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Do Bom Pastor para a liga universitária de futebol dos EUA

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“Quando acabar, terei a oportunidade de ficar lá, seja para fazer o mestrado, seja para tentar [ingressar em] um time profissional”, planeja Julio, que é sulmatrogrossense e veio para Juiz de Fora com a família em 2005 (Foto: Fernando Priamo)
“Nos Estados Unidos, é muito mais fácil eu chegar em um time no profissional e me manter. É muita coisa envolvida. Não é só o talento. A minha prioridade é virar profissional, mas não vou fazer loucuras”, conta Julio Rangel, 22 anos, que, paralelamente aos estudos de Administração no Iowa Lakes Community College, em Spencer, Estados Unidos, disputou, nos últimos dois anos, o NJCAA Soccer (National Junior College Athletic Association), equivalente a um campeonato universitário de futebol, pela equipe da instituição em que estuda. Entre 2017 e 2018, Julio, cuja família é radicada em Juiz de Fora, reforçou o meio-campo do Iowa Lakers ao passo que seus estudos foram integralmente custeados pela universidade. A imigração para os Estados Unidos surgiu em meio às dificuldades encontradas no processo de formação de jogadores no cenário brasileiro.

“O futebol universitário não tem nada a ver com a Seleção Norte-americana. O nível não é ruim. O problema é que não tem norte-americano jogando. Americano é nascido e criado jogando beisebol, futebol americano e basquete”, relata. O vínculo entre Julio e Iowa Lakes encerrou-se após dois anos; entretanto, o jogador continuará nos Estados Unidos, embora em outro estado. Após receber o convite de cinco universidades, o jogador escolheu o Mississippi College, na cidade de Clinton, para concluir a graduação em Administração. Defenderá, então, a partir de janeiro, nos próximos dois anos, a equipe masculina da instituição no mesmo NJCAA Soccer. “Quando acabar, terei a oportunidade de ficar lá, seja para fazer o mestrado, seja para tentar [ingressar em] um time profissional”, planeja Julio. Filho do coronel do Exército Marcus Rangel, o jovem é natural de Amambai, Sudoeste do Mato Grosso do Sul. “Tenho um filho mineiro, um filho carioca e um filho sulmatogrossense. Júlio nasceu em uma cidade perto da fronteira com o Paraguai. Quando viemos para cá, em 2005, ele tinha entre oito e nove anos”, conta o pai.

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Cria do clube

Julio disputou as primeiras partidas de futebol de campo no Colégio Academia de Comércio. Passou também por Tupi e Sport – disputou apenas um campeonato pelo último – antes de encontrar o professor Sérgio Moraes, no Clube Bom Pastor. “Reencontrei a vontade de jogar aqui no Bom Pastor; a motivação de jogar um Campeonato Mineiro, de vir treinar para disputar campeonatos. Depois que saí do Sport não tinha o que fazer. Jogava campo e vim jogar futsal no Bom Pastor”, explica Julio. Em parceria com o Clube Bom Pastor, Moraes dá aulas tanto de futebol quanto de futsal; quando mais novo, aventurou-se como profissional, inclusive. Foi revelado pelo Vasco da Gama. “Tempos atrás eu tinha mais oportunidades de levar jogadores para clubes. Depois que a Lei Pelé (Lei 9.615/1998) foi sancionada, restringiu o nosso espaço para colocar os garotos dentro do clube”, diz Moraes.

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Sergio Moraes e Julio Rangel trabalharam juntos no futsal do Clube Bom Pastor; embora não tenha conseguido oportunidades para Julio no futebol brasileiro, ajudou na ida aos Estados Unidos  (Foto: Fernando Priamo)

“Quanto mais novo o garoto entra no clube, mais chances ele tem de vingar, porque ele passa a ser um garoto prata da casa, trabalhado dentro do clube. Com a Lei Pelé, você não pode colocar meninos menores de 14 anos morando em concentração. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não permite”, explica Moraes. Em razão de sua formação no Vasco, Moraes tinha relação estreita com o clube de São Januário; os juiz-foranos Raphael Botti, 37, e Bernardo Frizoni, 28, foram por ele levados para as categorias de base do Cruzmaltino. Vascaíno, Julio não seguiu o mesmo caminho. “Eu não tive a oportunidade de colocá-lo em um clube e, em Juiz de Fora, o Júlio estaria perdido”, afirma o treinador. Ao fim da graduação, o jogador tentará a sorte nas ligas profissionais norte-americanas. “Os treinadores colegiais conhecem as comissões técnicas de times profissionais e podem nos mandar para os clubes para passar dois, três meses treinando, em busca de permanecer. Não tem validade nenhuma eu voltar ao Brasil e falar que joguei futebol universitário nos Estados Unidos. Eles não se interessam.”

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