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“Meu lugar de cura”: esporte é alicerce no enfrentamento ao câncer de mama

cãncer de mama

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Em meio ao sobe e desce das ladeiras de Juiz de Fora, uma mulher de sorriso largo e passadas firmes tem na corrida o símbolo da própria resistência. Alzenir Ribeiro, mais conhecida como Zi, de 55 anos, moradora do Bairro São Pedro, na Cidade Alta, tem uma história que mistura disciplina, fé e movimento. Administradora por formação, ela divide com o marido uma empresa de consultoria e treinamento em liderança empresarial. Mas é quando calça o tênis e sente o vento no rosto que ela realmente se reconhece.

Zi começou a correr por acaso, ao descobrir um grupo de corrida enquanto treinava musculação. Desde então, são mais de dez anos de prática, mesmo com um grande desafio descoberto em 2018: o diagnóstico do câncer de mama. “Foi um choque. Eu, com vida saudável, nunca imaginei passar por isso”, conta. Mesmo diante do tratamento com quimioterapia, radioterapia e cirurgia, ela não desistiu da atividade física. “Teve dia em que eu fazia quimio e, no mesmo dia, colocava o tênis para caminhar. O esporte me manteve na vertical.”

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A disciplina e o condicionamento físico foram determinantes para a recuperação. Hoje, a corredora está há quase cinco anos em remissão completa, segue com o tratamento de manutenção e continua treinando com a mesma determinação de sempre. “O esporte é o meu lugar de cura. Quando calço o tênis, me sinto invencível. O corpo obedece, a mente se acalma e o coração dispara de gratidão.”

Zi Ribeiro treina três vezes na semana e participa de meia-maratona (Foto: Leonardo Costa)

Entre os momentos mais marcantes da jornada como corredora, ela cita a meia maratona do Rio de Janeiro, prova que concluiu mesmo tendo feito quimioterapia poucos dias antes. “Cruzar a linha de chegada foi uma sensação indescritível. Ninguém me segura mais”. Pouco tempo depois, realizou outro sonho: correr em Fernando de Noronha, presente de aniversário que virou símbolo de superação. “Correr naquela ilha foi mágico. Cada quilômetro era uma vitória.” Agora, ela se prepara para um novo desafio: completar a maratona de Florianópolis, dos aguardados 42 quilômetros.

Mais do que uma prática física, a corrida se tornou filosofia de vida. “Nos dias em que não treino, sinto falta. É como se faltasse o café da manhã”, brinca. Zi garante que o esporte é a base de sua saúde. “Mesmo sendo uma pessoa em tratamento contra o câncer, minhas taxas são perfeitas. Não tomo nenhum outro remédio. Tenho certeza de que isso vem do estilo de vida ativo e saudável.”

Atualmente, ela treina com o acompanhamento de um personal, que elabora três planilhas semanais. Prefere correr sozinha, no próprio ritmo, sem cobranças, sentindo o corpo responder. Para ela, o ato de correr vai muito além do exercício. É um espaço de introspecção, cura e autoconhecimento. “Quando estou na rua, sinto o coração batendo, o pulmão funcionando, o corpo inteiro presente. É ali que percebo que estou viva de verdade.”

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Dessa maneira, ela faz questão de deixar uma mensagem para outras mulheres que enfrentam o câncer. “O esporte não impede que a doença apareça, mas muda completamente a forma como você enfrenta. Se o câncer vier, ele vai habitar um corpo e uma mente fortes. E, para quem ainda não começou, não espere a doença chegar. Caminhe, trote, corra. É um passo de cada vez.”

“Meu lugar de cura”, define Zi, sobre a corrida (Foto: Leonardo Costa)

Prevenção do câncer de mama começa no movimento

A mastologista Camilla Laporte, 43 anos, sócia da Clínica da Mulher e coordenadora da Saúde da Mulher na Ascomcer, reforça que a atividade física é uma das principais estratégias de prevenção ao câncer de mama. “Realizar ao menos 150 minutos de exercício moderado por semana diminui em mais de 25% as chances de desenvolver a doença”, explica. Segundo ela, manter alimentação equilibrada, evitar o sobrepeso, não fumar e reduzir o consumo de álcool são atitudes simples, mas capazes de mudar completamente a história de uma mulher.

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O diagnóstico precoce também é decisivo. “A mamografia é capaz de detectar um tumor até dois anos antes de ele se tornar palpável. Fazer o exame anualmente salva vidas”, reforça Camilla. Após o diagnóstico, é essencial buscar informação de qualidade e contar com uma equipe multiprofissional. “A mulher precisa se tornar protagonista da própria história, participar das decisões e caminhar ao lado de profissionais de confiança.”

Durante o tratamento, a médica explica que o corpo pode e deve continuar em movimento, respeitando os limites de cada fase. “A atividade física reduz os efeitos colaterais, melhora a resposta às medicações e ainda diminui as chances de retorno da doença. É uma grande aliada.” Além dos benefícios físicos, o esporte tem um papel fundamental no bem-estar emocional. “Ele tira a doença do centro da atenção. É um momento de prazer, de retomada da autoestima e da confiança no corpo. A mulher volta a se enxergar como protagonista da própria vida.”

Para quem nunca praticou, Camilla recomenda começar devagar e com prazer. “Mesmo que a vontade não apareça de imediato, insista. O corpo se adapta, os benefícios aparecem e a motivação cresce. O mais importante é se manter em movimento.” Ela reforça que não há um esporte mais indicado do que outro. “Pode ser caminhada, corrida, natação, dança, musculação. O importante é que o corpo precisa se mover. Esse é o primeiro passo para uma vida mais saudável e equilibrada.”

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Mesmo sendo uma doença grave e com estigmas, a profissional diz que é possível enfrentar o câncer de mama com coragem, apoio e informação. “Cerque-se de profissionais atualizados e não deixe que o câncer seja maior do que você mesma.”

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