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Polícia investiga suposto desvio de dinheiro na antiga gestão do Tupynambás

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A Polícia Civil abriu inquérito na última quarta-feira (29) para investigar os supostos desvios de dinheiro ocorridos durante a antiga gestão do Tupynambás Futebol Clube e o consequente crime de apropriação indébita em desfavor do ex-presidente do Baeta, o policial militar reformado Francisco Carlos Quirino. No mesmo dia, a 6ª Delegacia cumpriu mandado de busca e apreensão, expedido pela 1ª Vara Criminal, na residência de Chiquinho, como é conhecido. Na casa dele teriam sido recolhidos documentos e aparelhos eletrônicos, como computador e celular. Entre os valores investigados estão os mais de R$ 720 mil referentes à venda dos direitos do clube sobre o jogador de futebol internacional Danilo Luís, durante a transferência dele do Real Madrid (Espanha) para o Manchester City (Inglaterra). Além disso, mais de R$ 237 mil também teriam desaparecido dos cofres do Tupynambás no exercício de 2017. Em entrevista à Tribuna, Chiquinho negou todas as acusações.

As investigações tiveram início após o Ministério Público Estadual receber notícia crime baseada nos levantamentos realizados pela atual diretoria do Baeta. O inquérito é conduzido pelo delegado Rodolfo Rolli, que responde interinamente pela 6ª Delegacia, responsável pelas ocorrências da região Sudeste de Juiz de Fora, onde está localizada a sede do clube. Por meio da assessoria da Polícia Civil, o delegado informa que não pode divulgar detalhes da investigação, porque o caso corre em segredo de Justiça.

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Em nota, a nova diretoria do Tupynambás Futebol Clube esclarece que “após um conturbado processo eleitoral, decorrente das diversas irregularidades praticadas por alguns membros da gestão anterior que resultou, inclusive, na intervenção judicial para que a eleição ocorresse de forma imparcial e transparente, sagrou-se vencedora, pelo voto, a chapa Baeta para o Futuro”, em janeiro deste ano.

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No entanto, a atual administração teria encontrado uma situação “caótica” no clube e, diante da falta de esclarecimentos, iniciou uma abrangente auditoria administrativa, financeira e patrimonial, detectando “operações bancárias fora dos padrões contábeis”. Diante do quadro, o caso foi encaminhado ao MP “para as providências cabíveis em face dos responsáveis” (ver fac-símile).

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A atual gestão diz estar ciente das medidas já cumpridas pela polícia e afirma estar acompanhando de perto as investigações, mantendo-se firme no compromisso de promover a defesa do patrimônio do Tupynambás e de seus associados. A diretoria ainda destaca sua “irrestrita confiança no trabalho das

Imagens das câmeras de segurança mostram dois ex-funcionários e uma terceira pessoa na tesouraria do Tupynambás, após das 21h, horário em que o local já estava fechado; os envolvidos teriam recolhido papéis e retirado do cofre determinada quantia em dinheiro

autoridades envolvidas no caso”.

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Câmeras flagram retirada de cofre no clube

Ao assumir a administração do Baeta no início de 2018, a nova diretoria estranhou a ausência de vários documentos, inclusive contábeis, na tesouraria do clube e decidiu verificar as câmeras de vigilância junto à empresa responsável. Nas imagens, dois ex-funcionários e uma terceira pessoa aparecem na tesouraria do Tupynambás, por volta das 21h do dia 15 de janeiro, horário em que o local já estava fechado. Na ocasião, os envolvidos teriam recolhido papéis e retirado do cofre determinada quantia em dinheiro.

Um levantamento financeiro teria sido realizado junto à Caixa Econômica Federal, e o valor referente à venda dos direitos do clube sobre o jogador de futebol Danilo Luís nunca teria entrado nas contas do Baeta.

A atual gestão também detectou transferências para um escritório em Belo Horizonte, supostamente correspondente aos serviços prestados durante a negociação do atleta. A quantia chamou a atenção porque seria bem superior à praticada no mercado.

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Procurado pela Tribuna, o advogado Lucas Ottoni confirmou ter recebido valores do Tupynambás “relativos a serviços efetivamente prestados”. “As notas fiscais respectivas foram encaminhadas ao clube na época, e os tributos recolhidos a tempo”, afirma. Ele diz não ter recebido qualquer notificação judicial até o momento, mas garante “não ter nada a temer”. “Trabalhamos de forma correta e estamos à disposição para prestar esclarecimentos.”

O advogado acrescenta já ter sido procurado pela atual diretoria do Baeta e informa estar programando para vir a Juiz de Fora nos próximos dias, quando deverá participar de uma reunião com a atual equipe responsável pela administração do clube, na qual deverá apresentar a documentação necessária.

Bloqueio de contas

A 1ª Vara Criminal também determinou o bloqueio nas contas bancárias do investigado dos valores supostamente desviados, além da quebra de sigilo bancário no período entre janeiro de 2015 e o fim do mesmo mês de 2018. Só o ex-presidente Francisco Quirino teve bloqueados mais de R$ 480 mil, ou seja, quase meio milhão. O objetivo é tentar recuperar o suposto desfalque feito no clube e impedir que as quantias desapareçam ou sejam repassadas a terceiros. Chiquinho também teve quebra de sigilo fiscal, sendo exigidas as declarações de imposto de renda dele entre 2016 e 2018.

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A Justiça entendeu haver elementos da materialidade delitiva e indícios suficientes de autoria, baseados nos documentos e imagens obtidas pela gestão atual do clube. Várias movimentações bancárias também foram levantadas pelos denunciantes, inclusive um saque da quantia relacionada à venda do atleta Danilo.

O ex-presidente do Baeta, Francisco Quirino, recebeu a reportagem, na tarde desta quinta-feira, na casa onde mora com a esposa, e falou com exclusividade sobre as acusações que envolvem seu nome. Segundo ele, todo este problema se deu após os atuais dirigentes do Tupynambás terem lhe convidado para participar do processo eleitoral do clube, entretanto, Chiquinho diz não ter aceitado por não concordar que alguns integrantes definissem seus cargos. “Tenho minha consciência limpa e, para mais detalhes, preciso aguardar a orientação dos meus advogados. É preciso reunir documentos que a atual diretoria possui. E, apesar de eu ter pego alguns papéis que eles alegam, fiz isso pois precisava prestar contas do período em que estive à frente do Tupynambás”, afirmou. Questionado sobre os supostos desvios, Chiquinho garantiu que “tudo isso vai ser esclarecido” e acrescentou: “Tenho 64 anos, sou pais de dois filhos e jamais pegaria qualquer valor do clube que eu amo, inclusive sou benemérito do Tupynambás”, disse ele com a carteirinha de sócio em mãos, apresentando o título geralmente concedido àqueles que prestam relevantes serviços a entidades.

O ex-dirigente informou que o cumprimento do mandado de busca e apreensão se deu de forma respeitosa e, de sua casa, foram levados um notebook, um celular, pen-drive, bolas de futebol, carteirinhas antigas do clube, documentos, HD externo, onde, segundo ele, armazenava fotos de família, além de algumas camisas de futebol. “No mandado constava a informação que fosse apreendido todo e qualquer tipo de material desportivo ligado ao Baeta. Até as bolas que eu fui presenteado por jogadores ou por aqueles que respeitaram meu trabalho foram levadas. Me perguntaram se eu tinha dinheiro em casa, e eu disse que vivo apenas do meu salário de militar reformado (R$ 12 mil, segundo ele), suficiente para manter minha casa. Inclusive, se eu tivesse desviado qualquer valor, não estaria morando de aluguel, nem mesmo quitando meu carro em prestações.”

Sobre os R$ 480 mil bloqueados de sua conta, Chiquinho diz desconhecer tal ação e alega não possuir o valor. “Quando quebrarem o sigilo de minha conta bancária serão surpreendidos pela quantidade de empréstimos que eu fiz para salvar o Baeta”, pontuou afirmando ter adquirido dívidas em torno de R$ 100 mil, devido aos tais empréstimos.

Durante a entrevista, Francisco Quirino fez questão de destacar que foi o responsável por salvar o clube e trazê-lo de volta ao futebol profissional. “Eu pessoalmente procurei a Prefeitura para quitar as dívidas relativas ao IPTU, regularizei a situação de funcionários que estavam com salários atrasados, assim como férias e 13º salários, além de dívidas de comida e de contadores, entre outras pendências. Tudo foi acertado e, aos poucos, conseguimos resolver estes problemas. Vou provar que todo o dinheiro da venda do Danilo foi aplicado no clube”, asseverou o ex-presidente.

A Tribuna fez contato com a defesa do investigado e, por telefone, uma das advogadas, que preferiu não se identificar, informou que ainda não teve acesso ao inquérito e que só irá se pronunciar após saber o que, de fato, está sendo questionado pelos atuais administradores do Tupynambás Futebol Clube.

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