Pesando entre 70 e 75 gramas, a raquete é bastante diferente da utilizada no tênis. O cabo mais fino e longo, a face menor e arredondada, formam um conjunto que concilia velocidade e força para acertar a pequena peteca, formada por 16 penas de ganso, arremessando-a a quase 350km/h. Pouco familiar no país, o badminton, segundo esporte mais praticado no planeta, ainda dá os primeiros passos no Brasil, dependente de iniciativas pontuais, como o projeto desenvolvido em Juiz de Fora pelo Instituto Estadual de Educação, que já conquistou 70 praticantes para a modalidade. E não pára de crescer.
Méritos para a persistência da professora Rose Carnoute, que há quatro anos apostou no potencial de desenvolvimento do badminton entre os alunos do Instituto. “Já tinha visto algumas coisas na televisão e resolvi fazer cursos com o objetivo de sair do ‘quarteto fantástico’, que é futebol, vôlei, queimada e handebol. Comecei a implantar como conteúdo da educação física escolar. Cada vez mais, o interesse cresceu. Hoje tenho um projeto dentro da escola, envolvendo alunos, ex-alunos, funcionários e familiares”, comemora Rose Carnoute, que desde 2013 implantou as regras oficiais, ampliou a presença para além dos muros da escola e viu o interesse se multiplicar.
“Trabalho igual a uma louca, buscando patrocínio com o pires na mão. Apesar do trabalho que dá, eu estou muito satisfeita e empolgada. Consegui plantar uma sementinha que floresceu de uma maneira incrível. É tanta dedicação e amor que conseguimos implantar um esporte novo na escola. É muito gratificante a presença dos pais jogando com os filhos, professores com os alunos. Sempre fui muito realizada com a minha profissão, mas depois do projeto, superei minhas expectativas.”
Oportunidade
Entre as dezenas de praticantes envolvidos está Ysa Duarte, 17 anos. Cursando o segundo ano no Instituto Estadual de Educação, a aluna acompanhou de perto o crescimento do projeto. Acostumada a ajudar a professora Rose na organização da equipe durante os treinos e torneios, esse ano ela iniciou sua caminhada como atleta de badminton e se prepara para encarar a primeira competição fora da escola.
“Vai ser uma grande experiência, que vai ficar marcada na minha vida. É um esporte diferente, e isso me atraiu. Na nossa escola só tinha futebol, vôlei, peteca. Quando a professora levou, achei muito legal e comecei a jogar. Acabei gostando e me engajei nessa nova etapa, competindo fora da cidade”, relata Ysa, que vai formar dupla com Gabrielly Mota na terceira etapa Circuito Regional de Badminton, no próximo sábado, em Ewbank da Câmara. É o primeiro passo para quem acredita que o esporte pode ir além da diversão. “Talvez até como profissão. Aqui em Juiz de Fora são poucos os colégios que dão essa chance. Estamos indo tão bem que pessoas estão curiosas, querendo saber como chegamos, se temos vontade de disputar uma Olimpíada. Acho que pode ser uma boa oportunidade, além da diversão.”
Muito além da educação física
A chegada do badminton ao Instituto Estadual de Educação permitiu conquistas muito maiores que simples prática esportiva. Conforme o projeto crescia, histórias se cruzavam, e vidas foram transformadas. Foi o caso de Danyelle Alves, 12 anos. Atualmente cursando o sétimo ano, a estudante convive com uma deficiência que a impede de se relacionar normalmente com outras crianças. Mas vem evoluindo, segundo a família e a professora, e parte da solução já é conhecida: a prática do novo esporte trouxe uma realidade de vida diferente.
“A Danyelle era hostilizada na escola e respondia com agressividade. Através do esporte, a autoestima dela melhorou. Agora ela é uma medalhista! Ajudou na socialização, diminuiu a ansiedade e a agressividade. Ela era muito solitária, se sentia acuada e hoje conversa, participa. Ela joga muito bem. Virou até uma admiração. Foi muito bom”, avalia a professora Rose Carnoute.
E não só Danyelle foi conquistada pelo badminton. De tanto acompanhar a filha nos treinamentos ao longo de um ano, a mãe, Vera Lúcia Almeida, 41 anos, também passou a fazer parte do projeto. “Como eu a levava para os jogos e treinos, a professora perguntou se eu queria participar. Minha filha ficou muito motivada com a possibilidade. Aceitei e hoje estou na equipe, nós treinamos juntas. Ela tem muito orgulho disso. Ela tem uma deficiência, uma dificuldade para trabalhar em equipe. Com o badminton, ela entra em contato com outras crianças. Ela ama o badminton”, diz Vera, que no próximo sábado estreia em sua primeira competição.
Mãe e filha
Se o objetivo inicial da mãe era motivar a filha, o alvo foi acertado em cheio. “O que me deixa mais feliz é minha mãe jogar comigo. Ela joga muito. Tenho vontade de jogar em dupla com ela, mas somos de categorias diferentes. Talvez quando estiver mais velha. Fico orgulhosa demais de ver a minha mãe jogando”, afirma Danyelle.
Além da admiração por Vera, sobra gratidão por quem permitiu que o badminton mudasse a vida de tantas pessoas. “A professora Rose foi muito importante. Ela me deu a oportunidade da vida para participar. Me ensinou tudo. O que posso fazer, o que não posso. Quando jogo, penso em todo mundo do meu time. Estou muito animada para participar do campeonato. Eu vou lá para vencer (risos). Badminton é o meu favorito. Vou levar para o resto da vida.”