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O russo mais brasileiro da Copa

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Gazeta Press 

A 9 mil quilômetros de casa, jogador cearense Ariclenes da Silva Ferreira faz carreira como jogador na Rússia. (Foto: Reprodução)

Nascido em Fortaleza e há sete anos na Rússia, o atacante Ari pode defender a seleção anfitriã da Copa do Mundo de 2018. Ligação de Fabio Capello, puxão de orelha de Louis Van Gaal e aquisição de time da Série A, tudo isso faz parte da história do experiente jogar de 32 anos. Mais de 9 mil quilômetros separam Fortaleza, capital do Ceará, de Moscou, capital da Rússia. Além da considerável distância, as duas cidades também são diferentes em diversos aspectos. Enquanto Fortaleza possui algumas das praias mais visadas por turistas estrangeiros, Moscou é conhecida por seu clima gélido, muitas vezes abaixo de 0ºC. Quem poderia imaginar, então, que um cearense nascido em Fortaleza faria da Rússia sua casa, e, de quebra, vestiria a camisa do país em uma Copa do Mundo?

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A curiosa história faz parte da trajetória de Ariclenes da Silva Ferreira, conhecido no mundo do futebol como Ari, ou “Arigol”, e que hoje é um típico “russo”. Vivendo há mais de sete anos no país conhecido pela produção de bebidas destiladas e pela revolução russa, Ari conseguiu o que poucos jogadores brasileiros tiveram o privilégio: um passaporte russo e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, vestindo as cores do país anfitrião.

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“Sempre tive o sonho de ser jogador profissional, de dar entrevista, jogar no Flamengo, ir para a Europa, jogar na Seleção Brasileira… estou há oito anos na Rússia, não consegui chegar no Flamengo, mas cheguei na Europa. Trilhei um caminho muito bacana. Agora tenho a possibilidade de jogar uma Copa pela Rússia”, comentou Ari, em entrevista exclusiva à Gazeta Press.

Quando atendeu ao telefonema da Gazeta, com a voz ainda embargada por conta da diferença de fuso horário que existe entre o Brasil e a Rússia – Moscou está cinco horas à frente do horário de Brasília, Ari parecia tropeçar nas palavras da língua portuguesa. Afinal, são praticamente oito anos em solo russo, adaptado a outra cultura, língua e costumes. Com o decorrer da entrevista, no entanto, o atacante brasileiro de 32 anos volta ao fluente português, e passa a contar sobre sua inusitada carreira.

De Fortaleza para Suécia, Holanda e Rússia

Artilheiro e campeão do Campeonato Cearense de 2005, Ari deixou o Fortaleza, clube que o revelou para o cenário nacional, em 2006, quando se aventurou no Kalmar, equipe da Suécia. Em seguida, atuou no AZ Alkmaar, da Holanda, por três temporadas, e lá conquistou o campeonato nacional da temporada 2008/09. Foi em 2010, somente cinco anos após ter dado os primeiros passos como jogador profissional, que Ari se viu jogando no futebol russo.

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“Caso consiga esse objetivo (disputar a Copa pela Rússia), será um dos sonhos realizados. Chegar num país como a Rússia, se adaptar ao futebol, a cultura daqui, não é nada fácil. É tão frio, com tanto trânsito, uma cultura totalmente diferente do Brasil. É inexplicável. É o sonho de qualquer atleta. Acredito que com trabalho ainda posso alcançá-lo. O primeiro passo foi dado. O resto é consequência”, afirmou Ari.

E o primeiro passo, destacado pelo jogador, teve início em 2013, quando o técnico italiano Fabio Capello, campeão da Liga dos Campeões sob o comando do Milan na temporada 1993/94, fez um convite ao atacante brasileiro: naturalizar-se russo e defender a seleção local. A indicação de Ari foi feita por um companheiro russo dos tempos de Krasnodar, mas o convite veio da boca do próprio treinador italiano.

“Tinha um jogador russo capitão da seleção que tive o prazer de jogar ao lado no Kraznodar, era o… nome russo é complicado… Roman Shirokov. Por meio dele veio o recado do Fabio, e ele passou meu número de telefone. Como o Capello fala espanhol, me ligou diretamente, e perguntou se eu gostaria de defender e ajudar a seleção naquele momento, que não era muito bom. Falei: ‘claro, seria um prazer jogar pela seleção’. Mas aí, infelizmente, ele foi mandado embora”, relatou Ari.

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Após a conversa com Capello, e sem pensar que, no futuro, o italiano seria demitido do cargo de técnico da Rússia, Ari deu entrada no processo para receber o passaporte do país. Anos depois daquela marcante conversa com o treinador italiano, o cearense finalmente recebeu o documento. “Dei o primeiro passo para viver no país sem visto. Passei nos testes, agora é esperar o passaporte chegar, o que deve demorar uns três meses”, contou o emocionado brasileiro, que agradece a participação do Lokomotiv Moscou, seu atual clube, no processo.

Potencial

“No período do Kraznodar não fizeram nenhuma questão de me ajudar com o passaporte. (No Lokomotiv) Foi tudo diferente. Além de acreditarem no meu futebol, no meu potencial, me ajudaram com o passaporte”, acrescentou. Apesar de ter a possibilidade de vestir a camisa da Rússia e jogar sua primeira Copa do Mundo aos 32 anos, Ari ainda mantém os pés no chão, muito por conta de não ter recebido nenhum contato da nova comissão técnica do país. “Não, ainda não. Ninguém veio atrás para saber como está minha situação. Como falei, estou muito feliz por pegar o passaporte. A vontade de jogar pela seleção ainda é grande. É trabalhar para buscar meu objetivo”, disse.

Além de Ari, a seleção da Rússia pode ter outros dois brasileiros vestindo suas cores na Copa do Mundo. O goleiro Guilherme, com passagem pelo Atlético Paranaense, e o lateral Mário Fernandes, que no Brasil atuou pelo Grêmio, mas está há mais de cinco anos no CSKA Moscou. Ambos os jogadores já foram convocados para defender o país em jogos anteriores.

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