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Boas filhas à casa tornam

da esquerda para a direita danielle ingrid jussara giovana e michelle das cinco 3 migraram para o voleibol norte americanofernando priamo20 06 16

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Da esquerda para a direita: Danielle, Ingrid, Jussara, Giovana e Michelle; das cinco, 3 migraram para o voleibol norte-americanoFERNANDO PRIAMO/20-06-16
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Da esquerda para a direita: Danielle, Ingrid, Jussara, Giovana e Michelle; das cinco, 3 migraram para o voleibol norte-americanoFERNANDO PRIAMO/20-06-16

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Michelle, Danielle e Jussara. As duas primeiras, irmãs da família Marques, receberam o convite e optaram – uma em 2010, a outra em 2012 – por trocar Juiz de Fora por Brownsville, cidade norte-americana localizada no Texas. Em 2015, foi a vez da jovem central de Santos Dumont, na época com 19 anos, aposentar-se do uniforme verde-branco para também migrar para os Estados Unidos.

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De férias no Brasil, as três ex-atletas de base do Sport se reencontraram na última semana no ginásio onde deram os primeiros passos profissionais. Com poucas chances no mercado nacional, e com a possibilidade de seguir carreira, inclusive acadêmica, o trio exemplifica o recente cenário de exportação vivido pelo vôlei feminino local. De acordo com André Muzzi, treinador da equipe de base do Sport, em apenas seis anos, cerca de 15 atletas teriam deixado o clube para galgar voos maiores fora da cidade.

Mesmo com passagens por Finasa e Banespa, e com a disputa da temporada 2008/2009 da Superliga Feminina no currículo, a oposta Michelle Marques, 27 anos, garante ter vivido nos Estados Unidos o melhor do voleibol. Em seis anos, disputou quatro ligas universitárias, conquistou o bicampeonato nacional e foi, por duas vezes, detentora do “All América”, premiação dada às melhores jogadoras da competição. Atualmente, é assistente técnica da equipe universitária de Salina, no Kansas, e está prestes a concluir o mestrado em administração de empresas.

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Também com passagens por clubes paulistas – São José dos Campos e Barueri – em 2012, a ponteira Danielle, hoje com 24 anos, optou por seguir caminho semelhante ao da irmã Michelle. “Assim como ela, recebi o convite de uma assistente técnica brasileira. Encaminhei um vídeo, que foi analisado pela equipe de lá e, a partir daí, me ofereceram uma bolsa de estudos. Fui assim que terminei o ensino médio”, explica. Hoje aluna do curso de comunicações, a jogadora do time de Brownsville pretende repetir a irmã, seguindo os estudos também pelo mestrado.

Mais jovem do trio, Jussara, hoje com 20 anos, é contemporânea da equipe que precisou vender docinhos para bancar as competições, situação acompanhada pela Tribuna em meados de 2014. Vislumbrando melhores condições financeiras, no ano passado aceitou o convite de uma ex-atleta juiz-forana que já estava em Ocala, na Flórida. “O college precisava de uma central e decidi aceitar a proposta”. Logo na primeira temporada internacional, foi campeã da Conferência Nacional, além de ajudar a equipe a terminar na terceira colocação do Campeonato Estadual e entre as dez melhores do torneio nacional.

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Felizes no exterior, as três são unânimes ao serem questionadas se pensam em voltar a jogar no Brasil. “Não vejo essa chance”, sintetiza Michelle. “Tivemos uma base muito boa, mas depois acabou”, explica Danielle. “Por mais que a dificuldade no inglês tenha pesado no início e a saudade da família também aperte, infelizmente não planejo voltar”, diz Jussara.

Oportunidades não vêm para todas

Enquanto o trio que vive nos Estados Unidos consegue conciliar estudo com esporte, as jovens Giovana Pinheiro e Ingrid Tagliati, ambas com 22 anos e também ex-atletas de base do clube, não tiveram a mesma sorte. Com a difícil decisão de investir na profissionalização ou trilhar caminhos universitários, hoje o vôlei já não é um objetivo de vida para as duas. Atualmente, a ex-oposta Giovana cursa Direito e Ingrid, que ainda atua como levantadora em competições amadoras, faz Psicologia.

“Chega uma fase aqui no Brasil em que você ou joga ou estuda. Cheguei a disputar uma temporada pelo juvenil do Sesi-SP em 2012. Em seguida, fui para a cidade de Leme (SP). Mas uma tendinite no pé e a ruptura de dois ligamentos no tornozelo me fizeram voltar para Juiz de Fora e abandonar o vôlei”, detalha Giovana.

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“Fui para Americana (SP), em 2012, mas parei no fim da temporada. Ou eu continuava a jogar ou estudava. Naquela época, eu treinava em dois períodos, fazia trabalho físico e ainda disputava três jogos por semana. Dificilmente há um clube que banque as duas coisas para você. A cobrança do esporte inviabiliza o estudo”, lamenta Ingrid.

Torcedoras declaradas do JF Vôlei, e pesarosas pela atual situação financeira da equipe, elas se dizem entristecidas por terem abandonado as quadras, mas garantem terem feito a melhor escolha. “A vida de atleta é muito instável. O esporte acrescenta valores, mas o lado financeiro deixa a desejar”, avalia Giovana. “Ou você é um super talento ou necessita de indicações”.

Parceria universitária é o principal caminho

Técnico do lendário time feminino do Sport na década de 80, que contou com seis atletas de Seleção no plantel, dentre elas a medalhista olímpica Márcia Fu, André Muzzi lamenta a atual situação da modalidade no país. Na avaliação dele, a falta em investimentos de base, suprida pela importação de talentos de outros países, acaba fechando as portas para as jovens ainda em busca de espaço profissional. “Pegue um time como o Praia Clube, por exemplo, atual vice-campeão da Superliga Feminina. Para chegarem à final, contrataram uma cubana e uma norte-americana”, analisa. “As meninas passam pela base, avançam pelo juvenil, estouram a idade , mas não conseguem ser absorvidas pelos clubes”, lamenta.

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Perguntado sobre o sonho de um dia rever Juiz de Fora figurando novamente na elite do voleibol feminino, o treinador aponta um único caminho. “Uma possível solução seria a formação de parcerias com faculdades, que passariam a absorver essas atletas. Além de uma formação educacional, elas contariam com uma boa estrutura de treinamento”. Seguindo neste modelo hipotético, a projeção visualizada por ele não só impediria a evasão de atletas, como recolocaria a cidade num alto patamar esportivo. “Caso essa parceria acontecesse, em três ou quatro anos poderíamos ter um time feminino bem competitivo”, aposta.

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