Aos 57 anos, o juiz-forano Nilson Nepomuceno teve uma das maiores conquistas de sua vida – feito que, anos atrás, jamais imaginava conseguir. No último dia 2, o morador do Bairro Bosque Imperial, na Cidade Alta, concluiu os 42 quilômetros da Maratona do Rio de Janeiro, em apenas 4 horas e 15 minutos, tornando-se um maratonista. Por sua história de sucesso no esporte, ele é o décimo quinto personagem da série “Qual é o seu Corre”, que conta a história de um atleta local a cada etapa do Ranking da cidade.
Nilson será um dos dois mil atletas presentes na 1ª Corrida Brasil Imóveis, quinta etapa do 36º Ranking de Corridas de Rua da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). No ano passado, ele foi o 4º lugar na sua faixa etária. A prova acontece neste domingo (30), a partir das 8h, no Espaço Estrela JotaEfe, ao lado do Condomínio Estrela Alta, na Avenida Deusdedith Salgado. O percurso da corrida será de dez quilômetros e o da caminhada, de 2,5 km. A corrida infantil será realizada no dia 29, às 15h, no mesmo local.
Do início devagar à meia maratona
Para chegar ao posto de maratonista e membro de duas equipes – Gilberto Roque e Goianá Sports -, Nilson precisou ter foco e disciplina, como conta. Tudo começou em 2018, quando um amigo o convidou para correr. Enquanto seus filhos, Lucas e Yure, hoje com, respectivamente, 6 e 14 anos, treinavam futebol, o empresário começou a se aventurar na modalidade. “Caminhava e corria um pouco, algo bem amador, dois ou três quilômetros por dia, e fui pegando gosto”, relembra. Desde o começo e até hoje, a esposa, Marina, também foi uma grande incentivadora.
Aos poucos, com seus amigos, Nilson foi aumentando a quilometragem, até sentir a necessidade de procurar uma assessoria especializada. “Faz toda a diferença. Uma coisa é correr, outra é treinar corrida. Colocar um tênis no pé e ir, todo mundo vai, mas treinar é profissionalismo, com nuances e variáveis para aplicar”. No mesmo ano que iniciou, ele participou de sua primeira prova, a Corrida da Fogueira, de sete quilômetros, e ficou em 33° na sua faixa etária.
Nessa época, Nilson não imaginava que conseguiria correr dez quilômetros, mas diz que o “mosquitinho da corrida picou”. Chegou aos 15 quilômetros e treinou para completar a meia maratona do Rio. “Fui com o pessoal de Juiz de Fora, como se fosse uma delegação de futebol. Quando acabei os 21 quilômetros, cheguei completamente esgotado. Pensava que, se eu tivesse que fazer mais essa quilometragem, seria impossível, não aguentaria”.
Treinos especializados até os 42km
Após treinar em setembro e outubro de 2023 na Inglaterra e na França, em janeiro deste ano, Nilson colocou na cabeça, em uma conversa com Deus, que percorreria os 42 quilômetros de uma maratona. Ele começou o ciclo de treinos e atingiu os 36 quilômetros. “Tive que treinar com responsabilidade e dedicação. São várias pontas de uma estrela: treinador, nutricionista, fisioterapia e médicos ortopedista e cardiologista”.
“Foi um ciclo extremamente planejado. Nesse tempo, não perdi um dia. Eram longões nos finais de semana e treinos específicos nos dias de semana. Várias vezes cheguei para treinar sozinho, acordava 3h30, até em época de frio. Chegava 4h30, não tinha ninguém na rua. Tem que ter muita dedicação, querer demais da conta. Os treinamentos são muito desgastantes”, relata.
Na noite anterior à Maratona do Rio – em que correu com cerca de 20 mil pessoas -, Nilson só dormiu por uma hora, de tanta ansiedade. “Mas eu estava tão bem mentalmente, queria tanto aquilo, que falei que conseguiria do jeito que fosse. Quando estava no quilômetro 34, deu uma balançada. Se eu fracassasse ali, naquele momento, o fracasso ia me acompanhar para o resto da minha vida. Mas se eu buscasse uma força interior, ia colher tanto fruto daquilo que ficaria estagnado como estou hoje, contando a história para várias pessoas. Desistir nunca esteve no meu vocabulário. Cheguei no quilômetro 37, que nunca tinha feito, e continuei”, relembra. “Me senti numa tarde de verão bem quente em que eu queria que o sorvete demorasse para acabar”.
Quando estava prestes a completar os 42 quilômetros, Nilson encontrou um amigo que também treina na UFJF e o acompanhou. “Gosto muito disso na corrida, tive ajuda no início e agora sempre ajudo. Nessa reta final, foi muito legal o locutor gritando falando que estávamos chegando, perto de nos tornamos maratonistas. Depois de quatro horas e 15 minutos (de prova), é um êxtase, nem lembro da largada. Uma quantidade gigantesca de gente aplaudindo, porque sabem a dificuldade. Falei com meu filho que ia buscar quem estava me esperando: essa medalha tão importante. Quando peguei, chorei demais, parece que você está num transe gigantesca”, vibra.
Maratona do Chile
“Quando você termina uma maratona, ou você detesta e não quer mais, ou percebe que se superou e quer fazer mais”, diz Nilson. No seu caso, a segunda opção foi a escolhida. No ano que vem, o empresário quer fazer a Maratona do Chile. “Não é fácil, mas quando você quer, arruma um tempo para fazer. Uma frase que penso ser importante é que quando você quer uma coisa, você pega e faz, sem desculpas. Tem que ter motivação. Eu não corro para superar quem está à minha direita, e sim para superar o Nilson, a mim mesmo”, fala.
Com suas conquistas, Nilson se sente responsável para ser um espelho e influenciar as pessoas de forma positiva. “A corrida representa uma parcela gigantesca na minha vida, não consigo viver sem. Me tornei uma pessoa muito mais forte. Minha saúde melhorou demais, não tomo remédio para nada. O médico disse que meu exame de sangue é compatível com uma pessoa de 18 anos. Corredores e maratonistas são pessoas felizes. Encaramos a vida de uma forma diferente, com mais otimismo, perseverança, resiliência. Não só na parte esportiva, mas também na pessoal, profissional e familiar”, completa.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva.