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Sete dias na Amazônia

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O ultramaratonista juiz-forano Gerson Sávio da Silveira (ASE/Potenza/Sprint Tenis), 50 anos, tem um desafio e tanto para cumprir nos próximos dias. Na virada de setembro para outubro, o local embarca para o Norte do Brasil, onde participará daquela que é considerada uma das mais extremas corridas do planeta, a Jungle Marathon. O atleta estará no pelotão que percorrerá o trajeto mais longo da prova, que esse ano está em sua décima edição, com iniciais 254km que podem ser aumentados pela organização durante os dias de realização do desafio, sem aviso prévio. No total, cerca de 60 competidores devem alinhar para esse trajeto.

A aventura de Gerson, que é tenente da reserva do Exército, começa na madrugada do dia 1º de outubro, quando embarca do Rio de Janeiro para Manaus, capital do Amazonas. De lá, o juiz-forano segue para Santarém, seguindo, já no dia 2 de outubro, para a vila de Alter do Chão, onde se encontrará com a equipe de organização da Jungle Marathon, que irá auxiliá-lo no embarque em um dos barcos que o levará ao acampamento-base, já dentro da Reserva Natural de Tapajós, onde a corrida acontecerá, após uma viagem de cerca de 12 horas noite adentro. Após mais um dia de checagem de equipamentos obrigatórios, conhecimento do trajeto e dos horários de largada e limite de tempo para chegada das primeiras 24 horas da competição, no dia 5 de outubro Silveira e seus concorrentes largam para a aventura.

Ao todo, serão sete dias de selva amazônica, já que a chegada competidores de volta ao acampamento-base está prevista para o dia 11 de outubro. Segundo a organização, a prova abarca elementos como pântanos, travessia de rios, escaladas, descidas, trilhas em mata fechada e corridas em praias fluviais, tudo isso em uma região cuja umidade é sempre elevada e as temperaturas passam facilmente dos 40 graus. Além disso, os participantes, por estarem em uma reserva natural, sempre estarão expostos a encontros com plantas venenosas, além de insetos e animais selvagens que variam de vespas a onças, passando, claro, pelas temidas cobras da Amazônia. Motivos mais do que suficientes para um ultratleta sonhar por muito tempo em cumprir não só a distância, mas superar todos os obstáculos em busca da linha de chegada.

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Segundo Silveira, a disputa de sua primeira Jungle Marathon será a coroação de sua trajetória nas provas mais longas do planeta, iniciada em 2008. “Pode-se dizer que me preparei toda a vida para um desafio como esse. Aliando minha rotina de atleta e treinamento militar, me sinto pronto para poder fechar mais esse percurso, sem dúvida, o mais duro do qual terei participado. Nos últimos quatro anos me planejei para fazer essa prova, mas não consegui participar. Esse ano, pode-se dizer que estou realizando um sonho. Estou muito feliz.”

‘Sofrimento gostoso’

Embora admita que a vontade de superar adversários também estará presente, Silveira diz que o foco é cruzar a linha de chegada, no dia 11 de outubro. “Claro que me preparei especificamente para a Jungle Marathon, fiz treinos em trilhas na Associação dos Sargentos do Exército (ASE) para simular um pouco das condições que encontrarei por lá e estou bem para competir, quero chegar mais à frente que posso. Levei a sério, mas estou indo sem me colocar responsabilidade demais, até porque é a primeira vez. Não estou me pressionando por um resultado ou colocação. Vou para curtir um sofrimento gostoso, e a meta é terminar, passar do pórtico no último dia de corrida”, conta.

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Com diversas variáveis a serem consideradas em uma prova tão longa e com tantos desafios e perigos, Silveira acredita que a força mental, conseguida nos anos de treino e com o apoio de quem acompanha sua carreira, será tão importante quanto a física nos sete dias na Amazônia. “Claro que é preciso estar bem preparado fisicamente para essa corrida. Mas a parte psicológica também é fundamental e, às vezes, manda mais do que o físico. Em uma competição na qual diversas coisas improváveis podem acontecer – haja vista que assinamos um termo de responsabilidade informando que estamos cientes de que poderemos sofrer acidentes e ataques de animais nativos, por exemplo -, o trabalho com a mente tem que ser igual ou melhor do que o do corpo. Nessas horas, a gente não corre sozinho. No meio do mato, a família, os amigos, os parceiros de treino e todos que torcem por nós nos empurram mais longe, mesmo após os músculos terem desistido”, considera.

Estratégia está traçada

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Gerson já traçou a estratégia de prova e prevê qual etapa será a mais dura para cumprir na Jungle Marathon. “O segredo de uma prova em um local tão inóspito e com tantos quilômetros e dias é dosar os esforços. Às vezes é melhor parar, descansar e se recuperara antes de encarar um desafio do que tentar cumpri-lo com o corpo cansado. Nos primeiros dias, vou procurar me poupar para, no fim da corrida, acelerar ao máximo. Entre o quarto e o quinto dias acontece a etapa longa, com um percurso de 108km que tem de ser cumprido de uma só vez. Acredito que essa parte será a mais dura, na qual haverá muitos abandonos. A partir daí é pé embaixo”, projeta.

Como estará embrenhado na Floresta Amazônica e indo de acampamento em acampamento, Silveira, assim como os outros competidores, terá que tomar cuidados especiais antes e durante os 254 quilômetros de competição. “Passamos por avaliação médica antes da largada, temos que levar laudos clínicos que mostrem que estamos aptos a correr e comprovação de que tomamos todas as vacinas necessárias. A principal preocupação durante o percurso é com a hidratação. A organização só fornece água para beber, morna – porque gelada no meio da floresta não há -, e para cozinhar, quente. O resto é conosco. Então temos que carregar comida para seis dias de mata (não podemos consumir frutas nativas no decorrer do percurso) e, a cada posto de hidratação, somos obrigados a levar 2,5 litros de água. Minha mochila deve pesar uns 14kg ou 15kg na largada, contando com a comida, roupas para correr e trajes secos para a chegada, aparatos para cozinhar e de higiene pessoal, além da rede para dormir. Devo terminar carregando a metade disso”, prevê.

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