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Corredores voluntários dedicam tempo para guiar pessoas com deficiência

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Guias voluntários do projeto JF Paralímpico comemoram resultados positivos conquistados em 2017 e revelem a emoção de participar da inclusão de pessoas com deficiência no esporte
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O esporte vai muito além dos chavões “que vença o melhor” e “o importante é competir”. É também exemplo de cidadania, desprendimento, valorização do ser humano, de fazer o semelhante sorrir. É o que fazem, há mais de uma década, os voluntários do projeto JF Paralímpico, da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), que dedicam parte de seu tempo como guias de atletas PCDs (pessoas com deficiência) nas provas de corrida de rua. O resultado do grupo este ano, que ficou em 1º lugar no ranking local de Corridas de Rua para PCDs, é apenas um incentivo a mais para continuarem, a despeito de todas as dificuldades.

“O ano de 2017 foi melhor do que imaginávamos, se conseguimos vencer quer dizer que um dos objetivos foi alcançado”, comemora o aposentado Gedair Reis, que há seis anos se voluntariou para o projeto e não saiu mais. “Mas o mais importante é colocar os meninos em atividade, não importa a colocação final.”

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Ainda que vencer seja apenas um detalhe, o desempenho dos atletas da equipe foi invejável, conseguindo fechar o ano em primeiro lugar no ranking, que conta com 11 provas. Outro motivo de comemoração, como aponta uma das responsáveis pelo projeto, Célia Claveland, foi o crescimento no número de participantes: o JF Paralímpico conta com 23 atletas, sendo que quatro não necessitam de guias, e 15 voluntários para auxiliarem os atletas nas competições. “Muitas pessoas que conheceram o projeto se engajaram na iniciativa, mesmo sem nenhum retorno financeiro”, destaca. “E os atletas se dedicaram muito, mas o resultado mais importante é o de caráter social, com a inclusão que eles conseguem. O próprio modo de vida acaba mudando. “O apoio familiar também é muito importante”, ressalta Gedair, “Os pais levam para os treinos e competições, acompanham as corridas, e isso tem um valor muito grande para eles.”

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Emoção e superação de limites

Entre os guias há desde aposentos a professores de educação física, policiais militares, bombeiros e autônomos, que conciliam suas atividades com os treinamentos. Por isso, a busca por novos guias é ininterrupta, até porque alguns deles são voluntários há mais de uma década e a idade já começou a pesar para acompanhar os atletas PCDs mais jovens. Dentre eles está o autônomo Lindberg Gonçalves, que atualmente é o guia de Bruno Guedes no duathlon, que reúne corrida e bicicleta. “Ele me disse certa vez: ‘você não imagina a sensação do vento batendo no meu rosto. Você uniu as duas coisas que eu mais queria, que eram correr e pedalar’. Nosso maior ganho é ver o prazer que eles têm praticando um esporte”, diz.

Quem também tem momentos emocionantes para contar é Silvana Costa, 59, guia de Maria Consolação Jardim. “Ela estava em sua primeira meia-maratona, e o pessoal achou que não faria todo o percurso, indicaram um caminho que era a saída. Mas falamos que ela iria até o fim, e todos aplaudiram quando ela cruzou a linha de chegada.”

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Toda essa dedicação implica, ainda, entender os limites de cada atleta, como lembra o sargento da PM Jorge Luiz Geraldo, 51. “Estamos aqui para o que o atleta quiser, seja correr mais rápido ou devagar. Mas precisamos de guias mais novos para encarar os ritmos dos mais jovens”, ressalta.

Dispostos a guiar
O que todos têm em comum é uma vontade voluntária de ajudar. “Sempre tive vontade de ser guia, assistia às provas na TV e queria ajudar. Indicaram, então, o nome da professora Célia, e já no primeira dia em que conversamos comecei a treinar como guia”, conta o bombeiro militar Marcos Arruda, 46. “Fui guia do Bruno Guedes, que ficou em primeiro lugar no ranking de corridas de rua na categoria B2 (pessoas com deficiência visual que conseguem enxergar até cinco metros de distância). Sempre fiz atividades físicas, participava das corridas de rua, e é muito gratificante a vontade e ânimo que passam pra gente.”

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“Assistia às provas dos Jogos Paralímpicos e resolvi procurar para ajudar”, diz Maria Izabel Nascimento Antônio, que já era corredora de provas de rua. “A emoção é indescritível, eles te tornam uma pessoa melhor, te ensinam muita coisa.”

“O projeto não existiria sem os guias”, agradece Célia. “É um projeto gratuito que muitos não conhecem e que poderiam ajudar. E que muitas pessoas com deficiência poderiam participar em vez de ficar em casa”, diz Célia Cleveland, acrescentando que o JF Paralímpico também oferece modalidades como natação, futebol paralímpico, bocha, polybat (tênis de mesa adaptado) e gollball, criado especialmente para deficientes visuais.

 

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Em busca de apoio para extrapolar os limites da cidade

Se os resultados positivos são motivo de comemoração, ainda há muito a ser superado. Um dos problemas é a falta de recursos para que os atletas posam competir além de Juiz de Fora, o que tem diminuído as viagens . No máximo, alguns atletas participaram de corridas em Ubá, Rio Novo e Senador Cortes. “Isso nos impede, por exemplo, de participar do Jimi (Jogos do Interior de Minas). Mas estamos mobilizados para conseguirmos patrocínio e apoio para a temporada 2018. Vamos também tentar arregimentar novos voluntários, panfletar, pedir aos professores de educação física para falarem a respeito do projeto”, diz Célia, que no próximo ano terá outro professor para auxiliá-la.

Outro desafio são os treinos. Eles são realizados três vezes por semana pela manhã no Sport e uma à tarde na UFJF, mas nem sempre os guias podem participar das atividades devido a compromissos profissionais, entre outras questões. Isso prejudica a preparação do atleta e do próprio guia, pois os dois têm menos oportunidades de entrosamento.

“Isso faz com que tenhamos que revezar os guias entre eles, e aí alguns ficam sem ter como treinar, e também há as atividades específicas, como a musculação. É difícil, pois eles disponibilizam esse tempo sem retorno financeiro”, lembra Célia Claveland, ressaltando que, nas provas, um guia mais rápido pode competir com um atleta mais lento, sendo que o contrário atrapalha o desempenho do competidor – daí a necessidade de mais voluntários. “É até bom que um guia treine com todos os atletas para o caso de uma eventualidade, mas o ideal é que exista um entrosamento”, ressalta.

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Por isso, todo e qualquer interessado em dedicar parte de seu tempo e ajudar o projeto é mais que bem-vindo. As informações podem ser obtidos com a coordenadora do JF Paralímpico, Karla Belgo, por meio do telefone 3690-7853, ou diretamente na Secretaria de Esporte e Lazer (Avenida Rui Barbosa 530 – Santa Terezinha).

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