No cenário menos urbano de Juiz de Fora, marcados por morros, trilhas, pedreiras e amplas áreas verdes, a prática de esportes de aventura diretamente ligadas à natureza tem se destacado. Modalidades como o rapel e o paraquedismo vêm ganhando espaço não só pela adrenalina, mas também pela proposta de promover reflexão ambiental, respeito aos espaços naturais e uma relação mais consciente entre o ser humano e o meio ambiente. Os esportes foram dois dos protagonistas da série TM Esporte Clube, encerrada pela Tribuna em 2025 depois de apresentar aos leitores 15 diferentes modalidades esportivas praticadas em Juiz de Fora.
O rapel e o paraquedismo, cada vez mais presentes na rotina esportiva dos juiz-forano, mostram que o contato direto com a natureza pode ir além do lazer. Quando realizadas com orientação técnica e responsabilidade, tornam-se instrumentos de educação ambiental, estimulando valores como preservação, cuidado coletivo e compreensão dos limites impostos pelo próprio ambiente natural. Mais do que adrenalina, essas atividades têm se transformado em ferramentas de educação ecológica, mostrando, na prática, que não existe aventura sem respeito ao meio ambiente.
Rapel: técnica, segurança e preservação
Entre as iniciativas que unem esporte e educação ambiental está o trabalho do instrutor de rapel e geógrafo Linus Pauling, ao lado de Cássia Soranço, profissional formada em meio ambiente. A dupla promove descidas guiadas em pontos naturais de Juiz de Fora e região, sempre com foco em segurança, técnica e sensibilização ecológica.
Antes das descidas, os participantes passam por uma instrução obrigatória, que inclui o uso correto dos equipamentos, postura corporal, comandos, ancoragem e dinâmica da atividade. Todo o processo é acompanhado de perto pelos instrutores, garantindo suporte contínuo e controle dos riscos.
Além da parte técnica, há um momento dedicado à reflexão ambiental. “O rapel só existe porque existe natureza. Por isso, antes de descer, explicamos o procedimento técnico e reforçamos a importância de cuidar do ambiente onde estamos”, explica Linus Pauling. Segundo ele, o contato direto com a rocha, o relevo e a paisagem faz com que o praticante compreenda, na prática, o valor daquele espaço. “Essa vivência ensina mais do que qualquer sala de aula”, resume.
Durante as atividades, Cássia Soranço reforça o olhar ambiental. “Mostramos como cada detalhe da paisagem importa. A pessoa vê de perto como a água molda a rocha, como as plantas sobrevivem nas fendas, como o solo responde ao uso”, afirma. Para ela, a aventura se transforma em consciência, criando uma relação mais responsável com o meio ambiente.
Em Juiz de Fora, locais como o Morro do Imperador, a Pedreira do Yung, a Trilha da Pepsi, a Pedra Preciosa, a Pedreira da Zona Norte e a Cachoeira de Humaitá se destacam como cenários para a prática. A regra é clara e constantemente reforçada pela equipe: “Tudo o que você traz, você leva de volta. Tudo o que pertence ao lugar, fica no lugar”.
Paraquedismo: conexão com o céu e com o tempo da natureza
Se no rapel o contato é direto com a rocha e o relevo, no paraquedismo a relação com a natureza acontece no céu. Para Luiz Cláudio Santiago, conhecido como Dim, instrutor da Skydive, a relação entre o esporte e o meio ambiente é imediata. “A natureza está intimamente ligada ao paraquedismo pelo próprio propósito do esporte, que é praticado no céu”, afirma.
Segundo ele, os benefícios do salto vão além da sensação de bem-estar e liberdade. “Saltar é se conectar com algo grandioso. Estamos diante de uma imensidão azul e fazemos parte disso. É um sentimento de pertencimento”, descreve.
Outro aspecto destacado por Dim é o estado de presença exigido pela prática. “O tempo ‘para’. Só existe você e o vento no rosto. É um reset mental”, define. Além disso, o esporte impõe um aprendizado constante sobre respeitar o ritmo da natureza. “Se as condições climáticas não estiverem favoráveis, não tem como saltar, por mais que a gente queira”, conta. Nesses momentos, a única opção é esperar. “É um exercício de paciência e de respeito aos limites naturais.”
