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Da Kombi off road ao título do Rally dos Sertões

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MATHEUS MAZZEI com o piloto Rodrigo Varela, dupla campeã do Rally dos Sertões na categoria UTV (Foto: Victor Eleuterio Costa/Divulgação)
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Ainda na década de 1990, Matheus Mazzei se apaixonou pelo rali e acreditou que poderia fazer parte do cenário profissional do off road. Mais de 20 anos depois, o juiz-forano estava na parte mais alta do pódio do Rally dos Sertões na categoria UTV. “É um filme que passa na cabeça”, diz Mazzei ao lembrar dos dias em que o mais próximo que ele chegava do automobilismo era como passageiro do pai, que dirigia uma Kombi por trilhas da região. Agora no topo do off road nacional, o navegador projeta a disputa de uma competição na Argentina e sonha com a oportunidade de correr o Rally Dakar.
Vice-campeão no ano passado, Matheus chegou à disputa do Rally dos Sertões deste ano ainda mais focado e de “casa nova”. O juiz-forano, que na edição passada fez dupla com o piloto André Hort, migrou para a equipe Varela Can-Am Monster Energy e teve como parceiro Rodrigo Varela. Os meses que antecederam os 15 dias de provas, por sua vez, foram de preparação especial. “Eu vim me preparando durante o ano todo. Quando apareceu o convite, em fevereiro, eu passei a me preparar fisicamente, porque não é fácil. Mudei um pouco minha alimentação e procurei ajuda médica para fazer uma preparação bem consciente”, conta.
A preparação não foi por menos. Comemorando o marco da 30ª edição do Rally dos Sertões e também motivada pelo bicentenário da Independência do Brasil, a organização da competição estabeleceu um trajeto de 7.216 quilômetros. A largada aconteceu em Foz do Iguaçu, no Paraná, enquanto a chegada foi em Salinópolis, no Pará. A distância seria suficiente para cruzar a Europa por uma vez e meia. Ainda assim, a disputa foi ferrenha e apenas cinco minutos separaram os campeões da dupla Rodrigo Luppi e Maykel Justo, que terminou na segunda colocação.
Em vez de apostar na manutenção de um ritmo forte em todas as 14 etapas, o navegador Matheus Mazzei traçou uma estratégia para preservar o veículo em boas condições e vencer por meio da regularidade. “Não é um rali de dois, três dias, que precisa dar um sprint. O que tivemos que fazer foi uma prova limpa”, explica. O plano deu certo, a dupla não teve qualquer penalização durante toda a disputa e terminou o rally com 52h37min13s no somatório dos tempos.
“A gente tem que ressaltar a nossa equipe de mecânicos, que não aparece ali na frente, mas foi fundamental, com um trabalho impecável que deixou o nosso carro perfeito todos os dias. Foi um conjunto perfeito para chegar onde chegou”, avalia o navegador. “Eu corri contra ídolos da minha infância, pessoas que eu via na revista quando era pequeno. Ainda integrei uma equipe que foi três vezes campeã mundial, inúmeras vezes campeã brasileira, campeã do Dakar. Conseguir uma vitória é algo sem explicação”, celebra.

(Foto: Marcelo Machado Assis/Divulgação)

Mazzei: da infância humilde aos títulos

A relação de Matheus Mazzei com o off road remonta ao final do século passado. Ainda criança, o juiz-forano se apaixonou pelo esporte e contagiou o pai, Ricardo Mazzei, mas o fator financeiro era um importante entrave. A Kombi da família, usada para vender guloseimas nas mais variadas localidades, era o veículo off road improvisado. “Aos finais de semana, quando tinha o Ibitipoca Off Road (IOR) ou algum outro evento passando por uma trilha, meu pai ia pela estrada de chão para me levar para assistir. Sempre que tinha uma poça d’água, ele passava acelerando e eu achava que a kombi era um carro off road”, lembra.
A trajetória nas competições da modalidade, inclusive, começou como uma incursão entre pai e filho. Matheus e Ricardo iniciaram como uma dupla pelas competições regionais, como o Ibitipoca Off Road. Com o afeto familiar como propulsor, eles foram campeões mineiros e cariocas no esporte. “Foi quando meu pai falou: ‘cara, não aguento mais te acompanhar. Você está ficando muito profissional. Vou deixar você correr com outros pilotos'”. Entre os títulos colecionados por Mazzei, estão cinco do Campeonato Mineiro e quatro do IOR.
Após alcançar a vitória mais significativa na carreira, o navegador juiz-forano espera que a história dele seja motivo de inspiração para outros esportistas da história. “Há 20 anos, eu tinha 1% de chance. Como que meu pai, que era um cara que andava numa Kombi velha, poderia me colocar no mundo do rali, que é um esporte altamente caro? Mas eu acreditei, sonhei e consegui. É um amor que não tem fim.”

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Olho no Dakar
A vitória no Rally dos Sertões não é motivo de relaxamento para Matheus, que ainda busca conquistas maiores. “Sou muito focado no rali e muito sonhador. Então, quero conquistar mais. Não acabou por aí”, garante. No curto prazo, o navegador planeja correr o South American Rally Race (Sarr), na Argentina, no início do ano que vem. Por ter vencido o Rally dos Sertões, ele ganhou a inscrição na prova argentina. Mas, a longo prazo, o sonho é disputar o maior rali do mundo. “Depois, quem sabe, posso sonhar com o Rally Dakar.”

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