Desbravar águas desconhecidas. É o que a ultramaratonista juiz-forana naturalizada portuguesa Mayra Santos, radicada na Ilha da Madeira, em Portugal, pretende fazer. A atleta irá participar, de 12 a 18 de agosto, do Campeonato Mundial de Natação no Gelo, que será realizada na região de El Calafate, na Patagônia, no extremo sul da Argentina. Acostumada a provas longas e em águas quentes, a atleta enfrentará um desafio inédito em sua carreira. À Tribuna, Santos explica como vem se preparando para essa dura missão.
Apesar da importância da competição, Mayra explica que o Mundial não estava previsto em seu planejamento. “Recebi um convite inesperado para poder fazer esse campeonato e agora estou nessa correria para me preparar no gelo, porque não tem águas geladas aqui na Ilha da Madeira, para estar minimamente preparada e alcançar mais esse feito histórico, porque será a primeira pessoa com cidadania portuguesa a conseguir uma medalha no Mundial de Natação no Gelo. Vou representar Brasil e Portugal na Argentina com distinção e, se Deus quiser, trazer, quem sabe, uma medalha”, relata Santos.
Peixe fora d’água
O Campeonato Mundial de Natação em Gelo apresentará a Mayra um cenário inédito em sua carreira como ultramaratonista aquática: provas de velocidades em águas extremamente geladas. Apesar de precisar mudar seu estilo radicalmente e em pouco tempo, a juiz-forana afirma que ainda não se prepara exclusivamente para esse desafio.
“Eu deveria estar me preparando fisicamente, colocando o meu coração mais acelerado neste momento, pois esse tipo de prova exige um ritmo rápido. Porém, dentro de uma semana, vou ter um grande desafio, que será nadar 60 quilômetros na Ilha da Madeira. Ou seja, vou sair daqui quente e vou desinflamar durante o Mundial, sem tempo a perder. Estou encarando esse desafio dessa forma”, explica.
Sabendo do pouco tempo que terá para se preparar fisicamente, Mayra aposta na sua força mental para encarar a competição. “Acho que é isso que vai me levar a outros patamares, me levar a descobrir que consigo superar outro tipo de limite que não tenho tanto controle assim. Eu estou levando meu corpo ao extremo. Mas tudo na vida é uma experiência, preciso experimentar isso. Me sinto preparada pra começar agora neste grande desafio e acho que a Patagônia, pertinho do Brasil, nossos vizinhos e nossos irmãos, seria um excelente lugar pra começar”, avalia a ultramaratonista.
O plano inicial de Mayra é participar de seis provas durante os sete dias de competição: 25 m, 50 m, 100 m, 200 m, 500 m e 1.000 m. A programação pode ser alterada a depender do desempenho e da resposta que o corpo da juiz-forana dará após passar por situações atípicas. Por ser um tipo de prova diferente do habitual para ela, a ultramaratonista encara o Mundial sem pressão por grandes resultados.
“Estou saindo completamente da minha zona de conforto, que é experimentar o gelo. Tenho esperanças de trazer alguma coisa sim, sendo sincera, mas não me coloco muita pressão, porque infelizmente não tenho essa preparação. Estarei acabando de sair de uma prova de grande resistência, em que vou nadar 20 horas, e ir pro gelo, para nadar provas curtas e rápidas. Acho que essa prova vai ser uma superação pessoal e mostrar que sou capaz de também me ver em outros estilos”, avalia.
Ajuda para viagem
Por ter decidido de última hora a participar do campeonato, Mayra não conseguiu arrecadar fundos suficientes para custear a viagem a tempo e, apesar de ser reticente à ideia, criou uma vaquinha para arrecadar 5.500 euros, próximo de R$ 33 mil.
“Os custos são altíssimos para sair da Europa e ir para a Argentina. Vou levar 30 horas pra chegar na Patagônia, que é quase o fim do mundo. Primeiro faço uma conexão em Buenos Aires, depois tenho que apanhar um outro avião para ir para El Calafate. É uma prova de superação para mim e eu não queria perder. Então pedi ajuda, e toda ajuda que vier vai ser muito bem-vinda. Confio muito em Deus e na minha própria preparação e nós vamos conseguir, se Deus quiser, trazer essa experiência diferente e provar que não existe impossível para nada”, relata.
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*Estagiário sob supervisão do editor Gabriel Silva