Símbolo de paz entre os povos, desde 1928 a tocha olímpica percorre os pontos turístico dos países-sede dos jogos. Em 2016, entre os 12 mil atletas e convidados que carregaram a tocha pelo Brasil afora estava o maratonista e recordista mundial Ronaldo da Costa. Hoje, o atleta natural de Descoberto – cidade com menos de 5 mil habitantes na Zona da Mata mineira, próximo a São João Nepomuceno – rifa sua réplica da tocha para arrecadar fundos para dois projetos sociais que apadrinhou na região de Brasília (DF), onde mora desde 2012. Seu objetivo é arrecadar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil que serão convertidos em materiais para o Clube dos Descalços, do Instituto Joaquim Cruz no município Águas Lindas de Goiás, e o CE3 (em Ceilândia) que, juntos, atendem a pelo menos uma centena de crianças e adolescentes.
Recordista da Maratona de Berlim em 1998, Ronaldo foi o último não-africano a quebrar o recorde no país europeu. Até hoje, nenhum outro brasileiro ou sul-americano foi capaz de bater seu tempo, que já dura 20 anos. Sem ser capaz de contar o número de medalhas que acumula, Ronaldo diz que é a primeira vez que decide rifar uma de suas lembranças no atletismo. “Além de ser padrinho do Clube dos Descalços, eu trabalhava no alto rendimento como assistente-técnico no Programa Rumo ao Pódio Olímpico e tinha uma ligação com os professores e a garotada. Depois das Olimpíadas Rio 2016, as coisas começaram a desandar porque o projeto tinha parceria com a Caixa Econômica Federal e ele está para acabar. As crianças e jovens precisam da gente, acabamos pegando amor, uma ligação forte”, conta. No próximo mês, Ronaldo deve se reunir com os responsáveis pelos projetos para definir a destinação do dinheiro arrecadado.
A rifa no valor de R$ 10 será sorteada em 13 de julho pela Loteria Federal. Quem quiser colaborar deve entrar em contato pelo whatsapp (061) 98431-9111 ou pelo Instagram.
Sem remorso
Quase três anos depois de ter guiado a tocha olímpica pelas ruas de Bicas, cidade vizinha a Juiz de Fora, Ronaldo ainda se lembra do sentimento que teve naquele momento. “Eu estava do lado da minha cidade, minha filha e meus amigos foram me ver, foi maravilhoso”, relembra. Mesmo que a tocha olímpica represente uma boa memória para o atleta, que já disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, Ronaldo afirma não sentir remorso em se desfazer do presente. “Eu fiquei feliz de carregar a tocha em 2016 por ter sido lembrado, mas fui contra ter as Olimpíadas no Brasil, porque o que adiantou termos as Olimpíadas? Que legado deixaram? Só deixaram dívidas para pagarmos, muitos ganharam dinheiro, e os atletas não receberam apoio. Tirando o futebol, para os outros esportes as coisas estão muito ruins. Não tenho remorso, estou fazendo o bem para o próximo.”
20 anos de história
Já havia dez anos que o último atleta quebrara o recorde mundial quando o brasileiro Ronaldo da Costa completou os 42km em 2h6min5s pelas ruas de Berlim, em 1998. Ronaldo tinha 28 anos quando conquistou o feito, e a memória daquele dia permanece viva como se tivesse acontecido ontem. “Eu sabia que conseguiria fazer uma marca boa, fui para bater a sul-americana, não fui para bater a mundial. Mas, pelo treino que fiz no Rio e em Minas, estava muito bem preparado. Faltando mais ou menos uns dois quilômetros (para terminar a maratona) falei: se conseguir correr bem, bater essa marca e ser recordista mundial, dou duas estrelas no final, e deu certo”, relembra. Ano passado o atleta teve a oportunidade de retornar à capital da Alemanha através de reportagem da Rede Record. Lá,
Ronaldo correu novamente a maratona, foi homenageado no Hall da Fama e ovacionado por pessoas que o reconhecem. “Para mim foi a maior emoção da minha vida. Fui para relembrar a maratona, e corri inclusive, claro que não foi como era antes. Também recebi uma estátua de cera que não esperava. Não tem como explicar, fiquei muito feliz”, destaca.
Apesar da grandiosidade do recorde, o corredor diz que sua maior conquista pessoal foi em território nacional: vencer a Corrida de São Silvestre em 1994, aos 24 anos de idade. “Para mim foi um momento maravilhoso e mais emocionante do que vencer em Berlim e ser recordista mundial. Porque ganhei uma corrida famosa dentro do meu país, onde tinha nove anos que um brasileiro não ganhava.”
Começo despretensioso na adolescência
A trajetória do atleta começou em sua cidade natal ainda na adolescência e sem qualquer pretensão. “Comecei na corrida assim: vi um cartaz de corrida na porta da Prefeitura de Descoberto, um rádio a pilha e prêmio de 500 cruzeiros. Eu nem sabia o que era corrida, gostava de futebol e capoeira. Aí falei ‘vou correr essa corrida, quem sabe’, fui o primeiro colocado geral, e dali começou a minha história.” De lá, Ronaldo passou a participar também de eventos em Juiz de Fora, no fim da década de 1980, onde competiu ao lado de atletas que se tornaram suas referências. E, claro, subiu em vários pódios. “Corria a prova do Ranking, fui quatro vezes campeão da Corrida da Fogueira, corri em vários bairros. Juiz de Fora já tinha atletas de nome, como Geraldo de Assis. Quando a turma corria, eu estava começando ainda e tinha respeito, dava dor na barriga de correr com esses caras, e de repente estava todo mundo correndo junto e eu estava ganhando deles.”
Para ele, tudo que desejara já foi conquistado, hoje o que o atleta busca é qualidade de vida. “Tenho vontade de correr uma ultra, me preparar para 50 km, 60 km para ver como é, sentir o gostinho.” Atualmente, Ronaldo da Costa viaja para palestrar e apadrinhar corridas pelo Brasil, além de participar de competições para se manter ativo. Graduando em educação física, o corredor pretende se dedicar a projetos sociais esportivos depois que se formar. “Quando a gente tem foco e dedicação, você pode vencer todos os obstáculos da vida e é isso que eu quero passar para a nova geração.”