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‘Inenarrável’: há 40 anos, Sport quebrava hegemonia do Minas e conquistava o Mineiro de vôlei

Titulo mineiro Sport 40 anos Credito Douglas Fedoceo Arquivo Tribuna 1
Time feminino de vôlei do Sport incluía atletas das seleções mineira e nacional (Foto: Douglas Fedoceo/Arquivo Tribuna)
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Se o JF Vôlei deu orgulho para Juiz de Fora este ano com o quarto lugar do Campeonato Mineiro, imagine um time que conseguiu ser campeão do maior e mais disputado campeonato do estado. Há 40 anos, no dia 26 de outubro de 1983, acontecia um dos momentos mais marcantes da história do esporte juiz-forano. Com o Ginásio Francisco Queiroz Caputo, o do Sport Club, lotado, as meninas do voleibol do Verdão da Avenida venceram o Minas por 3 sets a 2 na final do Mineiro, conquistando um título inédito para a cidade. O feito se tornou ainda mais honroso ao quebrar a hegemonia de duas décadas de títulos consecutivos do adversário Minas.

Comandadas pelo treinador Inaldo Manta – hoje, falecido – a equipe composta por Dôra, Ana Cláudia, Michele, Valéria, Gisele, Rose, Wania, Edna, Neide, Cristina Trópia, Carla Caniato, Nélia e Elisa se tornaria bicampeã mineira no ano seguinte, em 1984. Para relembrar esses anos áureos do voleibol juiz-forano, a Tribuna conversou com algumas das atletas envolvidas, além do auxiliar técnico da equipe à época, André Muzzi.

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Equipe campeã de 1983

União como marca registrada

A central Rose Tristão era, na época, uma das jogadoras mais experientes da equipe. Ela já tinha passado até pela Seleção Brasileira, por exemplo, quando decidiu retornar a Juiz de Fora para participar da disputa do Campeonato Mineiro de 1983. “O Guilherme Sarmento (diretor) começou a desenvolver um trabalho no clube, e em 1983 formou uma equipe técnica, quando começou um trabalho especial. Chegaram algumas jogadoras da cidade e outras de Belo Horizonte, Recife e interior de Minas. Começamos a ter um time semiprofissional, muito forte”, conta, sobre o início do projeto.

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Outra atleta muito importante para a conquista foi a oposta Carla Caniato, a “Carlota”. Hoje com 65 anos, a ex-jogadora considera que o momento foi o ideal para a formação do time. “As meninas que vieram eram reservas de outros clubes, elas queriam mostrar serviço, e nós de Juiz de Fora também, assim como o treinador. Todo mundo estava no mesmo pensamento em querer jogar. Foi o tempo certo para todo mundo”, considera Carlota.

Já Giseli Gáveo tinha 16 anos à época, e era uma das caçulas da equipe. Vinda do Clube Bom Pastor, a central – que depois foi ponteira – se revezava entre o time infantil e o adulto. “Cheguei no Sport no ano da conquista. Foram duas temporadas muito significativas. Além dos títulos, eu era muito nova, e poder conviver com atletas de um nível técnico e experiência enorme foi um grande aprendizado”, reconhece.

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Com o time formado, a equipe realizava oito horas diárias de treinos, entre manhã e tarde. Na época, o Sport conseguiu patrocínio da Coca-Cola, o que fez, segundo Rose, com que o time tivesse intenso apoio na parte técnica, médica e física. “Antes a gente não tinha recurso, nem as facilidades mais modernas do voleibol”, conta.

A conquista da grande final do Sport

Por conta dos vinte anos seguidos como campeão, o time do Minas era considerado imbatível, conforme lembra Rose. Mas o apoio dos quase cinco mil torcedores na final, que aconteceu no Ginásio do Sport fez a diferença para o resultado surpreendente. “O time adversário tinha jogadores de Seleção Brasileira, como a Lena Aleixo e a Paula Figueiredo. O Mário Helênio estava transmitindo a partida, e lembro que ouvimos as jogadoras do Minas falando que íamos amarelar. Mas eram muitas pessoas nos apoiando, os torcedores estavam afiados, tiveram até que fazer um cordão de isolamento para a gente (jogadoras) entrar”, recorda.

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O auxiliar técnico André Muzzi relembra que sua equipe aproveitou o “salto alto” do time da capital. “O Minas não esperava que a gente fosse tão preparado para ganhar. Achava que seria igual a todos os anos. O time era muito superior e veio para cá contando com o título.” Rose se lembra que, após o duelo, as atletas da agremiação belo-horizontina deixaram imediatamente a quadra. “Nem a medalha foram receber. Para nós foi um título muito especial. Lembro que a Wânia (levantadora) até dormiu com o troféu.”

Já para Gisele, a grande final foi um dos jogos da sua carreira que mais ficou marcado em sua memória. “Foi inenarrável a força que o público dava para o time. Os jogos ficavam todos lotados, mas a final foi ainda mais maravilhosa. Festejávamos a cada ponto, não conseguíamos nem falar uma com outra na quadra de tanta cantoria, barulho e vibração. Jogamos com essa energia toda e foi um resultado grandioso.” O pré-jogo, segundo ela, também alimentou o sentimento em vencer o torneio. “Lembro muito como a gente se preparava para as partidas. Nos reuníamos antes, todas juntas na residência do Guilherme (diretor). Lá, a gente conversava sobre os jogos, via os esquemas dos times e isso nos energizava muito. Ele nos passava frases motivacionais e muitas músicas.”

Na visão de Carlota, a união do grupo foi crucial para que o título viesse. “Treinamos muito, todas unidas com o mesmo objetivo. Como dizem, não há vitória sem batalha. Tenho muito orgulho de ter participado daquele grupo de alto nível com uma estrutura bacana”, comemora. Gisele completa ao lembrar que o time sempre saía para festejar as vitórias. “Foi uma experiência de grupo fantástica e única. Hoje, depois de muitos anos, posso falar que toda essa atmosfera foi de importância ímpar na minha vida. Dei continuidade no voleibol, que me presenteou e trouxe minhas maiores joias, as pessoas que amo.”

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Momento atual

Para muitas jogadoras, o Sport foi o espaço de início e até de consolidação da carreira profissional, oportunidade que não enxergam para a modalidade na cidade no momento atual. No entendimento de Carlota, o projeto do Sport poderia ter tido continuidade e rendido mais frutos, não fosse o “amadorismo da cidade”. Ela acredita que Juiz de Fora parou no tempo. “Aqui tem muita gente vaidosa. Cada um faz seu trabalho à parte e não tem um que se sobressaia mais. Se juntasse todo mundo, fizesse um time da cidade, iria crescer. O voleibol hoje em dia está caro, manter equipes complicado, os patrocinadores não têm interesse”, analisa.

Do mesmo modo, Rose opina que os atletas, hoje, vão embora cedo de Juiz de Fora. “Antes, tínhamos visibilidade, apoio, não precisava sair. Fiz minha carreira aqui dentro, consegui meu espaço. A vida do atleta hoje em dia é muito difícil, joga machucado muitas vezes. E aqui Juiz de Fora não há condições. Os trabalhos sempre começam e depois param, cada um segue sua carreira. Faltam patrocinadores e empresários por conta disso.”

*Davi Sampaio, estagiário sob a supervisão da editora Carolina Leonel

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