Faleceu aos 74 anos, Augusto Costa de Oliveira Vale, às 0h30 desta quinta-feira (27), em razão de câncer metastático descoberto em 20 de novembro, quando internado na Santa Casa de Misericórdia. Conhecido como “torcedor solitário”, Augusto era solitário somente no Municipal. Teve vida social agitada sempre, segundo a filha Bianca Ribeiro de Oliveira Vale. Estimado entre familiares e amigos; talvez porque conversava com pessoas de “A a Z”, como ela lembrou. E sempre em distintos lugares. O Municipal era só mais um. Homem de fé católica, frequentava a Igreja Sagrado Coração de Jesus, no Bairu, além da Associação de Moradores do Bairu e do Manoel Honório.
“Foi diagnosticado com câncer há cerca de 37 dias. Não sabemos se ele já sabia de algo ou não, ou, se pelo próprio estilo de vida, optou por manter a doença em segredo e continuar vivendo”, diz Bianca. Junto à mãe, Hebi, esposa de Augusto, permaneceu próxima à Capela 5 do Cemitério Municipal, enquanto o corpo era levado para o enterro ladeira acima. “Para mim, enquanto filha única dele, tenho certeza que fica o legado de ser uma pessoa muito sociável. Ele transitou em vários lugares diferentes e, sempre, muito bem aceito.”
Maria Madalena Calheiro, a irmã mais velha das cinco que Augusto tem, vestia, por baixo de uma blusa preta, as cores alvinegras do Tupi. Foi a jogos com o irmão, contou ela, a quem define como muito humano. “Foi um exemplo muito grande de ser cristão e ser muito envolvido com a comunidade, ajudando a todas as pessoas com muito amor e muito carinho, em tudo o que envolve o trabalho voluntário para a melhoria não só da vida dele, mas da cidade e da população.” Augusto morreu no mesmo dia em que Gabriel, sobrinho, filho de Maria Madalena, faz aniversário. “Uma saudade imensa ficará para sempre no Estádio Municipal.”
Augusto era, para além de torcedor solitário, cidadão – cidadão participativo e lutador -, conforme Márcio Cândido da Silva, amigo. O senhor, caracterizado com faixas e bandeiras, isolado na arquibancada do Municipal, era um personagem, uma figura; parte de Augusto, que vivia Juiz de Fora como se não fosse de Divino, município que deixou sozinho aos 15 anos. “Conversávamos muito sobre sobre política, futebol etc. Estávamos sempre presentes. Sempre via Augusto participando de alguma coisa. Depois, eu o vi criando aquele personagem fantástico do estádio; ele sempre estava lá encantando todo mundo.” Para Carlos André Stroppa, vizinho e amigo, Augusto vivia Juiz de Fora. “Ele acabava incentivando e levando outras pessoas a viver também. É uma figura que vai deixar saudades para muita gente.”
Solidariedade
Além de familiares, amigos e padres, também estiveram presentes no velório Myrian Fortuna, presidente do Tupi, e Jorge Ramos, ex-presidente do Sport, que prestaram solidariedade à família no Cemitério Municipal. Durante a internação, em 29 de novembro, como Augusto precisara de transfusão de sangue, o Tupi encabeçou campanha para doações. Ele vivia o Tupi, explicou Cláudio. “Era uma relação bastante significativa, porque o Augusto corria atrás. Ele ia cobrar a diretoria, ia atrás dos presidentes, dos diretores, fazendo questão de participar.” Em 2015, Augusto contou a própria história para o jornalista da Tribuna Mauro Morais, no quadro “Outras Ideias”.
Augusto morreu a 27 dias do reencontro entre Tupi e Tupynambás no Campeonato Mineiro. Azar de Tupi e Tupynambás, que não serão prestigiados por Augusto. Márcio, torcedor do Baeta, brincou com Augusto dias atrás sobre o clássico juiz-forano. “‘Pô, Augusto, você vai perder o primeiro Tu-Tu depois de 40 anos?’. Ele vai ver lá do céu. Nós estávamos sempre no estádio, porque embora eu seja Tupynambás, o clube estava parado, então eu acompanhava o Tupi e sempre o via.” Como disse a filha, Bianca, a presença do pai nas arquibancadas dava-se pelo respeito. “Tinha aquela faixa com os dizeres: ‘O torcedor solitário não vaia, aplaude’. Ele sempre teve muito respeito por várias profissões.”