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Jogadora de município da Zona da Mata é selecionada pelo Fluminense

inghred1 by arquivo pessoal
Atleta passou por dois testes no tricolor carioca antes de ser chamada para as categorias de base (Foto: Arquivo pessoal)
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“Eu via meu irmão jogando futebol na rua e pedi para ele me ensinar. Depois, fui começar a jogar com os meninos, acompanhar e amar o esporte”. Foi como Inghred Vitória, de 18 anos, contou o início da sua trajetória no futebol. A paixão foi tamanha que, em setembro deste ano, ela foi contratada como jogadora das categorias de base de um dos principais clubes brasileiros: o Fluminense.

Didi, como gosta de ser chamada, é de Coimbra, município da Zona da Mata a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora. A cidade não tinha time feminino, mas o treinador Antônio das Graças Cândido, coordenador da Escolinha do Ponte, a qual ensina crianças e jovens a jogarem futebol, a convidou para treinar entre os meninos depois de vê-la jogando na rua. “Ele fez surgir essa vontade de ser profissional, me mostrou que era possível”, lembra a jogadora. 

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Inghred e o treinador Antônio, que apostou no talento da menina (Foto: Arquivo pessoal)

Antônio morava na mesma rua que Inghred e o irmão, Victor Hugo, de 20 anos, e foi o primeiro a perceber que ela tinha habilidade e vontade de jogar. O treinador conta que ela sempre se destacava nos jogos, chegando a vestir a camisa 10 e ser artilheira. Durante a pandemia, os campos ficaram fechados e a atleta ia até a casa de Antônio para fazer os treinamentos na garagem. “Ela sempre levou muito a sério o futebol, por isso falo para ela olhar sempre mais alto. Ainda falei: ‘quero ver você no Fluminense’, mas já pensando na Seleção Brasileira, porque nunca podemos pensar pequeno”. 

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Foram muitas as dificuldades para chegar até a seletiva de novas jogadores do clube, principalmente por vir de uma cidade com cerca de sete mil habitantes e sem um time feminino. Em relação aos treinos, ela precisou treinar muitas vezes sozinha, com meninos mais novos e sem preparador físico, para manter o condicionamento. Sem um patrocinador, precisou trabalhar para pagar os gastos, a fim de participar dos jogos e avaliações, além de utilizar o transporte oferecido pela prefeitura da cidade.

A jogadora ganhou destaque nos Jogos Escolares de Minas Gerais (Jemg) como zagueira. Suas atuações na competição a levaram até o Nacional Atlético Clube, de Visconde do Rio Branco, e a disputar o Campeonato Mineiro feminino. Inghred ganhou visibilidade nas competições da região, o que permitiu que fizesse testes no Fluminense no fim de 2022. Após duas avaliações, ela foi selecionada.

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Inspiração para novas jogadoras 

A partir de 2019, a Conmebol tornou obrigatório que os clubes que desejam disputar suas competições no masculino tenham times femininos. O caminho foi seguido pela CBF, que, após a Copa do Mundo, criou as primeiras competições de base no futebol feminino, tendo o Campeonato Brasileiro e a Libertadores. Agora, as categorias de base estão em um nível mais avançado, com um crescimento de times e categorias. Vários clubes da Série A do Brasileirão mantêm equipes femininas de base, do sub-14 ao sub-20. 

Em 2018, quando Marta ganhou pela sexta vez o prêmio de melhor jogadora do mundo, a equipe feminina de base do Fluminense teve início, através de uma parceria com o Daminhas da Bola, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Hoje, o tricolor acumula três títulos nas categorias de base, sendo que neste ano sagrou-se vice-campeão da Série A2 do Campeonato Brasileiro feminino. 

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Para Inghred, o futebol feminino passa por crescimento e, nas cidades do interior, inclusive em Coimbra, tem muitas meninas com talento para se tornarem jogadoras, mas ainda faltam pessoas que acreditem no potencial dessas jogadoras.“Eu tenho 18 anos, pouca experiência profissional, vim de uma cidade pequena e passei em uma seletiva para o Fluminense. Estou mostrando para as meninas que é possível. Para acreditarem em seus sonhos e se dedicarem”. 

O treinador Antônio também destacou como ela tem influenciado outras meninas no município. “Em 2005, quando eu criei a Escolinha do Ponte, poucas meninas se interessaram, mas agora todas querem treinar e caminhar nos mesmos passos que a Didi”. Isso o motivou a criar um time feminino, chamado de Guerreiras Coimbra, contudo, o projeto não continuou. Para ele, a Escolinha não surgiu apenas para formar atletas, mas cidadãos. Seu trabalho ajuda as crianças a crescerem, saírem das ruas e terem disciplina para seguirem seus sonhos.

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