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Relembre o Manchester, time que surgiu da união dos clubes de JF na década de 90

manchester by jairo editada
Time surgiu da união dos três principais clubes juiz-foranos (Foto: Jairo Souza/Jairo’s Fotos)
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Imagine se três clubes profissionais de uma mesma cidade decidissem se unir para formar somente uma equipe. Foi isso que aconteceu em 1994 em Juiz de Fora. Sport, Tupi e Tupynambás juntaram suas forças e se transformaram na Cooperativa Manchester. Na terça-feira (27), a estreia oficial do time completa 30 anos – a empreitada durou apenas dois anos. A vitória por 1 a 0 contra o Flamengo de Varginha, com gol de Roninho, em jogo da Supercopa Minas – equivalente ao Módulo II do Campeonato Mineiro – foi assistida por 2.030 torcedores no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio.

Nesse primeiro ano em campo, o Manchester conseguiu o acesso para à elite mineira no primeiro semestre, sendo vice-campeão. Disputou a Série C do Campeonato Brasileiro no segundo, mas acabou eliminado ainda na primeira fase. Em 1995, a agremiação participou da principal divisão da competição estadual, porém, foi rebaixada com somente três vitórias em 22 jogos. Já em 1996, por conta de falta de empresas interessadas e divergências políticas, os times se separaram e o projeto sucumbiu.

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Para relembrar a breve existência do Manchester, a Tribuna buscou em seu acervo matérias antigas do clube e entrevistou os atletas Alexandre, Gomes, Merica e Roninho, além do preparador físico à época e hoje secretário de Esporte e Lazer, Marcelo Matta.

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Primeiro jogo

O primeiro jogo do Manchester em Juiz de Fora foi no campo do Sport, em um amistoso contra o Cruzeiro, terminado em 0 a 0. Mas foi no dia 27 de fevereiro de 1994 que a Cooperativa estreou oficialmente, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, contra o Flamengo de Varginha, pela segunda rodada da Supercopa Minas. Na rodada inicial, o time havia perdido para o Passos, fora de casa, por 2 a 1, mas se recuperou em seus domínios com uma vitória por 1 a 0. Quem se lembra muito bem dessa partida é o autor do gol do triunfo, Roninho.

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“O Merica bateu o escanteio, eu ia no primeiro pau só dar uma casquinha para trás para os zagueiros chegarem cabeceando, mas ela saiu baixa e chutei de letra. Deu certo, uma jogada ensaiada que não foi da forma que deveria, mas que terminou em gol. Um golaço, que ficou bem marcado na memória”, narra. “Sempre carreguei isso comigo, comento com os amigo, levanto a mão e falo que fui o primeiro a marcar pelo Manchester”, diz o atacante, também ex-Tupi e Sport.

Autor da assistência, Merica relembra que a expectativa dos torcedores da cidade era grande. “Montamos um time forte com jogadores dos times de Juiz de Fora e outros experientes do Rio de Janeiro. O clima era o melhor possível, éramos unidos e a população abraçou. Me sinto muito honrado de ter marcado meu nome na história da cidade”. Zagueiro e capitão, Alexandre era da base do Vasco, mas decidiu ir para o Manchester. “Nos ofereceram uma estrutura excelente, tínhamos vários campos para treinar. O dormitório do Tupi era bom e o pagamento era em dia”, recorda.

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Na oportunidade, o Manchester jogou com Rodolfo; Dário, Cléver, Alexandre e William; Vítor, Beloni e Zanon (Pião); Merica, Roninho e Denilson (Marcos Santos). O treinador era Paulinho de Almeida, conhecido por ser “linha dura”, como fala o capitão Alexandre. “Era muito rígido, é daqueles treinadores antigos, mas que sabiam muito de futebol”. No decorrer da campanha, ele foi substituído no comando técnico por Edinho, que era preparador físico no clube.

Esperança dos torcedores e fato inusitado

Quem também esteve no clube é o juiz-forano Marcelo Matta, na época, preparador físico. “Foi uma mistura de sentimentos, algo novo na cidade. Tinha uma expectativa daquilo dar certo e criar uma equipe de Juiz de Fora forte que representasse a cidade. Na minha leitura, aquilo mobilizou os amantes do futebol”. A visão de Roninho é parecida. “Tínhamos consciência da grandeza do futebol mineiro. Ficamos muito entusiasmados com a ideia de fusão e queríamos seguir no clube. Lembro bem que, nessa época, foi um comentário geral na cidade, futebolisticamente falando. Muitas vezes nos perguntavam do projeto, tinham curiosidade de saber. Nos treinamentos, muita gente ia ver. A cidade abraçou”.

Além de jogadores de Tupi, Tupynambás e Sport, o Manchester trouxe atletas de renome, como o volante Vitor, ex-Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. “Ficamos até apreensivos porque ele era conhecido nacionalmente. Ele ajudou todos nós, que não tínhamos convívio com esses grandes atletas. Foi muito importante o contato com ele, tivemos muito apoio na questão de experiência”, elogia Roninho.

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O meia Merica também fala que o apoio da torcida era grande, e diz que um momento inusitado ficou em sua memória. “No último jogo nosso em Rio Branco, o empate servia para os dois subirem. Abrimos 1 a 0, eles viraram, a gente empatou por 2 a 2 e, depois disso, ninguém mais jogou. O presidente deles entrou em campo, brigou com os jogadores. Foi um fato engraçado.”

Neymar pai contratado

Neymar pai com Neymar Jr., quando atuou pelo Manchester em 1994

Depois do acesso à Primeira Divisão do Mineiro no primeiro semestre de 1994, o Manchester disputou a Série C do Brasileiro no mesmo ano. O time estava na lanterna do Grupo 5 quando contratou o ponta-direita Neymar, pai do astro Neymar Jr. Antes no interior do futebol paulista, ele estreou pela agremiação juiz-forana contra o Vila Nova, no Estádio Municipal. Sua contratação partiu da indicação de um outro jogador, conforme relembrou o ex-presidente do Manchester à Tribuna, em 2018.

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“Convidei o Edinho, que me falou do Neymar. Contratei ele, assim como outros jogadores de São Paulo, mas jamais sonharia que o filho dele viria a se tornar quem é. O Neymar pai era marrento demais e ficou aqui no término do Campeonato, por cerca de duas semanas. Veio com a família”, disse Júlio Gasparette. Neymar atuaria quatro vezes pelo Manchester, sem gol marcado. O pequeno Neymar Jr., à época com 5 anos, comparecia aos jogos do pai.

Jogador do Manchester é inspiração para o filho

O zagueiro Gomes chegou ao Manchester em 1995, vindo da Segunda Divisão portuguesa. “Me fizeram uma proposta muito boa, iria jogar a Série A do Mineiro e achei interessante porque queria ficar na minha casa, que é Juiz de Fora. Não podia perder um projeto desse”, rememora o ex-jogador de Tupi e Baeta. Segundo ele, o Manchester foi uma equipe em que os jogadores tinham “tudo do melhor” para entrar em campo.

“Sinto saudades. Era alimentação, treinamento, material, concentração, viagem boa, tudo. Eu cobrava muito dos atletas, porque com as condições que tínhamos, precisávamos chegar e vencer. Foi muito interessante, porque as torcidas dos times estavam acabando, não tinha renovação, sem ser a do Tupi. Acreditávamos naquele projeto, e que os empresários iam dar uma força”, afirma o ex-atleta.

“Eu cobrava muito dos atletas, porque com as condições que tínhamos, precisávamos chegar e vencer” afirma Gomes (Foto: Felipe Couri)

Aposentado, Gomes vive o que já foi seu sonho com o filho João Lucas, atacante de 11 anos. Atleta do Centro de Futebol Zico, ele foi artilheiro de todas as competições que disputou em Juiz de Fora no ano passado – como a Copa Prefeitura e a Alta Malícia. O pai tenta passar sua experiência ao ‘cria’. “Falo para ele que tem que se dedicar, não é fácil, precisa ter muito controle emocional. São muitos fatores, mas estamos colocando ele no caminho. Espero que ele bata muitas fotos e de muitas entrevistas ainda”.

Garoto carismático e emotivo, João Lucas mostra o orgulho que tem pelo pai. “Quando eu era menor, olhava para os troféus dele e queria ter uns iguais. Hoje já tenho minhas conquistas e quero ir para frente para fazer cada vez mais”. Além de querer trilhar o mesmo caminho do pai em campo, ele pensa em segui-lo também após a carreira, como professor de educação física. “Meu amor pelo meu pai é muito grande, não tem nem como explicar”, reforça o menino, antes de desabar no choro – seguido pelo abraço de Gomes.

Início e fim do Manchester

Segundo o livro “Educação Física: memórias e narrativas em Juiz de Fora”, organizado por Carlos Júnior, Edna Martin e Lídia Zacarias, o pontapé inicial para a criação do Manchester foi em um seminário de futebol realizado pelo Instituto Granbery da Igreja Metodista, no final de 1992. Entre os participantes do evento estava o então presidente do Paraná Clube, Darci Piana, que relatou uma experiência inédita no futebol: a fusão entre o Esporte Clube Pinheiros e o Colorado Esporte Clube. Eles se uniram em patrimônio, recursos financeiros e humanos, para criar uma equipe forte que poderia disputar, com chances de vitória, campeonatos estaduais e nacionais. Dessa forma, foi criado o Paraná Clube que, até pouco tempo, se manteve entre os principais times do país.

Empolgado com a ideia, o então presidente do Sport Clube, Júlio Gasparette, presente no seminário, decidiu implantar o projeto em Juiz de Fora. Convidou alguns profissionais da cidade e, junto com Tupi, Tupynambás, Prefeitura Municipal e UFJF, iniciou o trabalho de formação de um único representante da cidade nas competições de futebol profissional. Em 1994 nascia a Cooperativa Manchester de Futebol Profissional. Seu primeiro compromisso foi a disputa da Série B do Campeonato Mineiro, sob o comando do técnico Paulinho de Almeida que, dois meses depois, foi substituído por Edison Peixoto (Edinho). Foi um ano vitorioso. Em sua primeira participação, o Manchester terminou o campeonato em segundo lugar e conquistou o direito de disputar, em 1995, a elite estadual.

Porém, a experiência na Primeira Divisão não foi positiva. O time foi rebaixado para a Segundona de 1996, no momento em que os diretores decidiram acabar com o projeto. Na visão de Gomes, “demoraram muito nas contratações. Saíram muitos (jogadores) e chegaram poucos de nível”. Já o ex-preparador físico, Marcelo Matta, analisa que “interesses políticos e partidários acabaram com o clube, além de falta de patrocínio”.

Qual visão o Manchester deixou?

Para alguns, a impressão deixada pelo Manchester foi positiva, enquanto outros consideram que a experiência foi negativa. A questão de um possível retorno da união de Tupi, Tupynambás e Sport diverge opiniões. Seja pela questão da rivalidade e das torcidas, seja pela descrença em um clube com tantos diretores.

No entendimento de Roninho, uma união seria interessante. “Agora, de maneira diferente, com mais profissionalismo. Sigo acreditando e achando que Juiz de Fora merece ter uma grande equipe. Já presenciei cidade com muito menos aporte e com grandes equipes no cenário nacional”. De forma contrária, Gomes acha que a união seria improvável porque o projeto ficou desacreditado pelo jeito que terminou. “Em Juiz de Fora, todo mundo precisa abraçar o Tupi e criar uma base. A cidade não tem um time de base, são só escolinhas, não é treinamento de alto rendimento”, analisa.

*Sob supervisão do editor Gabriel Silva

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