estádio só aconteceu em 2014, 26 anos após a inauguração. Na primeira etapa foi realizada a troca e alinhamento do gramado, atendendo aos padrões da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para receber jogos oficiais, e a instalação do sistema de irrigação eletrônica. Em 2015, o vestiário, as cabines de rádio, TV e sala de imprensa, bares e bancos de reservas passaram por melhorias e foi providenciada uma nova estrutura para a Polícia Militar. Foram construídas ainda 12 novas cabines de rádio e feita a reforma geral do prédio.

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Em 2017, as arquibancadas passaram por pinturas assim como as áreas externas. Em novembro do mesmo ano, o estádio recebeu um placar eletrônico para transmitir em tempo real as informações sobre a partida. A fim de atender às solicitações da população, da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros (CB), houve ainda a implantação do corredor de alambrado no Pórtico 1 (principal), para separar a entrada das delegações e da arbitragem do acesso dos torcedores. Outra melhoria foi a expansão da área de torcedores no Pórtico 3 (visitantes), para facilitar a chegada e saída do público, evitando aglomerações em grandes jogos.

Segundo a Secretaria de Obras e a Secretaria de Esporte e Lazer, uma nova obra deve ser realizada com previsão de início em novembro deste ano. O foco será o hall de entrada, com a construção de banheiros femininos, troca de piso e construção de sala de computador para operação do placar eletrônico.

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