A aventura de Gerson, que é tenente da reserva do Exército, começa na madrugada do dia 1º de outubro, quando embarca do Rio de Janeiro para Manaus, capital do Amazonas. De lá, o juiz-forano segue para Santarém, seguindo, já no dia 2 de outubro, para a vila de Alter do Chão, onde se encontrará com a equipe de organização da Jungle Marathon, que irá auxiliá-lo no embarque em um dos barcos que o levará ao acampamento-base, já dentro da Reserva Natural de Tapajós, onde a corrida acontecerá, após uma viagem de cerca de 12 horas noite adentro. Após mais um dia de checagem de equipamentos obrigatórios, conhecimento do trajeto e dos horários de largada e limite de tempo para chegada das primeiras 24 horas da competição, no dia 5 de outubro Silveira e seus concorrentes largam para a aventura.
Ao todo, serão sete dias de selva amazônica, já que a chegada competidores de volta ao acampamento-base está prevista para o dia 11 de outubro. Segundo a organização, a prova abarca elementos como pântanos, travessia de rios, escaladas, descidas, trilhas em mata fechada e corridas em praias fluviais, tudo isso em uma região cuja umidade é sempre elevada e as temperaturas passam facilmente dos 40 graus. Além disso, os participantes, por estarem em uma reserva natural, sempre estarão expostos a encontros com plantas venenosas, além de insetos e animais selvagens que variam de vespas a onças, passando, claro, pelas temidas cobras da Amazônia. Motivos mais do que suficientes para um ultratleta sonhar por muito tempo em cumprir não só a distância, mas superar todos os obstáculos em busca da linha de chegada.
Segundo Silveira, a disputa de sua primeira Jungle Marathon será a coroação de sua trajetória nas provas mais longas do planeta, iniciada em 2008. “Pode-se dizer que me preparei toda a vida para um desafio como esse. Aliando minha rotina de atleta e treinamento militar, me sinto pronto para poder fechar mais esse percurso, sem dúvida, o mais duro do qual terei participado. Nos últimos quatro anos me planejei para fazer essa prova, mas não consegui participar. Esse ano, pode-se dizer que estou realizando um sonho. Estou muito feliz.”
‘Sofrimento gostoso’
Embora admita que a vontade de superar adversários também estará presente, Silveira diz que o foco é cruzar a linha de chegada, no dia 11 de outubro. “Claro que me preparei especificamente para a Jungle Marathon, fiz treinos em trilhas na Associação dos Sargentos do Exército (ASE) para simular um pouco das condições que encontrarei por lá e estou bem para competir, quero chegar mais à frente que posso. Levei a sério, mas estou indo sem me colocar responsabilidade demais, até porque é a primeira vez. Não estou me pressionando por um resultado ou colocação. Vou para curtir um sofrimento gostoso, e a meta é terminar, passar do pórtico no último dia de corrida”, conta.
Com diversas variáveis a serem consideradas em uma prova tão longa e com tantos desafios e perigos, Silveira acredita que a força mental, conseguida nos anos de treino e com o apoio de quem acompanha sua carreira, será tão importante quanto a física nos sete dias na Amazônia. “Claro que é preciso estar bem preparado fisicamente para essa corrida. Mas a parte psicológica também é fundamental e, às vezes, manda mais do que o físico. Em uma competição na qual diversas coisas improváveis podem acontecer – haja vista que assinamos um termo de responsabilidade informando que estamos cientes de que poderemos sofrer acidentes e ataques de animais nativos, por exemplo -, o trabalho com a mente tem que ser igual ou melhor do que o do corpo. Nessas horas, a gente não corre sozinho. No meio do mato, a família, os amigos, os parceiros de treino e todos que torcem por nós nos empurram mais longe, mesmo após os músculos terem desistido”, considera.
Estratégia está traçada
Gerson já traçou a estratégia de prova e prevê qual etapa será a mais dura para cumprir na Jungle Marathon. “O segredo de uma prova em um local tão inóspito e com tantos quilômetros e dias é dosar os esforços. Às vezes é melhor parar, descansar e se recuperara antes de encarar um desafio do que tentar cumpri-lo com o corpo cansado. Nos primeiros dias, vou procurar me poupar para, no fim da corrida, acelerar ao máximo. Entre o quarto e o quinto dias acontece a etapa longa, com um percurso de 108km que tem de ser cumprido de uma só vez. Acredito que essa parte será a mais dura, na qual haverá muitos abandonos. A partir daí é pé embaixo”, projeta.
Como estará embrenhado na Floresta Amazônica e indo de acampamento em acampamento, Silveira, assim como os outros competidores, terá que tomar cuidados especiais antes e durante os 254 quilômetros de competição. “Passamos por avaliação médica antes da largada, temos que levar laudos clínicos que mostrem que estamos aptos a correr e comprovação de que tomamos todas as vacinas necessárias. A principal preocupação durante o percurso é com a hidratação. A organização só fornece água para beber, morna – porque gelada no meio da floresta não há -, e para cozinhar, quente. O resto é conosco. Então temos que carregar comida para seis dias de mata (não podemos consumir frutas nativas no decorrer do percurso) e, a cada posto de hidratação, somos obrigados a levar 2,5 litros de água. Minha mochila deve pesar uns 14kg ou 15kg na largada, contando com a comida, roupas para correr e trajes secos para a chegada, aparatos para cozinhar e de higiene pessoal, além da rede para dormir. Devo terminar carregando a metade disso”, prevê.