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Saúde além da conta

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Após fratura na patela por excesso de treinos em 2015, Patrícia se recuperou e voltou a correr no início deste ano
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Se você pratica uma atividade física, certamente já sentiu dores musculares ou conhece alguma pessoa de seu grupo que sofreu lesões como as populares tendinites. Agora, se o incômodo passar a ser permanente, sobretudo após excesso nos treinos, pode ser um sinal da síndrome de overtraining ou síndrome do excesso de treinamentos. Apesar de seus conceitos serem ainda pouco difundidos, as lesões por conta do abuso da prática desportiva sem o descanso adequado podem ocasionar desde problemas mais simples, até consequências graves, como lesões ósseas. Este foi o caso da educadora física Patrícia Lisboa, 41 anos, que, mesmo dominando o conhecimento da área, acabou fraturando a patela durante uma meia maratona.

A profissional contou o drama vivido à Tribuna, que também colheu avaliações do ortopedista Fernando Mascarenhas, com experiência no Cruzeiro entre seu histórico de relação com o esporte, e do preparador físico Pedro Rios, sócio-proprietário do Centro de Treinamento Funcional Live Well.
Patrícia relembrou que foi fazer uma corrida de trail run na Argentina, no Ushuaia, há dois anos. “Trinta e cinco dias antes, apresentei uma dor no tendão patelar da perna direita. Me mediquei, diminuí os treinos, porque estava me preparando para correr 42km, mas mudei para 21km pela dor. Não era nem para ter ido. Mas como já tinha comprado passagem, estava tudo esquematizado e havia mobilizado oito pessoas para ir comigo, viajei. A única coisa que pensei era que meu tendão ficaria super ferrado, depois trataria e pronto.”

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Mesmo com a diminuição da carga, as dores da atleta permaneceram, mas não a ponto de impedi-la de correr. O que ela não contava é que o sonho de realizar a prova se transformaria num pesadelo. “Quando fiz a corrida, medicada, no dia 17 de maio de 2015, literalmente na chegada, quando fui comemorar, fui dar um salto baixinho porque tinha um fotógrafo na frente, e as fotos ficam lindas, minha perna virou para o lado, senti um ‘creque’ no joelho e pensei que o tinha quebrado, apesar de achar que não quebrava assim. Perdi a base para andar, meu joelho foi ficando deformado, muito inchado, e uma dor insuportável. Fui para o hospital, mas não deu para fazer muita coisa. Liguei para o médico no Brasil, que pediu para eu comprar uma joelheira, o que fiz, mas acabei tirando porque apertava meu joelho e doía. Voltei para o Brasil e foi diagnosticada a fratura na minha patela. Não precisei de cirurgia, mas usei seis ferros externos e imobilizador”, conta, emocionada.

Volta por cima após longa recuperação

A corredora Patrícia Lisboa relembra que teve que passar 80 dias na cama, fazer 52 sessões de fisioterapia e precisou andar dois meses de muleta até voltar a caminhar normalmente. Tudo para que poder voltar a fazer o que mais lhe dá prazer. “No dia 29 de janeiro deste ano foi minha primeira corrida, na qual consegui completar 7km devagar, mas ainda sentindo muita dor. Então, vai dar quase dois anos que eu não corro. Esse retorno exige muito trabalho mental porque é bem difícil, ainda mais para mim, que sou apaixonada por correr e por trail run (corrida de montanha). É uma terapia, ali resolvo minha vida. Quando estou com um problema, feliz, quero correr. Também sou treinadora de corrida, apaixonada por treinar meus atletas. Essa parada foi uma fase em que divido como antes e depois do Uchuaia”, diz. No último dia 19 de março, ela participou da primeira prova de trail run após a lesão, o XTerra Ibitipoca, de 8km.

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Consequências
O leque de consequências do overtraining, do qual ela foi vítima, é extenso, como detalha o ortopedista Fernando. “Qualquer estrutura osteoligamentar, tendinosa, muscular, pode sofrer processos de lesões. As tendinites são muito frequentes. Por exemplo, o corredor pode apresentar no tendão de aquiles, as próprias fascites plantares. Os jogadores de vôlei e basquete apresentam muitas tendinites de joelho, os de tênis as epicondilites laterais do cotovelo, as tendinites de ombro. Depende do tipo de prática esportiva. Não podemos afastar também as lesões ósseas, as fraturas por estresse, que são provavelmente as mais temidas lesões de overtraining, porque foi tão importante que chegou na parte óssea, ou seja, aprofundou muito. É difícil classificar qual a lesão mais frequente, está muito relacionada ao esporte que o atleta pratica.”

Atleta amador treina, come dorme e… trabalha!

Pedro Rios alerta: “Um atleta profissional treina, come e dorme, basicamente. O amador treina, come, dorme e ainda trabalha. Então, sua rotina profissional influencia diretamente no treinamento”

Em situações de dor como a de Patrícia, o preparador físico Pedro indica que, “a partir do momento em que a pessoa apresenta sintomas de overtraining, a primeira coisa que deve fazer é descansar. Tem que parar ou reduzir drasticamente os treinos. Ela precisa conhecer seu corpo, tem que saber a diferença entre a preguiça e a exaustão.” Já o médico Fernando alerta que a obsessão por conquistas pessoais pode prejudicar o atleta amador se ele não tiver uma orientação profissional desde o princípio. “O ideal é que, antes de começar a prática esportiva, a pessoa faça uma avaliação com um ortopedista, que vai checar principalmente a parte postural e se existem fatores que possam interferir na atividade desse atleta. E quem prescreve a atividade física é o educador físico. Porque as lesões por overtraining estão relacionadas a fatores intrínsecos, do próprio atleta, como pisada, angulação dos joelhos, desvios de coluna, e os extrínsecos, ou seja, uma boa qualidade de material esportivo, no caso de corridas o piso, a bicicleta estar ergonomicamente relacionada com o biotipo do paciente. São pontos importantes que devem ser avaliados”, explica.

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O médico Fernando Mascarenhas indica que, antes de iniciar qualquer prática esportiva, o atleta procure um ortopedista para fazer uma avaliação postural

No caso de atletas amadores, Pedro ainda lembra outro aspecto: “Um atleta profissional treina, come e dorme, basicamente. O amador treina, come, dorme e ainda trabalha. Então, sua rotina profissional influencia diretamente no treinamento. Se a pessoa não tiver um período de descanso legal, possui grandes chances de desenvolver essa síndrome de overtraining.”

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