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Rogério Costa: a corrida como meio de transformação

rogerio costa interna editada by couri
“O esporte me tirou do caminho que não é o melhor, que uma pessoa não deve seguir” (Foto: Felipe Couri)
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“Bato palmas para o Rogério, ele venceu”. É assim que o corredor Rogério Costa responde quando perguntado sobre o que diria ao seu eu do passado. Nascido morador do Bairro Santa Luzia, Zona Sul, quando jovem ele cresceu com intensa criminalidade ao seu redor. Viu amigos ingressarem em caminhos perigosos, mas o esporte, através de um projeto social, o fez enxergar que poderia ter uma trajetória de sucesso. Hoje corredor há quase 20 anos, o também formado em Educação Física é o personagem do quarto episódio da série original da Tribuna de Minas “Qual é o Seu Corre?”, que conta a história de um atleta de Juiz de Fora a cada etapa do Ranking de corridas de rua da cidade.

Neste domingo, a partir das 8h, acontece a 1ª Corrida Seven Incorporadora, válida pela 4ª etapa do Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora. A largada será em frente à loja da Seven Incorporadora, perto do trevo de acesso do Carrefour. Além da corrida, com percurso de 6,1km, haverá também uma caminhada de 3,5km. Segundo a organização do evento, serão 1.100 corredores.

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“Esporte é transformação”

A história de Rogério no esporte se inicia para “sair da rua”, em suas palavras. Com 13 anos, ele conheceu um projeto social de lutas em Santa Luzia. Por estar acima do peso naquele momento, ao mesmo tempo em que ingressou nas artes marciais, ele começou também a correr. Em um período em que viu vários amigos entrarem para a criminalidade, Rogério enxergou nas atividades físicas uma luz para sua vida.

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“O projeto foi bem acolhedor, fez a diferença. Me encaminhou para o esporte que eu pratico e para a minha profissão, realmente um passo determinante para o meu futuro. Carrego todos – principalmente a Rose, professora que me deu a iniciação -, para o resto na minha vida”, agradece Rogério. “É muito difícil estar no meio e não fazer parte dele. Por isso, o esporte é transformação. Me tirou do caminho que não é o melhor, que uma pessoa não deve seguir. Ele me transformou e me tornou um homem”, afirma.

“Fico muito feliz por todos esses anos representando Juiz de Fora e todo mundo que torce por mim” (Foto: Felipe Couri)

12 anos de Ranking

Concomitantemente em que revezava nas profissões de mestre de obras, pintor, balconista e vendedor de balas no sinal, Rogério disputava o Ranking de Corridas de Rua da cidade. Ele marcou presença nas edições de 2004 a 2010 e de 2017 até o momento. Nos anos em que não participou, estava na área militar, quando, inclusive, realizou uma expedição para o Haiti. “Antes, havia muito preconceito. O corredor era taxado como vagabundo, como alguém que corria na rua. Falavam para a gente ir estudar ou trabalhar”, relembra.

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Mas conforme Rogério, essas barreiras foram começando a serem quebradas com a proliferação do conhecimento sobre o Ranking. “A disputa traz o acolhimento para a população, muitas crianças iam e vão assistir à corrida. Hoje em dia, as provas são bem maiores, existe muita dificuldade em organizá-las, é muito burocrático por ter alcançado tal magnitude. Mas ainda existe uma divulgação e uma visibilidade boa”, analisa.

Muay thai como aliado

Junto com a corrida, Rogério participa de competições de muay thai, além de ser professor da modalidade. Ele segue nessa missão pelo seu irmão, que ficou cego por causa de uma luta que teve. “As artes marciais vieram para complementar a corrida na disciplina, no respeito e no foco. Tem contato, é dolorido. Tem que passar por coisas que fortalece a parte mental, que ajuda na corrida. Um completa o outro”, acredita.

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Pelo seu porte, condicionado ainda mais pelos treinos de força do muay thai, Rogério busca, nas corridas, compensar a musculatura com um bom condicionamento físico. “É minha natureza ser mais forte, mas não me atrapalha. O peso é uma carga para o corredor, mas me dedico para suportar. Fiz adaptações durante todos esses anos para correr bem e ter um bom rendimento”, explica.

Dificuldades e metas

Com treinos diários de 2h a 2h30 e um total de 120km percorridos semanalmente, seja na beira do Rio Paraibuna, na Via São Pedro ou na Estrada da Lagoa, Rogério conta que busca ser um dos melhores do Brasil na modalidade. “É um desafio diário. Cada momento que você passa ali, é uma dificuldade diferente. Precisa de muita concentração, porque a melhora não vem de um dia para o outro, só com anos de trabalho. Isso foi mexendo comigo, trazendo vontade e gana de estar sempre treinando e aperfeiçoando”, entende.

Desde 2018, Rogério participa também de maratonas, as quais tem sido seu foco recentemente. Mesmo que não tenha participado das provas longas na pandemia, o atleta vê que já teve muita evolução. Com um tempo recorde de 2h39min, ele ainda não está satisfeito. “Quero baixar ainda mais essa marca. Sei que é difícil, não tenho incentivo, preciso conciliar meu tempo com trabalho e família, mas treino para chegar. Não deixo me abalar, venho pesquisando, me formei em educação física para saber mais. Fico muito feliz por todos esses anos representando Juiz de Fora e todo mundo que torce por mim. Já estou fazendo uma preparação para 2024, quando faço 20 anos de atletismo”, projeta.

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