Vitória histórica do Tupynambás à parte, o clássico Tu-Tu foi recheado de polêmicas nos bastidores, na noite da quarta-feira (23), no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, e virou caso de polícia. Os 5 mil ingressos colocados à venda foram esgotados, deixando dezenas de torcedores insatisfeitos do lado de fora do palco nos dois portões. Entre os 25 e os 30 minutos do primeiro tempo, fãs do Tupi que pressionavam a entrada do Bairro Dom Orione por não terem conseguido comprar seu ingresso acabaram liberados para acompanhar a partida sem comprar o bilhete ou mesmo passar por revistas. O assunto repercutiu nas redes sociais.
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De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, durante patrulhamento, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, foi verificado pelos militares que, após o fim dos ingressos colocados à venda nas bilheterias para a partida, houve insatisfação geral entre os torcedores. Segundo o documento policial, eles passaram a forçar a entrada do portão principal do estádio, sendo contidos por seguranças e policiais.
Do lado de fora, na entrada principal do Estádio, uma concentração de torcedores que não conseguiram comprar ingresso. pic.twitter.com/ZOWO8G2qwV
— Tribuna de Minas (@tribunademinas) 23 de janeiro de 2019
A mesma situação também foi verificada pelos PMs no portão de acesso do Bairro Dom Orione, onde houve princípio de tumulto e a liberação da entrada sem coleta de ingresso, realização de busca pessoal e controle de material não permitido. Ainda conforme o boletim, duas testemunhas citadas no BO relataram que tal determinação teria sido autorizada pelo diretor comercial do Tupi, Bernardo Fortuna.
O diretor comercial do Galo Carijó foi ouvido pelos policiais responsáveis pelo registro policial e negou as versões das testemunhas. Ele também afirmou que em nenhum momento havia saído do camarote e que não tinha autonomia para liberação da portaria, uma vez que seu time era visitante na partida e que o mando de campo era do Tupynambás e, por isso, responsável pela liberação da entrada do público.
O boletim também informa que, devido ao grande tumulto que se estabeleceu em razão da liberação do portão de acesso do Bairro Dom Orione e a entrada desordenada, não foi possível para os militares a identificação, qualificação e prisão das pessoas que ingressaram no estádio sem pagar e sem serem submetidas a busca pessoal. O documento também constou que, durante as vistorias ao longo da partida de futebol, foi verificado o consumo de bebida alcoólica fora dos locais determinado conforme a lei vigente, sendo os responsáveis orientados.
A Tribuna entrou em contato com o diretor comercial do Tupi, Bernardo Fortuna. Ele disse que não teve acesso ao boletim de ocorrência e, portanto, optou por não se pronunciar. O Executivo de Futebol do clube, Alberto Simão, garantiu que a responsabilidade na entrada das pessoas é de função da PM e da segurança contratada, isentando os clubes. Questionado pela reportagem a respeito da afirmação de Bernardo, Cláudio Dias, vice-presidente de Futebol do Baeta, ressaltou a organização conjunta do clássico; no que diz respeito às bilheterias, o Tupynambás, segundo Cláudio, foi o responsável pela contratação do efetivo empregado no portão de acesso principal e, o Tupi, no portão de acesso do Bairro Dom Orione.
“O mandante do jogo foi o Tupynambás, mas foram feitas diversas reuniões, inclusive na presença do secretário de Esporte e Lazer, Júlio Gasparette, onde ficou definido que tudo seria feito em comum acordo entre os dois clubes, neste ano e no próximo. Em 2019, o Tupynambás é oficialmente o mandante, mas todas as ações foram divididas meio a meio. Isso é uma coisa que precisa ser esclarecida”, pontuou. Conforme Cláudio, o Baeta contratou a Liga de Futebol de Juiz de Fora (LFJF) para administrar a entrada principal, de responsabilidade do clube. “O Tupynambás não autorizou a abertura de portão do Dom Orione. Se houve alguém que autorizou a abertura do portão, foi alguém do Tupi”, completou.
Em caso de possíveis punições no âmbito do Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais (TJD-MG), Cláudio afirmou que utilizará a LFJF e a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) como testemunhas. “O Tupynambás não autorizou nada. Nós vamos explicar isso à Federação caso tenhamos que nos defender. Inclusive, a gente vai por como testemunha a LFJF e a SEL, que participaram de toda a negociação para a divisão de tarefas na organização do clássico.”
PM constata consumo de bebida alcoólica fora dos locais determinados
O boletim também informa que, devido ao grande tumulto que se estabeleceu em razão da liberação do portão de acesso do Bairro Dom Orione e a entrada desordenada, não foi possível para os militares a identificação, qualificação e prisão das pessoas que ingressaram no estádio sem pagar e sem serem submetidas a busca pessoal. O documento também constou que, durante as vistorias ao longo da partida de futebol, foi verificado o consumo de bebida alcoólica fora dos locais determinados conforme a lei vigente, sendo os responsáveis orientados.
A Rádio CBN entrou em contato com a major Williana, da Polícia Militar, que pediu a reportagem para procurar a organização do evento. A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por meio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), lembrou que realizou “reuniões nos 90 dias que antecederam o jogo, com os clubes Tupynambás e Tupi, sobre a partida. Visto que, questões sobre bilheteria, ingressos, dinheiro, catracas e entrada de torcedores são de responsabilidade do clube mandante da partida, coube à Secretaria orientar e sugerir ações sobre a posição das torcidas, com abertura da arquibancada vermelha para a torcida do Tupi e da arquibancada abaixo das cabines de imprensa, para a do Tupynambás. Também foi sugerido que fosse disponibilizado um número maior de ingressos. No entanto, o acordo das equipes foi diferente. A responsabilidade da Prefeitura/SEL tem relação com a estrutura, entregando o Estádio Municipal em condições de jogo.” Ao todo, 5 mil bilhetes foram comercializados desde a segunda-feira. A carga foi definida em acordo entre os clubes, em reunião de plano de ação da partida.
Camarote gera reclamação
Paralelamente aos problemas com a falta de ingressos, os torcedores do Tupi questionaram a instalação de um camarote do clube no setor vermelho das arquibancadas, mais espaçoso que o azul, destinado à torcida do Galo. No camarote, dezenas de convidados do Carijó assistiram o clássico das arquibancadas vazias. Um vídeo que circula na internet mostra um torcedor filmando o momento do gol do Baeta e comemorando, mesmo no camarote alvinegro. Questionado sobre o posicionamento do torcedor no setor azul e não no maior, o vermelho, o diretor de marketing do Tupi, Diogo Garcia, lembrou que o setor azul é o tradicionalmente destinado aos visitantes e que tudo foi acordado previamente.
Do lado vermelho, a iniciativa do Tupi também foi alvo de ironia por parte do Executivo de Futebol do Baeta, Alberto Simão. “As diretorias não tiveram vaidade, fizeram um planejamento bacana, foi uma festa linda, mas foi nítido que tinha uma equipe preocupada com o jogo e outra com o camarote. A gente respeita, cada profissional sabe onde quer chegar, e a nossa responsabilidade é manter o Tupynambás na primeira divisão e tentar novos desafios, como a Série D do Brasileiro. Fico com a imagem da festa, e o Tupynambás deu o recado que chegou para ficar, com um projeto sério, um alicerce forte.”
Chub e confusão perto do vestiário
Como antecipado pela Tribuna, o atacante carijó Anderson Chub não treinou na véspera da partida e não foi a campo. Oficialmente, o Tupi afirma que o jogador resolve problemas particulares e também está fora do jogo contra o América, domingo. A tendência é que o atacante retorne aos treinos apenas na quarta-feira (30).
A tensão foi clara no ambiente carijó após a derrota. O diretor de futebol Nicanor Pires e o médico Leonardo Fortuna discutiram antes de entrar no vestiário e tiveram que ser separados por profissionais do clube. A confusão teria sido iniciada após uma cobrança a Nicanor, que negou a informação. “Ele não me cobrou nada, até porque se a gente for analisar cargo, não compete a ele nada sobre o futebol. Mas está tudo resolvido, foi uma questão do jogo, no calor do momento. Somos grandes amigos desde antes do Tupi. Criamos uma amizade linda e está tudo certo.”
Liderança
Segundo as informações do pesquisador e professor Léo Lima, Tupynambás e Tupi haviam se enfrentado quatro vezes na história em duelos válidos pela primeira divisão do Campeonato Mineiro. Nessas oportunidades foram três vitórias do Galo e um empate. Com isso, o triunfo que levou o Baeta à liderança na segunda rodada do Estadual, com 100% de aproveitamento após 6 pontos disputados, também fica para a história como o primeiro sucesso do Leão do Poço Rico diante do rival alvinegro na elite do estado.